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Um passo para o futuro

A CBF não tem noção do tamanho da evolução ao trocar Dunga por Tite

Por Paulo Calçade
Atualização:

A estreia do técnico Tite deu à seleção brasileira algo mais do que os três pontos imprescindíveis nas Eliminatórias Sul-Americanas. Havia um comportamento diferente em campo. A equipe que ninguém respeita mais deu sinais de que pode erguer a cabeça e se libertar de alguns de seus fantasmas.

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O primeiro tempo daquela partida contra o Equador mostrou que a altitude de 2.850 metros na região do Estádio Olímpico Atahualpa não ampliaria a força do adversário. O desafio emergencial era recuperar a confiança, além de fazer os jogadores perceberem que finalmente havia um técnico de verdade no comando da equipe. Então, nada melhor que o trabalho, iniciado com uma convocação criticada.

As primeiras ações da seleção foram típicas de um período de incertezas, de quem vinha da escuridão, do martírio e do sofrimento da terceira era Dunga.

O empate não seria mau negócio, o próprio Tite dizia isso, mas a vitória poderia melhorar a autoestima tão necessária para um futebol que passou a se enxergar pequeno diante do espelho. Mas não se engane, há muito o que fazer ainda.

Uma das missões de Tite é libertar os jogadores das dúvidas e fazê-los jogar melhor, inclusive Neymar, ainda preso ao posto de super-homem da seleção. Esta geração não é ruim, ela precisa de desenvolvimento, ganhar musculatura para se apropriar do futebol que corre o risco, se nada for feito, de virar apenas uma referência histórica.

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Gabriel Jesus jogou com a convicção de quem vai ser grande, é a síntese do jogo que permanece em constante renovação, apesar de todas as suas mazelas e fraquezas. Sua noção tática e o entendimento das funções que pode exercer em campo impressionam, e são apenas 19 anos de idade. 

A Colômbia, nesta terça, promete ser um adversário muito mais difícil. Vem de três vitórias consecutivas, tem bons jogadores e rivalidade crescente com o Brasil. Classificado num incômodo quinto lugar, a seleção, além dos pontos, precisa mostrar que mesmo num espaço tão curto de tempo deu um passo para o futuro. 

Não se deve, porém, perder tempo com besteiras. Tanto faz se taticamente a seleção se assemelha ao Corinthians de 2015. Clubismos à parte, na reforma do modelo de jogo, o mais importante é ter gente que possa executá-lo. Como se perde tempo debatendo bobagens por aqui.

Tite venceu o primeiro round por nocaute. Depois dos 3 a 0 no Equador, sua convocação parou de ser questionada. Paulinho e Taison deixaram de ser problemas, pelo menos até a amanhã. É a cultura do resultado como único balizador das escolhas.

É bem provável que a CBF não tenha percebido o tamanho da evolução ao trocar Dunga por Tite. Se fosse assim tão claro, não teria desperdiçado dois anos na preparação da equipe para a Copa da Rússia. 

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A turma do prédio José Maria Marin, na Barra da Tijuca, tem dificuldade de enxergar o óbvio e fazer as escolhas certas. Tite e o campeão olímpico Rogério Micale representam a transformação mais radical experimentada pela seleção brasileira nos últimos tempos. E não se trata apenas de mudança de caráter, na forma de se relacionar com o mundo do futebol e com os jogadores. Vai além, é mais complexa, é conceitual.

Muda o ambiente em torno da seleção, agora mais leve, direcionado ao rendimento, às exigências do futebol atual, que muitos preferem chamar de moderno. Sinceramente, não sei o que é esse tal de futebol moderno. Talvez seja o futebol contemporâneo, que tem um formato hoje e talvez outro amanhã, fazendo com que o jogo e a sociedade caminhem juntos. 

O futebol datado perdeu a validade, o jogo se molda ao ambiente no qual está inserido. Mas quantos estão preparados para interpretá-lo? Tite e Micale conseguem enxergar essas demandas, pena que chegaram tão tarde.