Setembro de 2010: o Santa Cruz perde para o Guarany do Ceará por 2 a 0 e é eliminado da Série D, a quarta divisão, fundo do poço do futebol profissional do País. As contas do clube estão no vermelho e as (poucas) receitas de bilheteria estão penhoradas.
Domingo passado: ao levantar o troféu de campeão da Copa do Nordeste contra o Campinense, o Santa consolidou uma história de superação que culminou com a volta à Serie A do Brasileirão após dez anos. E neste domingo, o Mais Querido, como é carinhosamente conhecido, pode ser campeão Pernambucano se empatar com o rival Sport.
Nesse processo de reconstrução, a importância da torcida foi crucial. A atual gestão do Santa Cruz promoveu uma verdadeira “arrumação” na casa. Em 2015, quando assumiu o comando do clube, o presidente Alírio Morais avisou logo que na sua administração a relação com a torcida coral seria horizontal, direta e prioritária. E assim tem sido.
Nos últimos meses todo o planejamento de comunicação e marketing tem focado na aproximação com a massa de torcedores. Planos especiais para novos associados – com diversos perfis econômicos; mudança de linguagem nas redes sociais e a escuta permanente de sugestões vindas da torcida.
O resultado pode ser visto na média de público, que sempre está entre as maiores do País. No campeonato estadual de 2016, que termina hoje, a média de público é de 21,5 mil. Na Copa do Nordeste, foi de 11,6 mil. “O apoio do torcedor, desde a campanha na Série D, foi fundamental”, afirmou o vice-presidente Constantino Júnior.
A virada dentro de campo começou em 2011. Quando disputava a Serie D pelo segundo ano consecutivo, o Santa Cruz venceu o tradicional rival Sport na final do Estadual. Conquistaria o tricampeonato estadual em 2012 e 2013, ao mesmo tempo que ascendia no Brasileiro, garantindo acesso à Série B.
O programa sócio torcedor cresceu e chegou a 13 mil associados, impulsionado pela volta à Série A e pelo retorno, após 13 anos, do atacante Grafite, campeão da Libertadores e do Mundial pelo São Paulo em 2005.
A chegada de Grafite foi possível por meio de parcerias e porque as receitas aumentaram. Em 2015, a arrecadação do clube foi de R$ 15 milhões, entre bilheteria, patrocínio e direitos de televisão. Em 2016, a previsão é de R$ 40 milhões, impulsionado pelo retorno à Série A.
A folha salarial também cresceu: passou de R$ 140 mil, quando o time disputava a Série D, para cerca de R$ 1 milhão. E deve aumentar com as chegadas de reforços para o Brasileirão.
“Vamos fazer um investimento maior, mas a realidade é dura. A divisão de cotas da Série A é injusta, a diferença entre os clubes é abissal. É como se alguns rivais tivessem uma metralhadora e nós um estilingue”, afirma Constantino Júnior.(COLABOROU MONICA BERNARDES)