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Zico lança livro inédito de memórias e ensinamentos no mundo dos negócios

‘Estadão’ conversa, com exclusividade, com o ex-jogador, que traz histórias curiosas de sete décadas de vida e como o exemplo de liderança serve para inspirar a gestão de pessoas e empresas

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Por Elcio Padovez
Atualização:

A bola procurou a liderança de Arthur Antunes Coimbra na tarde de 23 de setembro de 1973. Aos 20 anos, ele ainda escrevia os primeiros capítulos como Zico quando assumiu a cobrança de um pênalti que ninguém do Flamengo queria bater no jogo com o Vasco, pelo Campeonato Carioca. Foi lá, matou a responsabilidade no peito e fez seu primeiro gol no Maracanã. Foi a primeira das 127 vezes em que esteve na marca da cal, com 115 acertos e 11 erros. Hoje, com 71 anos completados no último domingo, o também treinador, dirigente e empresário se prepara para lançar, no próximo dia 20 deste mês, o livro “O efeito Zico - Como obter índice de rejeição zero na sua profissão”.

Lançada pela Editora Planeta e escrita pelo jornalista Marcos Eduardo Neves, o projeto nasceu de um pedido do próprio Zico ao autor, que na época da adolescência trabalhou como gandula no Flamengo e, assim, passou a conviver com Renato Gaúcho e o Galinho de Quintino, que sempre dava o exemplo em campo ao ficar nele após os treinos para aprimorar jogadas de bola parada, como cobranças de falta e pênaltis. Mais velho, ele passou a ser goleiro reserva do time do camisa 10 da Gávea em eventos pelo Brasil com a presença de ex-jogadores. Ficaram próximos.

O livro “O efeito Zico - Como obter índice de rejeição zero na sua profissão” será lançado no dia 20 de março Foto: Editora Planeta

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“Foram dois anos para que o livro fosse feito. A agenda dele é internacional e precisei ajustar o levantamento das informações e produção de entrevistas com paciência, além de buscar depoimentos de personalidades do futebol, como Ronaldo, Michel Platini e Roberto Baggio, fã de Zico desde que tinha 16 anos, além do escritor Ruy Castro, flamenguista de carteirinha”, afirmou Marcos.

Segundo o autor, a ideia principal do livro de 240 páginas é abordar o efeito que Zico provoca nas pessoas para o bem. “Combinei com ele que deveríamos criar uma obra que fosse como uma palestra de oito horas que ele costuma ministrar para empresas, mesclando a história pessoal dele com aspectos de ensino de liderança profissional”. Para Zico, a obra de memórias é a oportunidade para que o leitor o julgue como um todo, não só como o ex-jogador famoso, mas sim, como ser humano, profissional.

NO JAPÃO, JAGADOR LAVAVA O PRÓPRIO UNIFORME

Em cinco décadas de futebol, Zico ocupou diversos cargos ao redor do mundo, até de secretário do esporte no governo Fernando Collor (1990-1992), onde um projeto dele, não aprovado na época, serviu de base para a Lei Pelé (1999). Ele se diverte ao relembrar ‘causos’ e bolas divididas que precisou enfrentar, dentro e fora de campo.

“Quando cheguei ao Japão para assumir o Kashima Antlers, em 1991, aceitei campo sem grama, chuveiros sem água, jogadores lavando os uniformes, mas me incomodou vê-los sorrir após as derrotas, o que não considero como postura de um profissional. O país, em 30 anos, melhorou bastante no futebol, e quando venceram gigantes como Alemanha e Espanha na Copa do Mundo do Catar, me deu uma satisfação tremenda”, disse. Zico credita a evolução a princípios que podem ser aplicados não só em campo, mas em ambientes de trabalho, empresas e organizações: a importância da repetição e dos fundamentos sólidos. “Em qualquer área, se a fundação inicial não estiver sólida, jamais será possível construir uma estrutura firme sobre ela”, pontua.

