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‘Feliz ano-novo... De novo’: Na Amazon, Lázaro e Ingrid inovam suas carreiras após anos na Globo

Atores revelam ao ‘Estadão’ como se inspiraram para projeto, o que os motivou a buscar novos rumos na carreira após anos na emissora e como foi a chegada na nova empresa

Foto do author Gabriela Piva
Por Gabriela Piva
Foto: Prime Video
Entrevista comLázaro Ramos e Ingrid GuimarãesArtistas estão em 'Feliz ano-novo... De novo', especial da Amazon Prime Video, com estreia marcada para 20 de janeiro

Os veteranos Lázaro Ramos, de 44 anos, e Ingrid Guimarães, de 50 anos, estreiam em Feliz ano-novo... De novo, especial da Amazon Prime Video, após saírem da TV Globo — onde ficaram por anos — e se aventurarem em novas empreitadas. Com diversos filmes, peças de teatro e novelas nos currículos, eles podem se dar ao luxo de escolher quais projetos querem ou não fazer parte. Agora, participam do média-metragem dirigido por Pedro Antônio e Carol Durão.

Mas por que se encontrar em Feliz ano-novo... De novo, um formato diferente em que exploram a comédia e os problemas cotidianos em cerca de 56 minutos? Lázaro e Ingrid respondem que os assuntos abordados e a companhia um do outro foram fundamentais para aceitar o projeto no qual são apresentadores e personagens. Importante lembrar que esse é o primeiro trabalho em conjunto dos dois.

Ingrid Guimarães e Lázaro Ramos estreiam especial no Prime Video Foto: Prime Video

A união deles também simboliza a estreia de Lázaro e Ingrid no Prime Video, empresa com a qual assinaram contrato em 2022. A atriz, que ficou 28 anos na Globo, e o ator, que ficou 19 anos na emissora, reaprenderam o comportamento da audiência, as piadas que davam certo e a criar um roteiro para um canal de streaming em um formato inovador.

Em algumas cenas de Feliz ano-novo... De novo, inclusive, eles aparecem em uma sala de roteiro discutindo o que funcionava para o Prime Video. “Aquilo ali é a gente (chegando à empresa)”, conta Ingrid em entrevista por Zoom com o Estadão.

Mas o que motivou Ingrid e Lázaro a repaginarem suas carreiras após anos e anos em uma mesma emissora? Eles contam isso e outros detalhes em entrevista ao Estadão sobre Feliz ano-novo... De novo, que estreia dia 20 de janeiro, no Prime Video, e traz assuntos sobre feminismo, racismo, inflação e divórcio como temas centrais. Confira a entrevista completa:

Feliz ano-novo de novo traz vários temas, seja uma retrospectiva, o divórcio, problemas no trabalho, racismo. Como surgiu a ideia de juntar vocês dois nesse especial?

Ingrid Guimarães: Essa foi uma ideia da Amazon, porque a gente acabou de entrar e a gente queria fazer um projeto que fosse feito mais rapidamente e que fosse mais vivo. E a gente tem muitos projetos separados e esse seria o nosso primeiro projeto junto, como se fosse uma entrada nossa aqui na Amazon. Então, foi uma ideia da empresa.

Acho que especiais já são uma coisa comum no streaming - o próprio Prime tem o especial de final de ano americano. E aí a ideia era isso, era celebrar o nosso encontro, a nossa entrada. Tanto é que essa ideia que a gente teve, que a gente achou boa, que era: como fazer um especial de final de ano, né? O fio condutor é esse - a gente vai falar sobre o que? A gente está chegando em um lugar, que a gente também está experimentando esse lugar; nossa primeira vez junto. Então, a gente resolveu botar tudo o que estava pensando.

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Lázaro Ramos: Eu me toquei de uma coisa agora também... Durante o processo de decisão de fazer (o especial), a obra falava sobre os assuntos que foram relevantes em 2022, e que continuarão sendo relevantes em 2023, né? Porque, na verdade, o ano passa e a gente faz um combinado, mas os assuntos continuam por aí. Então, eu acho que essa ideia de fazer um especial de ano-novo ajuda a nos conectarmos com as novas metas para tentar fazer um ano melhor.

Lázaro Ramos e Ingrid Guimarães contam como a Amazon Prime Video os colocou em um especial Foto: Marcio Amaro/Prime Video

Hoje em dia, vocês conseguem aceitar quais projetos querem participar ou não. O que vocês consideram na hora de topar um filme, série, novela ou especial?

