TEL-AVIV- O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, pediu na noite desta terça-feira, 21, em pronunciamento de rádio e TV o apoio de seu gabinete para aprovar um acordo de libertação de ao menos 50 reféns do grupo terrorista Hamas, mantidos pelos radicais na Faixa de Gaza desde os atentados terroristas de 7 de outubro. O acordo prevê também uma pausa de três a cinco dias nos ataques e a libertação de cerca de 100 mulheres e jovens palestinos detidos em Israel, segundo autoridades envolvidas nas negociações.
O pedido público do primeiro-ministro serve como pressão política, sobretudo sobre a ala mais radical do gabinete, ligada a partidos religiosos e de colonos judaicos na Cisjordânia, que hesitam em dar o sinal verde para a aprovação.
“Estamos diante de uma decisão difícil, mas é a decisão correta”, disse Netanyahu em pronunciamento na TV. “Os órgãos de inteligência (Mossad e Shin Bet) aprovam o acordo. A guerra tem seus estágios e a libertação de reféns é um deles. Apesar disso, não descansaremos até alcançar a vitória total e trazer todos de volta.”
O pronunciamento de Netanyahu ocorre em meio a uma sequência intensa de reuniões entre os ministros do governo, bem como entre e negociadores americanos, cataris e israelenses. Segundo duas fontes do governo de Israel, que pediram para não ser identificadas por não poder comentar o tema publicamente, uma votação deve ocorrer ainda hoje. O ponto mais divisivo do acordo é a trégua nos ataques.
Negociações em andamento
Os reféns que devem ser libertados da Faixa de Gaza se um acordo for alcançado incluirão 30 crianças, 8 mães e 12 mulheres, segundo o jornal Haaretz. Se o acordo for aprovado, a troca deve ser feita na quinta-feira, 23.Mais cedo, Netanyahu disse estar otimista sobre as negociações.
De acordo com o jornal Times of Israel, o acordo conta com a oposição dos partidos Tkuma (Partido Zionista Religioso) e Otzma Yehudit por não incluir todos os 240 reféns que estão em Gaza, mas Netanyahu deve obter a aprovação com votos de seu partido, o Likud, e da Unidade Nacional. Somados, seriam 19 votos a favor e 6 contra.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também mostrou estar otimista com a perspectiva de um acordo. “Estamos muito, muito perto”, disse o presidente americano na manhã desta terça. “Podemos levar alguns desses reféns para casa muito em breve. Não quero entrar em detalhes das coisas porque nada é feito até que seja feito. E quando tivermos mais a dizer, faremos. Mas as coisas estão bem no momento.”
Protestos de israelenses para pressionar o governo a aprovar a troca foram registrados em Tel-Aviv. O gabinete de crise de Netanyahu também se reuniu nos últimos dias com parentes dos reféns, que pediram esforços para a libertação dos reféns.
Com o aumento da pressão interna e externa, o governo israelense parece estar mais aberto que antes para concretizar o acordo. A posição inicial pública foi de linha dura contra o Hamas, com a negativa de um cessar-fogo até a libertação de todos os reféns. Após 46 dias de guerra, com morte de reféns no período, Israel está mais disposto a trocas graduais.
O Hamas disse que busca um cessar-fogo total e a libertação de todos os prisioneiros palestinos das prisões israelenses. Também acrescentou uma nova condição para libertar reféns civis: a entrega de combustível aos hospitais em colapso da Faixa de Gaza. Israel permitiu a entrada parcial de combustível em Gaza nos últimos dias para operações de socorro da ONU, mas se opôs a mais envios com o argumento de que o combustível pode ser desviado pelos terroristas para uso militar.
Um membro do braço político do grupo, Isaat el Reshiq, disse mais cedo à TV Al-Jazeera que as negociações estavam centradas em quanto tempo duraria a trégua, logística para a entrega de ajuda em Gaza e detalhes da troca de reféns. Ambos os lados libertariam mulheres e crianças, e os detalhes seriam anunciados pelo Catar, responsável pelas negociações.
Se o acordo avançar, será a primeira pausa e troca em massa de prisioneiros desde o ataque do Hamas em Israel, no dia 7 de outubro, e a consequente ação israelense. Cerca de 1,2 mil pessoas morreram no dia 7, segundo Israel. Já na Faixa de Gaza, segundo o Ministério da Saúde do enclave, controlado pelo Hamas, as mortes chegam a 13,3 mil, incluindo 5,6 mil crianças.
No momento, nenhum dos 36 hospitais de Gaza está funcionando o suficiente para tratar casos críticos de trauma ou realizar cirurgias, disse a Organização Mundial da Saúde (OMS). /COM NYT
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