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Como os Rolling Stones se tornaram ícones da moda

Mostra em Nova York exibe o legado fashion dos astros do rock

Por Alex Williams
Atualização:
Mostra em Nova York exibe o legado fashion dos astros do rock Foto: Stefania Curto/The New York Times

No dia 4 de maio de 1963, os Rolling Stones, então um quinteto desconexo conhecido principalmente por covers de Chuck Berry, se reuniram para sua primeira foto oficial nas ruas de Chelsea, em Londres.

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Os cinco futuros "bad boys" usavam blusas velhas, casacos amarrotados e calças com péssimo caimento, parecendo estudantes que foram expulsos depois de uma farra de três dias.

"O que todos comentavam era que os resultados da sessão ficaram horríveis", disse mais tarde Andrew Loog Oldham, agente da banda. E ele mal conseguia conter a alegria. "O visual de quem parecia recém-saído da cama, do tipo 'dane-se o mundo' iria defini-los e consagrá-los", acrescentou Oldham com uma linguagem consideravelmente mais apimentada.

Mas dificilmente os limitaria. Durante as próximas cinco décadas, Os Stones transformariam o palco na maior passarela do mundo, transformando sua aparência constante e radicalmente, mesmo quando permaneciam fiéis ao seu som pesado, baseado no blues.

O vasto legado fashion da banda está sendo exibido em uma mostra em Nova York, "Exhibitionism – The Rolling Stones", anunciada como a maior coleção de roupas de palco, instrumentos musicais e memorabilia dos Stones já montada. A exposição será no espaço Industria, um amplo estúdio no West Village, após um período de cinco meses na Saatchi Gallery, em Londres, que atraiu mais de 350 mil visitantes.

A retrospectiva, com curadoria de Ileen Gallagher, revirou acervos de colecionadores e os armários dos membros da banda. A capa preta e vermelha de Lúcifer que Mick Jagger usou em Altamont? Está lá. O antigo kit de bateria de brinquedo que Charlie Watts usou em "Street Fighting Man"? Também.

A exposição multimídia e tecnológica contém diários antigos, cadernos cheios de letras de músicas, arte original de capas e guitarras historicamente significativas. Nas telas, vídeos de shows históricos; gravações de áudio da banda falando sobre composição de músicas pairam no ar.

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A exposição também apresenta recriações de um estúdio de gravação dos Stones e do casebre em 102, Edith Grove, Londres, que Jagger dividia com Keith Richards e Brian Jones em 1962 e 63, completo, com o papel de parede descascado, revistas Playboy e um odor artificial que lembra cerveja choca e meias velhas. ("Eu ficava dizendo, 'Ei, pessoal, tem muita garrafa de cerveja e muitos pratos na pia'", lembrou-se Jagger em uma recente entrevista por telefone de Los Angeles.)

Em "Exhibitionism", são os andares repletos de trajes dos Stones, muitos deles escondidos do público há décadas, que servem para ressaltar a influência incalculável da banda no estilo do rock.

Apesar de David Bowie normalmente levar o crédito por ser o camaleão do rock, os Stones foram mais longe: eles inventaram a imagem do astro do rock moderno.

A banda lançou as bases para o punk, deixou os Mods mais clássicos, trouxe a psicodelia a um extremismo de desenho animado e basicamente inventou o glam rock. E isso foi só nos anos 60.

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"Você quer ser novo, atraente e elegante, mas ao mesmo tempo parecer louco porque está no palco. Não são só cinco caras de jeans e um monte de amplificadores, sabe?", disse Jagger.

A coleção começa no início, com uma jaqueta xadrez de Jones de 1963, uma relíquia da época do "piscou, acabou", quando os Stones tentavam ser classificados como ídolos adolescentes vestindo roupas iguais, no estilo Herman's Hermits.

"No início dos anos 60, uma das coisas que estava muito na moda eram as jaquetas dos Beatles. Aquilo foi diferente. As roupas que os homens usavam logo viravam assunto, e as das artistas também", disse Jagger.

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Mesmo assim, a banda nunca entendia por que seu agente, que elaborou essa imagem de bad boy para ser os anti-Beatles, usava os uniformes. "Era uma coisa muito estranha, os paletós combinando, porque o lance de Oldham era não ser assim. Ele era o que queria ser diferente", disse Jagger.

