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Pets podem enganar humanos? Especialistas explicam vídeos de animais que fingem estar machucados

Registros de cães e esquilo que simulam morte ou atropelamento viralizaram recentemente nas redes sociais; fenômeno pode ser explicado por comportamentos ‘apreendidos’, no caso de animais domésticos

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Foto do author Sabrina Legramandi

Um cão que finge estar com a patinha machucada para receber carinho, um esquilo que simula a morte ao perceber a presença de humanos, uma cachorrinha que inventa ter sido atropelada para ser adotada. Recentemente, vídeos em que animais tentam “enganar” seres humanos viralizaram nas redes sociais, especialmente no TikTok.

Nos registros, tutores aparecem surpreendidos depois de terem sido “manipulados” por cãezinhos que gostam de receber carinho. Mas será que pets têm realmente a intenção de mentir para ganhar recompensas? Segundo o veterinário Mauro Lantzman, especialista em comportamento animal, não é bem assim.

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Lantzman explica que ações do tipo não têm relação com instintos dos animais, no caso dos domésticos. Elas derivam de comportamentos “apreendidos” e reforçados pelos tutores.

No vídeo acima, por exemplo, compartilhado pelo perfil Hermes_and_madi, o cãozinho “chora” como se estivesse com a pata machucada após um estímulo da tutora. O veterinário chama o comportamento de “modelagem”.

“Dependendo de como o tutor reage, ele vai reforçar esse comportamento. Mas ele pode se modificar ao longo do tempo – isso se chama modelagem”, diz. “Com isso, você pode chegar a comportamentos incríveis”, comenta.

Ele pontua que as ações que parecem “surpreendentes” para seres humanos partem de um processo de reforço ou de punição. Um cão pode, por exemplo, machucar a pata de verdade e, naquele período, ganhar carinho ao mancar. Mesmo sem o tutor perceber, ele pode estar reforçando aquela forma de caminhar no futuro.

Lantzman relembra, porém, que é preciso cautela ao se deparar com vídeos nas redes sociais, já que eles podem ser fruto de uma montagem feita na própria plataforma.

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Tutores projetam características humanas em animais

Um dos vídeos mais surpreendentes e que mais viralizaram com um caso parecido foi o publicado por Darlene Freitas no TikTok. No registro, que já soma mais de 1 milhão de curtidas, Darlene relata que havia encontrado uma cachorrinha que parecia ter sido atropelada e estava mancando.

Ela, então, resolve adotar o animal, que ganhou o nome de Florisbella. Mais tarde, ao voltar para casa, Darlene encontra Florisbella agindo normalmente – sem estar machucada nem mancando. “E eu que nem sabia que cachorro sabia mentir? Esse cachorro não é meu, mentiu que tinha sido atropelado e eu trouxe para casa. Se eu não tivesse gravado, ninguém ia acreditar”, disse no início do vídeo.

Nos comentários, internautas se divertiram com o que aconteceu e chamaram a cachorrinha de “atriz”. “A Florisbella: ‘Inacreditável, uma das minhas piores atuações e ela não duvidou de mim nem por um segundo’”, escreveu uma internauta. “Caiu no meu ‘papim’, já era”, brincou outra.

Mauro Lantzman pontua que é costume que humanos projetem características humanas em pets e interpretem comportamentos por uma certa subjetividade. O veterinário, porém, afirma acreditar que casos desse tipo não partem de uma intencionalidade do animal.

No caso de pets que estão para adoção, mais especificamente, é muito comum que comportamentos mudem depois de o animal ganhar uma casa. “Eles estão em uma situação de fragilidade. Então, eles estão com um comportamento mais ‘tímido’ da sua expressão”, explica.


Caso do esquilo envolve comportamento defensivo

Um esquilo “dramático” tomou conta das redes sociais no início do mês. Tudo começou quando o perfil @kkMrRay publicou um vídeo de um animal que havia entrado na sua casa e feito uma simulação digna de Oscar.

Após perceber a presença de um ser humano, o esquilo corre, derruba uma vassoura e a posiciona por cima de seu corpo. Ele, então, abre os braços e finge estar morto.

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O caso do animal se difere dos cães que aparecem no TikTok, já que o esquilo não é um animal doméstico. A professora Luciane Helena Gargaglioni Batalhão, do Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), diz que a ação parte de um comportamento defensivo.

Gargaglioni explica que se fingir de morto, ato chamado de a imobilidade tônica (IT), é o estágio final de respostas defensivas que acontecem quando o animal encontra um potencial predador. “É um dos últimos recursos utilizados pelo animal para sobreviver”, comenta.

A professora afirma que o comportamento pode ser encontrado não apenas na espécie que aparece no vídeo, mas também em outros tipos de mamíferos, aves, répteis, anfíbios e até insetos. A resposta, segundo ela, acontece porque o debater da presa pode ser um estímulo para que o predador continue o ataque.

Mas, quando o esquilo se comporta dessa maneira, não significa que ele não ficará atento ao que pode acontecer ao seu redor. “Durante a IT, o animal pode monitorar continuamente o ambiente, fato que lhe permite avaliar o melhor momento para fuga”, afirma Gargaglioni.


*Estagiária sob supervisão de Charlise de Morais

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