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Ochoa, ‘o melhor goleiro do mundo em Copas’, chega ao Catar para o seu quinto Mundial

Aos 37 anos e capitão do México, jogador quer manter a fama de ter boas atuações na competição

Por Caio Possati

Assim como Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, dois dos melhores jogadores da história do futebol, o goleiro Guillermo Ochoa, da seleção do México, chega ao Catar para a quinta Copa do Mundo da carreira. Ele e os mexicanos estreiam no Mundial nesta terça-feira, dia 22, às 13h, contra a Polônia, em jogo válido pelo Grupo C, o mesmo de Argentina e Arábia Saudita. A partida será disputada no Estádio 974, em Doha.

Aos 37 anos, o jogador de volumosa cabeleira, faixa na cabeça e vestindo a tradicional camisa 13, virou um célebre personagem recente das Copas graças ao ótimo desempenho embaixo das traves mexicanas, principalmente em jogos contra seleções de peso, como Brasil, Alemanha e Holanda. Nesta primeira fase no Catar, terá a missão de jogar contra Messi e Lewandowski. Porém, diferentemente do que muitos imaginam e suspeitam, Ochoa não joga e nunca jogou por um grande clube da Europa, e construiu uma carreira internacional em times de pouca expressão, como Ajaccio e Granada.

Aos 37 anos e capitão da equipe, goleiro Guilermmo Ochoa disputa o quinto mundial da carreira no Catar. Foto: Kim Hong-Ji / REUTERS

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Esse contraste entre o que Ochoa já mostrou ser capaz de fazer e a falta de oportunidades nas principais equipes do mundo acabaram transformando o goleiro mexicano em uma espécie de atleta folclórico. Pelas mãos dos brasileiros então, que tiveram que sofrer com a habilidade do rival por duas vezes, não demorou para o jogador logo ser alvo de memes e piadas.

E elas logo voltaram a pipocar nas redes quando o técnico do México, Tata Martino, divulgou a lista dos nomes para a Copa com a presença de Ochoa entre os convocados. “Vão descongelá-lo depois de quatro anos para sumir depois”, escreveu um; “Chegou o momento em que ele aparece para virar o melhor goleiro do mundo”, postou outro; “Vamos ver de novo o goleiro-camisinha: protege e não deixa passar nada”, publicou um terceiro internauta.

Nas quatro Copas em que jogou até agora, Ochoa foi titular em duas: 2014 e 2018. Foi no Brasil que o mexicano ganhou a tal fama quando conseguiu segurar um 0 a 0 contra os donos da casa na primeira fase. Uma das várias defesas, de tão precisa e milimétrica, precisou ser checada para se certificar de que a bola não tinha cruzado a linha do gol. O goleiro foi eleito o homem da partida.

Naquele mesmo Mundial, ele voltaria a se destacar no jogo contra a Holanda nas oitavas de final. Apesar de fazer algumas outras boas defesas, como em um chute à queima-roupa do zagueiro De Vrij, o mexicano não impediu a eliminação para a equipe de Robben, Van Persie e Sneidjer, de virada, nos minutos finais do jogo.

Quatro anos depois, na Rússia, Ochoa voltava a defender o gol do México em uma Copa do Mundo. Logo na estreia, contra a poderosa Alemanha, o goleiro mostrou de novo do que era capaz. Com ótimas defesas, ajudou sua seleção a vencer por 1 a 0 a então campeã mundial, que seria eliminada ainda na fase de grupos.

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Ochoa não conseguiu evitar o gol de Firmino, o segundo do Brasil diante do México na Copa do Mundo de 2018, na Rússia. Foto: Wilton Junior/Estadão

O triunfo foi fundamental para a classificação mexicana às oitavas, fase que reservou um novo confronto com o Brasil de Neymar. Apesar de o México perder o jogo por 2 a 0 e ser eliminado, Ochoa foi, mais uma vez, um dos destaques da partida com uma ótima atuação.

De acordo com o site Footstats, especialista em estatísticas de futebol, nos oito jogos que Ochoa fez em Copas do Mundo, o goleiro realizou 28 defesas, sendo oito consideradas difíceis. A própria Fifa, em seus canais de comunicação, trata o jogador como um dos personagens que merecem atenção no Mundial do Catar, seja pela 5ª participação no torneio, como também pelas defesas e atuações nas partidas contra equipes tradicionais.

CARREIRA DE OCHOA

Entretanto, na sequência dos elogios a Ochoa, uma pergunta também costuma ser feita com frequência nas Copas: “Por que um dos goleiros de maior destaque nos Mundiais não joga em um time de ponta da Europa?”

Guillermo Ochoa, de fato, nunca chegou a vestir a camisa de um gigante europeu e acabou construindo sua carreira em clubes de maneira mais discreta, embora seja muito respeitado no México. Na Europa, sua passagem se resume a equipes de pouca expressão, como Ajaccio, na França; Málaga e Granada, na Espanha; e Standard de Liège, da Bélgica.

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Revelado pelo América-MEX, o goleiro construiu uma carreira de prestígio no futebol local. Aos 20 anos, já era titular absoluto da equipe e se tornou, em 2005, o goleiro mais jovem do país a ser convocado para a seleção nacional, aos 20 anos e 5 meses. Em 2006, ele foi um dos três goleiros convocados para a Copa do Mundo na Alemanha.

Ochoa permaneceu na equipe que o formou até 2011. Depois de uma trajetória sólida de nove anos defendendo o América-MEX e conquistar títulos coletivos e individuais — ele estava na histórica derrota do Flamengo para América-MEX por 3 a 0, no Maracanã, pela Libertadores em 2008 —, o goleiro se transferiu para a França para jogar no modesto Ajaccio.