IG: Para começar, sobre o que o assunto que quero falar: é um assunto que me comove? Um assunto que me estimula? Um assunto que acho relevante para o momento? É um personagem que eu queira fazer? Então, para mim, é: começo (vendo o) assunto e, depois, as pessoas que estão em volta dele. Fazer um especial de final do ano com o Lázaro, que é um cara que eu já admiro para caramba e de quem sou super fã, é um estímulo para mim. A gente não sabia nem o que era, entendeu? Sou muito estimulada por quem vou contracenar. Minha vida toda fui dupla de alguém. Muito do jogo cênico é sobre o prazer em estar junto. Nunca fiz um monólogo na vida. Gosto do ato de contracenar e eu acho que essa troca de talentos é muito gostosa.

LR: Estou muito de acordo com Ingrid. A companhia também faz muito a minha cabeça. Com quem é que eu estarei? E digo a mesma coisa da Ingrid... A gente já se namora (profissionalmente) há muito tempo. Já tínhamos vontade de criar e fazer coisas juntos. Foi uma relação, uma amizade provocada e que veio muito pela admiração, por entender que a gente quer muito ser amigo de uma pessoa, se apresentar.

Quando a gente se encontrou, conectou num lugar que vem muito do humor também, que foi muito legal. A (vontade de) fazer coisas relevantes também... E eu vou acrescentar mais uma coisa aqui: tentar explorar novas possibilidades. Depois que você faz e trabalha tanto, dá vontade de experimentar uma coisinha, ver até onde posso ir, com que outras pessoas posso dialogar, falar, e que podem ter acesso às coisas que quero levar para mim.

Lázaro Ramos e Ingrid Guimarães priorizam tema e colegas de trabalho na hora de selecionar um projeto para trabalhar Foto: Marcio Amaro/Prime Video

Mas, antes, só para entender melhor... Vocês só sabiam que contracenariam juntos, mas não tinham mais detalhes do projeto? É isso?

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IG: A gente sabia que era um projeto para fazer para final de ano e que a gente ia fazer junto, que íamos criar juntos. Só isso aí já era estimulante! Porque a gente já trouxe a turma, a equipe de roteiristas e tal. A gente está juntinho desde os primeiros passos.

Então vocês também ajudaram na seleção dos assuntos para falar...

IG: Imagina, a gente ajudou em tudo! Acho que a gente se mete em absolutamente tudo (risos). O que acho legal desse projeto é que é um projeto muito original e ele é realmente um original Prime Video. (...) Não tinha regra, não tinha uma cópia de nada. A gente foi criando com uma equipe de roteiristas maravilhosa que ficou com a gente o tempo inteiro. Não foi uma coisa encomendada para ninguém, foi aquela coisa que eu amo. É aquela mesa de roteiro com a direção do Pedro Antônio, um cara que já tem muita experiência com plateia.

LR: Tinha uma coisa legal nesse projeto: fazer uma coisa sem muita pretensão e que surpreendesse. Quando a gente fez, a gente pensou: “Ah vai passar (na Amazon). É um projeto específico para um período do ano e tal”. Estou feliz agora que a galera está assistindo e dizendo: “Gente, isso é um formato! Por que não tem todo ano? Será que vocês não querem fazer uma temporada?”. Para mim, pelo menos, é uma surpresa. Eu disse assim: “Eita, deixa eu entender o que está acontecendo”. A gente fez para dar um gole somente, e as pessoas estão querendo beber mais. Isso aí eu já acho super positivo.

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Ingrid Guimarães queria falar sobre feminismo e temas femininos em 'Feliz ano-novo... De novo' Foto: Marcio Amaro/Prime Video

Muita coisa acontece em um ano e vocês têm de fazer um filtro do que vão falar ou não. Como foi o processo de selecionar os temas mais importantes para estar neste especial?

IG: Vou responder essa antes do Lázaro, porque esse foi um assunto que me marcou muito. O Lázaro batia muito na tecla: “Precisamos falar de assuntos relevantes”. Lembro que a primeira reunião que fizemos, que os autores trouxeram temas, ele falou assim: “Gente, mas isso está muito classe média! A gente está falando muito só para uma bolha”. Lembro de falar: “Gente, eu não pensaria nisso naquele momento”. E aí ele trouxe muita coisa de falar: “Cara, a gente tem que falar de aumento de preço dos mercados”. Às vezes eram coisas que eram fora até do mundo que eu vivia, de não ir lá no mercado, mas era algo relevante e que estava acontecendo no mundo.

Eu (por exemplo) queria falar de feminismo. O Lázaro, então, falava assim: “Vamos falar de temas relevantes. Vamos falar de temas que a gente tem que pegar um pouquinho de cada um”. Ele batia muito nessa tecla. “Falta falar disso. Falta falar da filha, sobre a linguagem nova, falta falar de separação na pandemia”. Então, ele batia muito nessa tecla de pontos que achava essenciais no ano passado, que a gente viveu e que a gente entra em 2023 e continua igual. São temas pertinentes ao próximo ano também.

