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O louco bando de Leoz

Nenhum tipo de punição vai ser capaz de atenuar a dor da família do menino Kevin, morto brutalmente no Estádio Jesús Bermúdez, em Oruro. Não fosse a dimensão internacional da tragédia, o caso se transformaria em apenas mais um dado para enriquecer as estatísticas de violência nas arquibancadas. Banir os torcedores corintianos das partidas do time é uma reação enérgica, até parece um exercício de autoridade. Mesmo sem a participação direta da instituição no crime, a pena é uma forma de atingir a única coisa que realmente importa para esses fanáticos, o seu clube. O problema é a falta de credibilidade da Conmebol, apinhada de gente acostumada a usar o esporte em benefício próprio. A morte de Kevin não tem significado diante do pensamento putrefato dos insanos, sejam eles torcedores ou dirigentes. Simultaneamente ao fato, as redes sociais se transformaram no octógono da intolerância, em mais uma batalha irracional. O ambiente selvagem que emoldura o jogo na América do Sul poderá estimular reações mais ferozes da torcida corintiana, impedida, por enquanto, de acompanhar a equipe na Taça Libertadores da América. A banda podre dos estádios é constituída por uma minoria, infelizmente tolerada pelas ditas autoridades do futebol, dos clubes aos governos. O poder, lamentavelmente, só se move quando surge um defunto para empurrá-lo. A catástrofe da Boate Kiss é uma prova de quanto vale a vida por aqui. E como a segurança nos locais de muita aglomeração de pessoas é negligenciada. Quem frequenta o cimento imundo da geral sabe que bastaria uma vistoria meia boca para lacrar os portões de boa parte das "praças esportivas" nacionais. Não precisamos de mortes para estimular atitudes racionais. O problema é que esquecemos com facilidade, e logo Kevin será apenas uma lembrança triste. O fato, porém, impõe reflexão e mudança, como a divisão da responsabilidade, dos que acirram rivalidades explosivas às autoridades do futebol. Não é difícil entender a indignação do Corinthians. Se é para atingir todos os responsáveis por tragédias como essa, o ideal seria iniciar com uma autopunição da diretoria da Confederação Sul-Americana, incapaz de tornar a cobrança de um singelo escanteio em algo seguro. O estádio precisa ser um lugar de paz, de gente civilizada, mesmo que o custo seja banir os animais da festa. Na contramão disso, de avalanches como a da torcida do Grêmio ou do uso de qualquer artefato que possa colocar a vida em risco, sempre haverá a defesa do perigo como forma de sublimar a espécie que habita a trincheira da arquibancada. É quando você ouve que "o futebol está chato" ou que o politicamente correto está acabando com ele. O que pensa a família de Kevin? Se nada acontecer, saberemos, mais uma vez, quem é quem no futebol sul-americano, desde 1986 usurpado por Nicolás Leoz, o presidente da Conmebol, e seu louco bando de puxa-sacos.

Por Paulo Calçade
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