Como se comemora título tão anunciado quanto este do São Paulo? A prestações, talvez, pois o clube, ou pelo menos a sua torcida, já vem celebrando desde que venceu no Maracanã o Botafogo, que era então (veja só o que é o futebol) um sério candidato ao título. Vem comemorando desde que conseguiu acumular gordura tão farta que não pode mais ser queimada pelos adversários. Festejou domingo, ao enterrar de vez a já remotíssima possibilidade de o Cruzeiro se converter em zebra. Deverá comemorar quando se tornar matematicamente campeão, o que pode acontecer já na próxima rodada, dependendo de uma combinação de resultados. Nesse caso, quando lhe serão entregues as faixas e a taça? No jogo seguinte ou apenas no último compromisso do campeonato? No fundo, é tudo questão de cerimonial, pois há muito tempo o São Paulo é de fato e de direito o campeão brasileiro de 2007, mesmo sendo o futebol "a little box of surprises", como disse certo dia um grande jogador. Esse tipo de comemoração que se arrasta no tempo é típico dos campeonatos por pontos corridos quando um time se destaca sobre os demais, como foi o caso do São Paulo este ano. Não se trata de botar a culpa no sistema. A culpa, se é que ela existe, é dos outros times que não se prepararam adequadamente e por isso estão comendo pó dos são-paulinos. Que devem se divertir muito vendo rivais de tradição brigando pelo segundo lugar, ou por uma vaguinha na Libertadores, que ele já conquistou faz tanto tempo. E quem ficará com essas vagas, afinal? Palmeiras, Cruzeiro, Santos, Grêmio e agora Flamengo estão no páreo que, este sim, só será resolvido nas últimas rodadas, talvez apenas no final do campeonato. Aliás, a tal "caixinha de surpresas", que é o maior lugar-comum futebolístico de todos os tempos, funcionou no caso do Flamengo. Quem diria que um time que vegetava à beira do descenso com Ney Franco poderia estar agora na boca da Libertadores sob o comando de Joel Santana? Um amigo carioca me mandou e-mail dizendo que já está providenciando passagem para Tóquio. Menos, menos. Mas que a reação do Flamengo é surpreendente, ninguém pode negar. Não se sabe quem serão os classificados para a Libertadores, mas o que se pode dizer é que terão de se reforçar caso não queiram fazer papelão no torneio. Nenhum deles, do jeito que estão, com a óbvia exceção do São Paulo, tem condições de participar da Libertadores aspirando a título. Por isso vejo com certo ceticismo essa fissura de jogadores e dirigentes (e mesmo da torcida) pela tal vaga. Será que vale tanto esforço, apenas pela participação? Ou o que se deve é entrar no torneio em condições de ganhar o título, que é o que interessa? A OUTRA FESTA A outra comemoração que deu o que falar foi a festa dos jogadores da seleção após a vitória sobre o Equador. O fato de terem fechado uma boate e dali saído no final da manhã ganhou amplo destaque. Vazou pela imprensa que Dunga teria recebido instruções de Ricardo Teixeira para falar com os jogadores e pedir mais discrição na próxima vez. Mas já pensou o que aconteceria caso a festa se seguisse a uma derrota? Ou mesmo a um empate por 0 a 0? O mundo viria abaixo, pois ainda não conseguimos distinguir o que acontece dentro de campo do que se passa fora dele. Aliás, os dribles do Robinho provaram que excesso de seriedade nem dentro de campo funciona.