Ações do grupo Proud Boys no Capitólio foram planejadas e coordenadas, indica investigação

Autoridades buscam pistas para entender fracasso da polícia em controlar manifestantes; democratas reúnem vídeos para construir caso emotivo contra ex-presidente Donald Trump

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Por Redação
Atualização:

WASHINGTON - Um escudo antimotim da polícia usado para quebrar uma janela, uma porta aberta por dentro - novos documentos judiciais detalham os primeiros momentos da invasão do Capitólio dos EUA em 6 de janeiro, que deixou cinco pessoas mortas e mais de 100 policiais feridos.

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Uma queixa criminal contra dois irmãos e um memorando de detenção contra um membro proeminente do grupo Proud Boys ajudam a explicar como, acredita o governo, um segmento conseguiu romper uma pequena fileira de policiais do Capitólio. Nestes e em outros processos, os promotores rastreiam as ações de possíveis instigadores-chave na tomada do Capitólio, incluindo membros do Proud Boys - um grupo nacionalista e nativista de extrema direita com histórico de violência - e outros grupos extremistas de direita.

De acordo com promotores, citando um vídeo de vigilância e registros em mídias sociais, o membro do Proud Boys Dominic Pezzola foi um dos primeiros a liderar o ataque tanto fora quanto dentro do Capitólio, ajudando a subjugar as defesas da polícia depois de roubar o escudo antimotim de um policial.

Pezzola, conhecido como "Spaz" foi um dos primeiros manifestantes a atacar a fileira de policiais localizada atrás de um portão de pedestres no terreno do Capitólio, afirmaram os promotores.  A multidão avançou em direção a um segundo conjunto de barricadas na praça oeste do Capitólio, onde Pezzola e outro membro do Proud Boys arrastaram um pedaço da cerca, deixando a polícia desprotegida e ajudando milhares de pessoas a seguirem para o terreno do Capitólio, disseram os promotores. Em seguida, Pezzola foi um dos primeiros a alcançar outra linha policial na base do Capitólio.

Membros do Proud Boys, incluindo Robert Gieswein (de capacete) e Dominic Pezzola (de óculos escuros), confrontam polícia do Capitólio durante invasão de 6 de janeiro Foto: Erin Schaff/NYT

Momentos depois, Pezzola pode ser visto em vídeo puxando um escudo antimotim, informaram os promotores. Ele é então visto em imagens usando o escudo para quebrar a janela de um prédio às 14h13, de acordo com documentos judiciais.

Na sexta-feira, um grande júri federal acrescentou uma acusação contra Pezzola, 43, e William Pepe, 31, um suposto membro do Proud Boys. Os promotores disseram que os homens conspiraram para obstruir e impedir a polícia de proteger o Capitólio. Dois irmãos de Montana, Joshua Calvin Hughes e Jerod Wade Hughes, teriam seguido Pezzola até a janela e ajudaram a derrubar uma porta por dentro, dando acesso a mais manifestantes, acrescentaram.

Os irmãos Hughes foram acusados ​​na quinta-feira de crimes relacionados à destruição de propriedade, obstrução da aplicação da lei e interrupção de um processo governamental. Pezzola, que enfrenta acusações semelhantes, agora é acusado de dois crimes adicionais de violência por ter agredido a polícia e roubado o escudo antimotim.

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Ao lado de Pezzola em um confronto com oficiais dentro do Capitólio estava Robert Gieswein, 24, um treinador paramilitar do Colorado e suposto membro do grupo anti-governamental de direita Três por cento, de acordo com os promotores, que também acusaram Gieswein. Ele foi filmado várias vezes dentro e fora do Capitólio em trajes militares, movendo-se com os Proud Boys, alegaram os promotores.

Falhas

As investigações internas e do Congresso estão examinando o fracasso das forças de segurança em afastar os manifestantes, que conseguiram acesso ao prédio forçando legisladores a procurar refúgio enquanto a multidão enfurecida pedia por suas mortes. Nos processos judiciais, as autoridades dizem que a polícia foi superada em número por manifestantes em cada esquina.

De acordo com os promotores, os membros do Proud Boys usaram dispositivos de comunicação estilo walkie-talkie para se coordenar durante o ataque. No computador de Pezzola, agentes do FBI encontraram informações sobre como fabricar armas de fogo, venenos e explosivos caseiros. Uma vez dentro do Capitólio, dizem as autoridades, Pezzola e os irmãos Hughes se envolveram em um confronto com o policial do Capitólio Eugene Goodman ao pé de uma escada, de acordo com a declaração de um agente do FBI, “avançando...de uma forma ameaçadora". Enquanto Doug Jensen, 41, de Des Moines é identificado como “agressor primário”, os irmãos Hughes “seguiram imediatamente” atrás dele, escreveu o agente. Pezzola, segundo promotores, também fez parte do grupo.

Democratas apelam para emoção

Os democratas da Câmara buscaram novas imagens do cerco ao Capitólio, bem como detalhes atualizados sobre policiais feridos, com objetivo de construir um processo de impeachment emocionalmente convincente contra o ex-presidente Donald Trump.

O objetivo é apresentar ao Senado novas evidências que revelem o que Trump sabia antes do tumulto e também como suas palavras e ações influenciaram aqueles que participaram do ataque. 

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Vídeo, áudio e outros materiais visuais são considerados ainda mais essenciais para justificar a condenação no segundo julgamento de impeachment de Trump, de acordo com assessores envolvidos na estratégia dos democratas na Câmara.

O esforço para apresentar novas evidências em vídeo e depoimentos de testemunhas parece ter o objetivo de deixar os senadores republicanos em posição desconfortável enquanto se preparam para votar pela absolvição de Trump, como muitos indicaram que farão. A perspectiva de policiais feridos descrevendo a brutalidade dos desordeiros pró-Trump para os republicanos que regularmente se apresentam como defensores da aplicação da lei poderia criar uma cena extraordinária na televisão nacional.

No entanto, a estratégia parece estar em rota de colisão com o Senado, onde democratas e republicanos expressaram relutância em permitir o depoimento de testemunhas, sob interesse de limitar a duração do julgamento a cerca de uma semana. Ambos os partidos estão ansiosos para ultrapassar os últimos dias da presidência de Trump, com os democratas esperando voltar sua atenção para a ambiciosa agenda legislativa do presidente Biden e os republicanos esperando desviar a atenção de seu papel de porta-estandarte na revolta.

Ainda não se sabe se testemunhas poderão ser convocadas para depor. A decisão cabe ao Senado.  As regras do julgamento ainda estão em negociação e podem não ser finalizadas até pouco antes do início do processo em 9 de fevereiro.