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Entenda por que a Rede Globo não vai mais transmitir a Fórmula 1 a partir do ano que vem

Fatores econômicos, falta de pilotos brasileiros e formato das transmissões televisivas contribuem para o fim da parceria

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Por Ciro Campos
Atualização:

A decisão da Rede Globo de comunicar patrocinadores de que não vai renovar o contrato para exibir a Fórmula 1 no ano que vem sela uma grande mudança na história da categoria com o Brasil. Presente na TV aberta desde os anos 1970, a competição agora vive um impasse sobre como e onde será transmitida para o público brasileiro a partir de 2021. Pelo menos até o fim deste ano a presença da corrida na grade da emissora está assegurada.

O Estadão explica abaixo alguns dos motivos que pesaram para a falta de acordo entre a Rede Globo e os donos da categoria, o grupo americano Liberty Media. As causas vão além de somente incluir a parte financeira e incluem até mesmo propostas da Fórmula 1 para diversificar a transmissão. Em nota, a Globo confirmou que não vai mais transmitir. "Como parte da revisão de seu portfólio de direitos, um dos maiores entre emissoras de TV do mundo, a Globo optou por não renovar os direitos de transmissão da Fórmula 1 a partir de 2021", disse o texto. Confira os motivos principais:

Fórmula 1 deixará de ter exibição na Globo no próximo ano Foto: John Thys/AFP

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Negociação frustrada

O acordo entre as partes não evoluiu por questões financeiras principalmente. Em relação ao último contrato, feito em 2015, a Rede Globo sinalizou pagar um valor inferior nesta nova negociação segundo apurou o Estadão. A categoria não quis ceder. Uma reunião no fim do ano passado entre diretores das duas partes envolvidas já havia deixado para todos os envolvidos a sensação de que o desfecho não seria positivo.

Dificuldades econômicas

O cenário de crise econômica provocado pela pandemia do novo coronavírus tem afetado tanto o mercado de patrocínio como também a própria emissora carioca. A Globo recentemente obteve uma liminar na Justiça para adiar o pagamento de R$ 460 milhões para a Fifa pelos direitos de transmissão de Copa do Mundo e também comunicou a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) que pretende rescindir o acordo referente à Copa Libertadores. Por isso, a dificuldade de negociar com a Fórmula 1 foi um desdobramento natural de todo esse contexto.

Falta de brasileiros

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Apesar de o Brasil ter uma das maiores audiências mundiais na Fórmula 1, a Rede Globo avaliou que a possível ausência de pilotos brasileiros pesa para uma queda de interesse pelo produto nos próximos anos. Assim como a China, o País é um dos poucos do mundo a ter transmissão das provas em TV aberta. Ainda assim, a audiência das provas transmitida neste ano ficou ao redor dos dez pontos de Ibope para a Grande São Paulo. Desde a saída de Felipe Massa, no fim de 2017, o Brasil não tem representantes no grid.

Relação com os novos donos

Os novos donos da Fórmula 1, o grupo americano Liberty Media, tem com a Globo uma relação diferente do que era até o fim de 2016 com o antigo chefe da categoria, Bernie Ecclestone. O dirigente inglês sempre manteve boa relação com a emissora e foi o responsável por assinar, inclusive, o contrato de transmissão ainda em vigor. Nas conversas entre Globo e Liberty Media foram marcadas por algumas divergências não só sobre valores, como também a respeito de formatos nas transmissões.

Chase Carey é o diretor executivo do grupo Liberty Media, que controla a Fórmula 1 Foto: Edgar Su/Reuters

Tratamento ao produto

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Um dos principais temas que desagradava o Liberty Media na relação com a Rede Globo era o pouco espaço da Fórmula 1 na programação da emissora. Mesmo com transmissão das provas na TV aberta e com grande alcance de público para o Brasil, os dirigentes da categoria entendiam que o evento deveria ser mais valorizado. Entre os motivos disso estão a escolha da Globo em exibir os treinos no canal fechado SporTV assim como só iniciar a transmissão das corridas, aos domingos, momentos antes da largada.

Pré e o pós-corrida

Os momentos pré-largada são considerados de grande importância estratégica para o Liberty Media pela exposição dos patrocinadores e pela grande atenção do público nos momentos de expectativa antes da corrida. Por isso, anos atrás os donos da Fórmula 1 até fizeram uma mudança no horário do início de todas as etapas. Em vez de iniciarem no horário local de cada país às 14h ou 15h, por exemplo, o início foi adiado em dez minutos. Essa mudança teve como objetivo facilitar a acomodação do evento nas grades de programação de todas as TVs, para que pudessem iniciar a exibição das imagens mais cedo.

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Pilotos no pódio do GP da Espanha de 2020 Foto: Alejandro Garcia/Reuters

No entanto, a Rede Globo costuma abrir as transmissões das provas somente poucos menos antes da largada. No fim do GP, a Globo não tem exibido ao vivo ao pódio. No entender da categoria, a cerimônia de premiação é importantíssima para valorizar os patrocinadores de cada um dos GPs, já que as principais marcas ficam expostas no painel montado atrás dos pilotos.

Novos modelos de transmissão

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Como no acordo atual entre Fórmula 1 e Rede Globo a emissora tem total controle sobre a transmissão para o Brasil, o Liberty Media queria alinhar o novo acordo junto com algumas mudanças. A principal delas é possibilitar ao público brasileiro a partir de 2021 o acesso integral à plataforma de streaming da própria categoria. Além das corridas na íntegra, o material terá entrevistas exclusivas e imagens de mais câmeras onboard. A Globo se mostrava resistente à proposta da entrada da plataforma no mercado brasileiro por considerar que se tratava de um concorrente à exibição na TV aberta.

E o GP do Brasil?

A continuidade do País no calendário da categoria não está garantida para o próximo ano. São Paulo não tem contrato para receber a Fórmula 1 em 2021 e tenta renovar o acordo. O Rio de Janeiro, por sua vez, procura viabilizar a construção de um autódromo a tempo. No entanto, segundo apurou o Estadão, esse impasse não é considerado no momento uma causa que interferiu na falta de renovação entre Globo e Liberty Media.

"Certamente a FOM (Formula One Management) está analisando outras opções para a transmissão, pois deixar o importante mercado brasileiro de fora da cobertura do Mundial de Fórmula 1 não é uma opção. De qualquer forma a questão do GP Brasil anda de forma independente da questão da transmissão", disse ao Estadão o promotor do GP do Brasil, Tamas Rohonyi.

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