LR: É, mas isso vindo muito de intuição. Mas agora que está pronto, fico percebendo que a base dos temas continuará sendo relevante. Tem uma pitada do jeito que a gente está discutindo esses assuntos agora, mas assim, você falar de relacionamento e casal que está se separando, (por exemplo), continuará sendo relevante; você falar de uma família em que a filha já está um pouco a frente de determinado tema do que os pais, continuará sendo relevante; você falar sobre o papel da mulher em uma empresa, continuará sendo relevante. Se a gente quiser, ano que vem a gente faz um especial com os mesmos temas, dando somente um salto do que a gente aprendeu durante o ano, né? Acho que tem um pouco isso.

Lázaro Ramos queria falar sobre assuntos importantes do ano de 2022 Foto: Prime Video

Vocês têm uma característica em comum. Vocês ficaram muito tempo na Globo e aí foram para a Amazon. Como foi esse processo, essa adaptação e essa mudança da televisão para o streaming?

IG: A gente começou no teatro, fazendo sucesso no teatro - tanto eu quanto ele somos crias de teatro. Quem é cria de teatro automaticamente tem um tipo de persona que não faz só uma coisa. Você começa a fazer teatro sem dinheiro; você produz; pega o figurino de casa; você se mete no texto; você divulga você. A gente tem essa persona de produtor. Outro dia fiquei pensando nisso, né? Da onde a gente se encontra assim? Já fizemos cinema, sucesso no cinema; nós dois já fizemos sucesso no teatro; já fizemos novela, televisão, programa, série.

Cara, chega um momento da vida - ainda mais eu que tive a idade emblemática de fazer 50 anos ano passado, quando eu mudei de empresa -, que eu acho que o grande lance é: “Vamos fazer alguma coisa nova, vamos nos desafiar”. Talvez a melhor ideia, e que acho que foi sua Lázaro, é quando a gente fala (no especial): “Vão falar de quê? Mas como é que vai ser o fio condutor disso?”. O fio condutor do Feliz ano-novo... De novo é a gente tentando arrumar uma ideia para fazer esse especial (risos).

Aquela salinha ali, é a gente na Amazon. A gente estava assim: “Como é que é? Como é que é audiência aqui, que a gente não sabe? A gente fala pra quem? A gente não sabe... A gente pode falar isso? Pode falar aquilo? Tem um chefe... Quem é o chefe? Então, tem um monte de coisa do emprego novo (no especial), que eu acho que fala muito dos novos streamings, da nova maneira de ver televisão, que eu acho que é uma das coisas mais legais do especial.

LR: Eu acho que que Ingrid me contempla muito, porque depois de você caminhar tanto, dá vontade de... É o bicho do teatro ainda! Acho que a Ingrid deu a melhor resposta. Essa inquietação de não ficar obsoleto, descobrir outras coisas, se desafiar. Ao longo da nossa carreira toda, a gente sempre buscou a nossa voz e os nossos temas. Mesmo quando a gente estava nos projetos de outras pessoas, tem uma autoralidade que nos pertence e que às vezes era até incontrolável a nossa presença ali. Então, você vai acumulando projeto, ideias e desejos.

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Quando o convite da Amazon chegou, a gente veio (para a empresa). Não é um lugar que não seja livre de desafios. São muitos desafios e aprendizado todo dia. Entender a linguagem, entender como falar, entender as mudanças que chegaram, entender como adaptar o nosso projeto a essa realidade. Isso assim, não é um lugar de conforto total. Mas ao mesmo tempo, eu acho que justamente esse desconforto, a gente que é doido nesse sentido artístico, vira alimento. Justamente isso. A gente tem que conversar isso na terapia, porque, na verdade, você devia sossegar em um programa fixo e ficar lá. Mas teve algo do negócio do diabo e do teatro que fica dizendo para você continuar (risos).

Ingrid Guimarães revela que Lázaro Ramos a tirou de sua bolha Foto: Prime Video

Quando vocês toparam esse novo desafio, ficaram nervosos? Deu um gelo na barriga mesmo?

IG: Acho que a gente se falou em muitas madrugadas, né, Lázaro?

LR: Muitas madrugadas conversando, muitas madrugadas pensando, repensando como vai ser, se a gente tem coragem e os desafios. Mas foi bom. É muito engraçado isso. Você depois de um momento assim, de uma certa estabilidade, você ter a oportunidade da reinvenção e até da experimentação, por que querendo ou não, esse projeto que a gente está fazendo é de humor, que é uma coisa que tem conexão com nosso público direto, mas ao mesmo tempo tem uma experimentação. É bacana isso, você tentar descobrir como é que faz, como é que conecta, como é que junta, qual é a piada de agora, como é que a gente atualiza esse tema. Isso tudo é muito legal.

