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Rayssa Leal ainda não tem noção de seu tamanho e quer ouro olímpico antes de ser médica veterinária

Aos 16 anos, prodígio do skate diz levar vida de ‘adolescente comum’ e prepara novas manobras para brilhar na Olimpíada de Paris

Foto do author Ricardo Magatti
Por Ricardo Magatti

Rayssa Leal não é mais criança - e faz questão de enfatizar isso em cada entrevista. A skatista de 16 anos, completados em janeiro, resolveu dispensar o apelido de fadinha, que ganhara quando, aos 7 anos, surgiu vestida de fada andando de skate em vídeo amador gravado pela mãe que se tornou viral graças à republicação do americano Tony Hawk, um dos maiores skatistas de todos os tempos.

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A maranhense de Imperatriz cresceu, amadureceu, evoluiu no esporte e bolou novas manobras. Depois da prata nos Jogos de Tóquio, em 2021, seu objetivo, claro, é sair da Olimpíada de Paris com a medalha de ouro no peito, o que a tornaria a atleta brasileira mais jovem a ser campeã olímpica. Para isso, deve lançar mão de novas manobras no skate street, modalidade em que compete, que tem treinado com sua equipe.

“Eu tento aprender manobras novas para o World Skate em si, para as ‘vídeo parts’ (apresentação de um skatista fazendo manobras) que quero lançar no futuro. Ando sempre com meu irmão, cada um puxa o outro, e fica mais divertido. Estou esperando que essas manobras vão ajudar, estou contando que dê nota para uma medalha de ouro em Paris”, afirma.

“Eu quero trazer o ouro para o Brasil, quero dar muito orgulho para todos os brasileiros. Ter aquela sensação de subir no pódio em primeiro lugar, ter o hino do Brasil tocando é uma coisa totalmente diferente”, continua.

A estrela do skate leva a vida de uma adolescente “comum”, embora não seja uma. Ela diz fazer, ainda que com mais proteção, as mesmas coisas que fazia quando ainda não tinha a fama e a exposição que vieram graças ao seu sucesso no esporte, principalmente depois da prata em Tóquio, conquistada quando tinha 13 anos.

“Continuo a mesma adolescente, tenho diferenças para um ‘adolescente normal’, mas a minha famí­lia e amigos que são próximos a mim não me deixam mudar”, diz a jovem. “Eu continuo indo aos aniversários, à escola, fazendo todas as coisas normais que todo adolescente faz”.

Rayssa Leal quer ouro olímpico em Paris para coroar nova fase Foto: Leo Souza/Estadão

Desde ao menos seus 13 anos que a rotina da skatista é atribulada. São treinos, campeonatos, viagens nacionais e internacionais, entrevistas e diversos compromissos comerciais. “É bem corrido, não estou acostumada ainda. São vários campeonatos, mas é algo de que eu gosto, eu amo andar de skate. Isso torna tudo mais fácil. E eu sempre estou com a minha família, aí fica mais fácil”, explica ela. “Em cada ada lugar eu vivo uma experiência diferente. Falo que sou muito privilegiada de conhecer tantos lugares tão jovem”.

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A trajetória no esporte ela administra em paralelo com os estudos, aulas e provas. Rayssa estuda desde 2017 em uma escola particular em Imperatriz, sua cidade natal localizada a pouco mais de 600 km da capital São Luís. É lá em que vai terminar o ensino médio. Mas e depois? “Quando eu era pequena, queria ser médica veterinária. Quero me formar só para realizar esse sonho de criança”, revela.

Inspiração para milhares de garotas

Inspirada por Letícia Bufoni quando começou, Rayssa inspira milhares de meninas que querem ser como é a skatista e alcançar o que ela alcançou. Por anda passa, dá autógrafos e tira fotos em profusão, principalmente em Imperatriz, como constatou na última vez em que esteve na pista de skate de sua cidade “Hoje existem muitas meninas que andam de skate em Imperatriz. Fazia um tempo que eu não ia na pista onde treinava da minha cidade, eu não sabia que tinham aparecido tantas crianças para andar de skate e se divertir. Ver aquilo foi muito especial e inspirado pra mim porque eu me via naquelas garotas. Eu pensava: ‘um dia, eu já passei por isso’. E eu continuo assim’”, reflete.

A campeã mundial aconselha com incentivos as skatistas que encontra. “Falei pra elas não desistirem porque se você sonha você pode realizar. Cada um tem um sonho e aquelas meninas têm a meta de andar skate por toda a vida. É muito lindo tudo o que a gente vive no skate”.

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Carismática, Rayssa dá conselhos e ajuda como pode novos talentos. Mas a ficha, para a jovem, ainda não caiu quanto ao seu papel de protagonismo e representatividade no esporte, como mulher bem-sucedida. “Eu tento entender tudo o que eu faço pelo meu esporte, pelas mulheres e meninas, mas não cai a ficha de, tão nova, fazer tudo isso”, admite.

“É uma diversão pra mim e, com o passar do tempo, acaba virando um trabalho porque, querendo ou não, a gente viaja para andar de skate, pra competir, para conhecer lugares novos. Eu falo que é uma diversão com responsabilidade. Acho que cada ato tem consequência, fora ou dentro da pista. Mas acho que não vai cair a ficha tão cedo”.

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Fenômeno das marcas

A meteórica como estrela precoce do esporte ao longo dos últimos anos transformou a jovem skatista em um fenômeno comercial e midiático, com contratos milionários e milhões de seguidores que a acompanham diariamente nas redes sociais.

Queridinha de algumas das mais conhecidas marcas do mundo, Rayssa é patrocinada por uma série de empresas. April Skateboard, Banco do Brasil, Docile, Monster Energy, Nescau, Nike e Vivo são algumas delas. A mais famosa talvez seja a grife francesa Louis Vuitton, da qual se tornou embaixadora global recentemente. Partiu da grife o convite para a brasileira ir ao desfile da marca na Semana da Moda de Paris, no mês passado.

Mas o sucesso, a fama e o dinheiro não mudaram Rayssa nem tiraram seus pés do chão. A prodígio do skate faz as mesmas atividades de antes de virar uma estrela, mas com algumas precauções. “Tomo cuidado quando vou sair, sempre saio com meus irmãos, porque é divertido e porque me sinto mais segura saindo com eles. Lá em Imperatriz, prefiro sair com eles, todo mundo conhece todo mundo, a gente vai ao shopping, cinema, festinhas”.

O que também não mudou foi a maneira como enxerga o skate. Para ela, não é um esporte, mas um estilo de vida, algo compartilhado pela maioria dos skatistas. “A gente não treina, chega na pista e vê se dá vontade de fazer as manobras. Pode soar estranho, mas skate é muito mais que campeonato. A gente tem ‘vídeo part’, marcas que só no skate. Bem antes de ser esporte olímpico, o skate já era o skateboard mesmo das ruas”, justifica.

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