Porém, o destino que se esperava para o jogador mexicano era o PSG, que desistiu de última hora da contratação porque, na época, Ochoa havia testado positivo em um exame antidoping. Mais tarde, seria descoberto que a substância proibida foi consumida em uma carne contaminada.

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Ochoa teve carreira longa na Europa, mas não conseguiu ter oportunidades em grandes times; voltou ao América-MEX, onde foi revelado. Foto: RODRIGO ARANGUA / AFP

Fato é que, no Ajaccio, apesar de jogar em um time que tinha como objetivo fugir do rebaixamento, Ochoa conseguiu ser titular por três temporadas seguidas e ter uma sequência de jogos que lhe garantiram mais convocações para a seleção mexicana.

Depois de escapar do rebaixamento por dois anos, o Ajaccio não resistiu e terminou o Campeonato Francês da temporada 2013/2014 na última posição e caiu para a segunda divisão da liga nacional. O mesmo goleiro que terminou a temporada sofrendo 71 gols no Campeonato Francês em 37 jogos seria o mesmo que, semanas depois, espantaria o mundo ao fechar o gol contra o Brasil na Copa de 2014.

Apesar da queda com o Ajaccio, as boas aparições no Mundial levaram Ochoa a se transferir para o Málaga da Espanha. Mas na equipe espanhola, o mexicano não chegou a se firmar como titular e pouco atuou. Depois de 19 partidas em dois anos, o goleiro foi emprestado ao Granada, também da Espanha, no começo da temporada 16/17.

O cenário era parecido com o do Ajaccio: uma equipe modesta que tinha a permanência na primeira divisão como principal objetivo. Mas a meta não foi cumprida. Depois de um ano jogando no Granada como titular, Ochoa foi rebaixado e não teria seu empréstimo estendido nem o contrato com o Málaga renovado.

Sem clube, ele assinou com o Standard de Liege, da Bélgica, por onde jogou por três temporadas até voltar ao time de formação, o América-MEX, na temporada 19/20, onde permanece até hoje e joga como capitão da equipe. Anos depois, o empresário do atleta chegou a dizer em entrevista que o jogador despertou interesse do Flamengo e foi procurado para defender o time carioca. Mas não houve acordo na época.

Por clubes, Ochoa foi campeão do torneio Clausura em 04/05, da Liga dos Campeões da Concacaf em 05/06, e da Taça da Bélgica na temporada 17/18. Pela seleção do México, venceu quatro vezes a Taça de Ouro da Concacaf, e além de participar de cinco Mundiais, também já representou o país nos Jogos Olímpicos de Tóquio, no Japão, onde conquistou a medalha de bronze.

Com 131 jogos, Ochoa é o goleiro que mais jogou pela seleção mexicana na história e está entre os seis que mais representaram o país asteca. Antes do amistoso contra o Iraque, no começo do mês, o jogador foi homenageado pela Federação Mexicana de Futebol por conta dos serviços prestados ao México e pela história de 18 anos defendendo as traves da seleção.

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Seleção mexicana perde nas oitavas de finais nas Copas do Mundo desde 1994, no mundial dos Estados Unidos. Foto: Frederic J. Brown/AFP

CRÍTICAS

Apesar dos elogios, Ochoa também não está isento de críticas e cornetadas da torcida. Em junho deste ano, o ex-atacante Jesus Mendoza, que foi companheiro do goleiro no América, foi às redes sociais depois do time empatar em 1 a 1 contra o Pachuca, sofrendo um gol de pênalti nos minutos finais do jogo: “Algum dia Memo (em referência a Guilhermo Ochoa) vai defender um pênalti?”, escreveu Mendoza no Twitter.

Pelas estatísticas, o goleiro mexicano, de fato, mostra uma deficiência no quesito. Apesar de ter defendido uma penalidade em agosto, depois das críticas do ex-colega, Ochoa agarrou apenas 16 pênaltis e sofreu 72 em uma carreira que já soma mais de 800 jogos no profissional, entre clubes e seleção — estatísticas consideram apenas cobranças no tempo normal de jogo

Considerando que o goleiro atua como profissional com certa regularidade desde 2004, trata-se de uma média de menos de um pênalti defendido por temporada.

MALDIÇÃO DAS OITAVAS

Apesar das ótimas atuações em Copas, Ochoa não conseguiu, ainda, ajudar o México a quebrar uma marca negativa que faz parte da história do time em mundiais. Desde 1994, os mexicanos são eliminados nas oitavas de final da Copa do Mundo e não conseguem terminar a competição entre as oito melhores equipes do torneio.

Nos Estados Unidos, há 28 anos, os astecas foram eliminados pela Bulgária; em 1998, caíram para a Alemanha. Em 2002, perderam para os Estados Unidos na Copa disputada na Coréia do Sul e no Japão. Em 2006 e 2010 foram superados pela Argentina; em 2014, tomaram a virada contra a Holanda e, em 2018, foram derrotados pelo Brasil por 2 a 0, na Rússia.

O bom futebol apresentado pelos mexicanos, mas carregado de vacilos e uma carga de azar nos jogos decisivos, levou o time a ficar com a fama de ser uma seleção que “joga como nunca, mas perde como sempre”. Caberá a Ochoa, capitão do time, liderar o México na missão de fazer o time ir o mais longe possível no Catar. E ela começa nesta terça-feira, contra a Polônia.

Ochoa quer manter a tradição de fazer grandes defesas em Copas do Mundo. Brilho em mundiais virou alvo de elogios e memes por parte de brasileiros.  Foto: Alberto Estévez / EFE
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