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Eliminação do HIV após transplante traz esperança

Por Fabiane Leite e COM AGÊNCIAS
Atualização:

A publicação, anteontem, de um estudo sobre um paciente que obteve a eliminação do vírus da aids após um transplante de medula de um doador específico entusiasmou a comunidade científica, que vê nos resultados um novo caminho no combate à doença. O estudo liderado pelo hematologista Gero Hütter e patrocinado pelo governo alemão foi publicado na última edição do New England Journal of Medicine. O grupo relata que um paciente de 40 anos, que era portador do HIV e de leucemia, está há 20 meses com o vírus indetectável, mesmo sem tomar o coquetel de medicamentos contra a aids. Segundo o grupo, isto aconteceu depois que, ao longo do tratamento do câncer, o paciente recebeu dois transplantes de medula óssea de uma pessoa portadora de uma mutação genética que torna indivíduos mais resistentes à infecção pelo vírus da aids. O trabalho já tinha sido divulgado por Hütter e equipe no ano passado,mas foi recebido com ceticismo pela comunidade científica, até porque não tinha sido publicado em revista científica. Os pesquisadores então submeteram o trabalho à revisão de outros especialistas e agora obtiveram a publicação. "Ele apresentou o trabalho como pôster em um congresso e ninguém deu bola", afirma o infectologista Esper Kallás, da Universidade de São Paulo. Em editorial na revista, Jay Levy, da Universidade da Califórnia, destaca que o estudo abre caminho para iniciativas que garantam o controle do vírus da aids com menos risco de toxicidade para os pacientes. Kallás destaca que o conhecimento de que portadores da mutação genética têm mais resistência à infecção pelo vírus da aids existe desde 96, mas Hütter, apesar de não ser um pesquisador do HIV, avançou ao aplicar a informação. "A base teórica da pesquisa é muito interessante", diz o brasileiro. O HIV utiliza determinados receptores (proteínas nas superfícies das células) para conseguir entrar em células do sistema de defesa. Os especialistas alemães procuraram então deliberadamente no cadastro de doadores de medula óssea uma pessoa que fosse compatível com o receptor e ainda portadora da mutação do gene CCR5, que codifica a produção do receptor de mesmo nome. É a mutação neste gene que garante maior proteção contra o HIV, mas ela está presente apenas entre caucasianos, o que, como enfatiza Kallás, é um dos limitadores do trabalho. "Além disso, o transplante de medula é um procedimento que tem um risco que não é desprezível." Ele destaca ainda que é preciso acompanhar o paciente, pois o HIV pode estar "escondido" em outros tecidos ainda não analisados. "O que esta a pesquisa reacende é a possibilidade de uma terapia genética contra o vírus, o que ainda hoje é ficção."

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