E rapidamente, foi nisso que se tornaram. Quando os Stones começavam a chegar aos Estados Unidos em 1964 e 1965, já tinham um aspecto vagamente desleixado, pelo menos para o público pop adolescente acostumado a Neil Sedaka.

"Havia o desleixo, as roupas simples que realmente não existiam no vocabulário americano: o visual descombinado, as jaquetas de couro, adotando um pouco do estilo rhythm & blues tradicional. Então, de repente surgia um par de sapatos brancos. Era meio como: 'Uau, o que é isso?'. Foi assim que o pessoal reagiu. E até hoje, você vê caras se vestindo exatamente dessa maneira", disse a estilista Anna Sui, fã de longa data da banda.

Logo, os Stones serviam de embaixadores globais de um estilo bem diferente, a aparência de dândi londrino saindo da Carnaby Street e de King's Road. Isso é exemplificado na exposição pelo terno de tartan verde e azul de Watts da Granny Takes a Trip, boutique seminal da época na King's Road, e a jaqueta vermelha Grenadier de Jagger, usada durante a apresentação de "Paint it Black" no programa de TV "Ready Steady Go!" em 27 de maio de 1966.

Lenços vitorianos e camisas da época da regência eram a ordem do dia. "Foi realmente um período 'vale tudo'. Havia um monte de roupas antigas à venda e muita coisa foi um renascimento de artigos românticos de veludo e coisas assim", disse Jagger.

O visual dândi de meados dos anos 60 pode ter se inspirado no estilo com pouca definição de gênero de Oscar Wilde, mas foi apenas uma pequena dica do que estava por vir.

Em 5 de julho de 1969, durante um concerto no Hyde Park em Londres, em memória de Jones (fundador da banda que se afogou logo após ter sido excluído do grupo), Jagger andava pelo palco em um vestido masculino de voil branco de Michael Fish, com mangas bufantes e um laço na frente. Uma recriação da roupa está exposta em "Exhibitionism".

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"Os Stones essencialmente haviam criado o 'glam rock'. Bowie é geralmente considerado o pioneiro quando se trata da mistura de gêneros e de manifestações extremas da moda, mas muitas das coisas pelas quais é reconhecido, na verdade, já haviam sido feitas pelos Rolling Stones", disse Simon Reynolds, autor de "Shock and Awe", um novo livro sobre esse movimento musical dos anos 70.

Richards, por exemplo, revirava o armário de sua namorada, Anita Pallenberg, para produzir suas combinações inovadoras. "O fato de eu ter começado a me tornar um ícone da moda usando roupas da minha mulher realmente irritava Charlie Watts, com seus armários imensos lotados de ternos impecáveis da Savile Row", escreveu Richards em sua autobiografia de 2010, "Life".

Na turnê marcante de 1972, já se esperava que Jagger subisse ao palco maquiado e com macacões de veludo justíssimos de Ossie Clark, três dos quais estão na exposição.

"Esse macacão era realmente simples; não precisava escolher nada. Era tipo 'Vou usar esta cor ou essa', e daí colocar um lenço por cima, e pronto. Era muito confortável. E bem sexy, mas dava para se mexer legal", afirmou Jagger.

Quando a moda disco acabou se tornando a piada no final dos anos 70, os Stones pareciam manter algum grau de credibilidade cultural ao optar pelo terno branco e as gravatas estreitas e produzindo músicas pop dançantes como "Miss You".

No início dos anos 80, a explosão fluorescente de vídeos da MTV parecia coisa de criança, exceto quando Jagger surgia no palco com calças esportivas cor de tangerina, azuis e douradas, de Antony Price (também na exposição), transformando um estádio de futebol de 50 mil lugares em sua aula pessoal de jazzercise.

A última pergunta que precisa ser feita: será que Jagger se arrependeu de alguma roupa em especial? "Ah, que pergunta horrível! Cometer erros faz parte", respondeu.

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"Muitas são absolutamente horríveis, mas na hora, todo mundo adorava, entende?", acrescentou.

"Você sempre tem que ir mais longe e meio que tentar defender o ridículo na moda. Tem que se arriscar, as pessoas vão rir e talvez não seja um sucesso."

"Mas não há sucesso sem risco."