E como vocês descobriram qual era a piada de agora?

LR: Ah! (risos) Debates constantes, equipe de roteiristas sensacional que a gente falava sempre. É um grupo de roteiristas muito especial. (...) Os nossos diretores também, que de alguma maneira acabaram colocando a mão na massa no roteiro. Foi muito legal. Era muito estimulante ir pra sala de roteiro, papear sobre essas coisas, sabe?

IG: Foi um trabalho muito em conjunto, porque a gente pegou uma sala de roteiro muito diversa, desde o Fil Braz (roteirista), que escrevia filmes do Paulo Antônio (sic) até o Adalberto Neto, que vem de um trabalho com o Lázaro, de um trabalho de internet. A jornalista que trazia coisas muito relevantes, a Lívia La Gatto (roteirista), as meninas que traziam coisas muito a minha cara, femininas, humor de mulher. E o Pedro Antônio, que é um diretor que tem muita mão do humor, né? Ele já dirigiu muitos filmes de comédia. Foi uma junção boa e uma liberdade que a Amazon deu para a gente, né?

Ingrid Guimarães e Lázaro Ramos repaginaram suas carreiras após anos na TV Globo Foto: Amazon Prime Video

Inclusive, assistindo ao especial, eu tive a impressão de que vocês usaram muito o recurso do improviso...

LR: A plateia!

IG: Total! A melhor piada do programa, na minha opinião, é o improviso, que é quando eu começo a falar do feminismo, do papel da mulher e o Lázaro fala: “Meu povo foi escravizado” e eu fico humilhada. (risos)

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LR: Ingrid, eu adoro aquele seu papo com aquela moça sobre transar!

IG: Que também foi um improviso!

LR: Eu fico passado! Eu quase não estou falando e fico ali chocado. (risos) (...) Tinha um tema (para a gente falar) e a gente desenvolvia ele ali.

IG: Vamos até relembrar de uma coisa que a gente não falou em nenhuma entrevista... Nós somos dois entrevistadores. A gente teve programa a vida inteira, tanto eu quanto ele, cada um no seu nicho. Então, a gente adorava conversar, a gente tinha que tirar gente da plateia. O Pedro falava: “Gente, bora! Não tem tanto espaço assim pra botar a plateia”. A gente ficava: “Vamos lá!”. A gente tem prazer em conversar com as pessoas.

Senti isso também, que vocês estavam querendo falar bastante...

LR: Não só isso! Também marcou nosso retorno ao teatro (depois da pandemia da covid-19). A gente chegou lá com plateia. A gente estava parecendo que era estreia da primeira peça. Porque assim, há quantos anos a gente não pisa no palco de teatro?

IG: A gente queria o palco pra gente! A gente ficava louco com um papo com a plateia. A gente ficou muito louco com aquilo. Eu acho que, às vezes, quando eu vejo até o anúncio, eu falo: “Do jeito que a gente estava, parecia primeiro dia de aula na escola nova” (risos). A gente ficou muito empolgado de fazer esse especial e foi um negócio muito... Cara, porque podia dar errado, sabe? Porque a gente não sabia o que era. A gente não tinha um exemplo pra seguir. O que eu acho muito legal na vida é isso, depois de 30 anos de carreira - o Lázaro também, quer dizer, deve ter menos, porque é mais novo que eu (risos) -, mas é você ter um estímulo para fazer as coisas.

O que aconteceu na carreira de vocês para perceber que queriam um estímulo novo. Teve algum gatilho?

IG: No meu caso, os 50 anos. É uma idade muito simbólica para a mulher. Essa chegada assustadora ao meio século que você fala: “Meu Deus, agora eu vou escolher como eu quero envelhecer”. E aí, era uma necessidade de ter voz e falar de coisas que talvez eu não tivesse espaço ali na TV aberta, por uma série de motivos.

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LR: No meu caso, foi muito a escrita dos livros e a transição para direção, que eram lugares que eu não sabia que teria prazer e alegria e que fazia mais por necessidade. De repente, eu me descobri muito feliz dirigindo e escrevendo meus livros e falei: “Isso também sou eu”. Descobri que também era isso, não sabia. Fui quase pego de atropelo, porque quando vi, já estava feliz e eu estava sendo essa coisa híbrida doida que é o cara que dirige o Medida Provisória, escreve para adolescente e tal. Aí não tive muito como fugir de mim.

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