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Provas de rua de A a Z

Marlei Willers, a corredora amadora que quebrou o recorde gaúcho da maratona

Ela começou a correr aos 39 anos e venceu a Maratona de Porto Alegre

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Por Silvia Herrera
Atualização:

Aos 45 anos, Marlei Willers está em plena forma e começa a colher os frutos de muito treinamento e disciplina. Ela foi apresentada à corrida de rua há seis anos, pelo primo, e logo de cara se destacou. Para ter mais tempo para os treinos, pediu demissão de uma empresa de importação, onde era coordenadora comercial, e começou a empreender em um serviço de comida caseira congelada, Preta Pastas, que ela prepara na garagem de casa. Venceu as três primeiras maratonas que fez: Fila, Curitiba e Porto Alegre. Nesta última, quebrou o recorde gaúcho que já durava 15 anos. Marlei fez os 42km em 02:43:59, a marca anterior era de Geni Mascarello - 02:44:06. Detalhe, ela é uma corredora amadora.

 Foto: Marlei Willers/Fila

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"Nunca, nem nos meus melhores sonhos, imaginei chegar nesse nível que eu estou; as coisas foram acontecendo, fui me cercando de boas pessoas e aproveitando as oportunidades", contou Marlei, que foi recepcionada em grande estilo, no retorno da Maratona de Porto Alegre (4 de junho) a Morro Reuter, onde mora desde os 15 anos, com direito a desfile no carro dos Bombeiros (foto acima).

Ela nasceu no interior do Paraná, os pais são agricultores. Para sair da roça, Marlei se mudou para o Rio Grande do Sul, para estudar. "Não sou atleta profissional, mas tenho sim um patrocínio da Fila e o apoio de mais cinco empresários, inclusive de Dois Irmãos (cidade a  5km de Morro Reuter, onde ela treina). No entanto, inconscientemente, me preparei uma vida toda para ser uma atleta sem mesmo eu saber o porquê. Sempre fui muito amante do esporte, joguei futsal por muito tempo, joguei vôlei, sempre fui na academia e caminhava todos os dias", destacou a campeã, que ainda tem que trabalhar para dar conta de todos os boletos.

O patrocínio com a Fila (22/23) é recente, mas a história com a marca é antiga. "O DASS é aqui da cidade de Ivoti, próxima a Morro Reuter. Eles produzem exclusivamente os produtos da Fila, e meu primeiro tênis de corrida foi o KR3, que comprei no outlet. E com a terceira colocação na Meia de Porto Alegre, o pessoal da biomecânica da DASS veio falar comigo, eles estavam buscando corredores para fazer as rodagens, participar dos testes. O marketing começou a mandar alguns materiais, e o tênis que usei agora na Maratona de Porto Alegre vai ser lançado na 2ª Maratona da Fila", revelou a corredora.

 Foto: Marlei Willers

Mas o que será que atraiu uma mulher de 39 anos a mergulhar nos treinos e sair da zona da conforto, largando um emprego CLT para investir no esporte e se tornar empreendedora? Marlei é solteira, todas as amigas foram se casando e ela foi se sentindo um peixe fora d'água. Certo dia ela leu uma matéria que despertou sua atenção, que mostrava como era viajar e correr. Em seguida o primo a convidou para a correr, ela foi lá conferir e adorou. No começo ficou sem graça de sair na rua para correr, algo que ninguém faz em Morro Reuter, ainda mais aos 39 anos de idade.

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Com quatro meses de treino, ela estreou na Meia Maratona de Porto Alegre e subiu no pódio pela primeira vez: terceira colocada. Como Morro Reuter tem um relevo desafiador, Marlei começou a treinar em Dois Irmãos, cidade vizinha e mais plana, onde havia um grupo de corrida, do treinador Julio Pauletti. Com essa evolução surpreendente, Pauletti foi investindo cada vez mais na nova aluna.  "O Júlio me chamou e a gente conversou. Eu realmente me identifiquei com o esporte, e comecei a interagir cada vez mais", lembra a corredora, que começou a pegar realmente nos treinos em meados de 2019.

"Em 2020, quando as coisas eram pra acontecer comigo na corrida ,veio a pandemia e fiquei 16 meses sem competir e me mantive firme nos treinos", recorda. "Sofri muito, não foi fácil.  Quando as reservas que eu tinha foram se acabando veio o desespero. Foi um período bem difícil, mas me fortaleceu muito mentalmente, e me deixou ainda mais resiliente e persistente no que eu queria", afirmou.  Com o retorno das corridas de rua pós pandemia, um dos últimos segmentos a voltar, Marlei começou a se destacar novamente e conseguindo os índices para largar na Elite B, não mais junto com a galera, o que aumentou suas chances de pódio.

Mas como surgiu a ideia de investir em comida, o leitor que chegou até deve estar se perguntando? Como financeiramente não daria para mergulhar na corrida, e como ela adora cozinhar e queria  resgatar a comida caseira da avó, da mãe, investiu em uma cozinha industrial na garagem da casa. "E o nome Preta Pastas vem do meu apelido de infância", explicou a campeã. E para dar conta do recado, ela segue uma rotina espartana. Dedica 40% do tempo para a Preta Pastas e 60% para a corrida. Acorda às 4h da matina, pega o carro, vai para Dois Irmãos treinar, onde há um circuito de 2km, depois volta. Trabalha na Preta Pastas das 7h30 às 15h30, quando começa a segunda fase dos treinos (fortalecimento, natação, outros esportes, fisio, nutri). E às 21 horas ela vai dormir.

E a super campeã gaúcha já tem uma agenda bem ousada para 2023: Maratona de Blumenau (23/07), 2ª Maratona da Fila (27/08), Maratona de Curitiba (15/11) e São Silvestre (31/12).

 

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