Além do Brasil, onde atuou como jogador do Flamengo e coordenador técnico da seleção brasileira na Copa de 1998, Zico teve experiências na Itália, Índia, Turquia, Uzbequistão, Grécia, Iraque e Catar, onde precisou driblar aspectos religiosos enquanto trabalhou como técnico do Al-Gharafa por oito meses.

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“O treino parava para os jogadores orarem e segundo a religião islâmica, são cinco rezas ao dia. Um desses horários era no intervalo dos jogos, às três da tarde. Mudaram a hora das partidas, que passaram a começar às 14h, para que os jogadores pudessem rezar no intervalo. Contudo, no primeiro jogo, a oração demorou mais de dez minutos. Quando voltaram ao vestiário, em vez de orientá-los, falei o seguinte: ‘Acabaram de rezar? Podem, então, voltar a campo. O capitão ficou surpreso: ‘Ué, nenhuma orientação para o segundo tempo? Você não vai dizer nada para a gente?’ Respondi que não e argumentei que, como eles já haviam conversado com Alá, estava tudo certo e era para voltarem ao campo e jogar. Após esse dia, passaram a rezar por não mais de dois minutos, voando em seguida para me escutar”.

SELEÇÃO E FUTEBOL BRASILEIRO HOJE

Apesar de ter disputado três Copas do Mundo pelo Brasil, Zico diz que só treinaria a seleção caso recebesse um convite da CBF e se tivesse optado por dirigir equipes brasileiras. “Como optei por dirigir equipes fora do Brasil, não acho justo tomar o lugar de um treinador que fez todo o processo e história dentro do Brasil. Não vejo com bons olhos um treinador que trabalha no exterior, mesmo sendo brasileiro, assumindo a seleção”.

Ele também não se vê enfrentando o Flamengo a frente de uma equipe rival do time que o consagrou como campeão carioca, brasileiro, do continente (Libertadores) e Mundial. Também reflete que o futebol mudou e é preciso dançar conforme a música, além de haver uma série de interesses atualmente que prevalecem mais do que o esporte em si.

“Hoje, há um aumento de competições e de verbas, incluindo premiações sendo distribuídas, e isso te leva ao objetivo de ganhar. Antes, não havia verba para quem não fosse campeão. Atualmente, os times dividem os prêmios, ganham vagas na Libertadores, com direito de televisão. Há muito mais patrocínios, não só para os clubes, mas para os atletas. Na nossa época, não havia patrocinador na camisa e vivíamos basicamente da renda dos jogos”.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Zico é firme ao avaliar que não é positivo ter uma seleção em que todos os jogadores atuam no exterior. Ele não gosta do fato de muitos atletas jovens saírem cedo do Brasil e perderem a essência do futebol brasileiro. “Fico triste de ver a seleção brasileira assim, em sexto lugar nas Eliminatórias e eliminada de quase tudo nas categorias de base. Mas torço e gosto muito do Dorival. Ele pega o time em um momento difícil, mas tomara que Deus o ilumine para fazer um grande trabalho”.

Ele também relembra, no livro de memória, um episódio pouco feliz com megaeventos esportivos realizados no Brasil. Em 2016, Zico não foi convidado para participar do revezamento da tocha olímpica dos Jogos do Rio. Em 2021, foi convidado pelos organizadores dos jogos em Tóquio em agradecimento pelo que fez pelo futebol nacional. “O Brasil não me deu o devido reconhecimento, mas convidou para segurar a tocha um monte de gente que hoje está presa ou usando tornozeleira eletrônica devido a condutas sem ética ou caráter”, dispara.

EVENTOS DE LANÇAMENTO

“O efeito Zico” será inicialmente lançado em 20 de março, das 18h às 21h, na Livraria da Travessa do Barra Shopping, no Rio. A ideia, segundo o autor do livro, é levar a obra para lugares onde Zico for palestrar, tanto dentro quanto fora do Brasil. Marcos revela que ele e a editora estudam trazer o lançamento para São Paulo, ainda sem data definida.

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