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Advogada de ?Chacal? vai defender indiciado nos EUA

Por Agencia Estado
Atualização:

A defesa do francês Zacarias Moussaoui, indiciado pelo tribunal federal no Estado da Virginia, nos EUA, por conspiração e cumplicidade com a rede terrorista Al-Qaida, acusação passível de ser punida com a pena de morte, será assegurada pela advogada do mais conhecido terrorista do fim do século passado, o venezuelano Carlos, o "Chacal". Trata-se de Isabelle Coutant Peyre, que aguarda apenas a homologação de seu divórcio para se casar com seu cliente, atualmente cumprindo pena numa penitenciária francesa. Ela foi contratada por Aicha, mãe de Zacarias Moussaoui, que havia decidido recusar a "proteção consular " anteriormente oferecida pelo governo francês, uma oferta reafirmada nesta quarta-feira pela ministra da Justiça, Marilyse Lebranchu. A advogada de Carlos e agora de Zacarias reivindica que o acusado seja repatriado para a França, convencida que de ele ?está condenado por antecipação nos Estados Unidos". A ministra Lebranchu, também contrária à pena de morte, afirmou que "toda pessoa que se beneficia da proteção consular francesa não deve ser executada". Se o indiciado pode ser condenado à morte nos Estados Unidos, na França, de onde é originário, e em todos os demais Estados da União Européia, a pena capital já foi totalmente abolida. A ministra promete manter contato com as autoridades judiciárias norte americanas para que o acusado não seja condenado à morte. Esta iniciativa não deve ser interpretada como uma interferência no processo judicial, mesmo porque outros franceses têm sido julgados nos EUA por crimes cometidos naquele país. A recusa de Zacarias Moussaoui evita uma nova pendência nas relações entre Washington e Paris, cujas posições desde o inicio da crise dos atentados não têm sido inteiramente convergentes. Também a União Européia tem manifestado uma oposição decidida à pena de morte nos Estados Unidos, país que detém o recorde das execuções em todo o mundo. Nesta quarta-feira, ouvida sobre a recusa manifestada por Zacarias, sua mãe Aicha, de origem marroquina, que vive na França desde os 18 anos de idade, insistiu em reivindicar aos prantos a repatriação de seu filho para a França, onde afirma confiar na Justiça, enquanto a América lhe ?dá medo". Ao mesmo tempo, o dirigente da extrema-direita francesa, Bruno Megret, solicitou que o governo retire a nacionalidade francesa de Zacarias. Nos EUA, Zacarias é acusado de ser o quinto terrorista que deveria embarcar no avião que não atingiu seu objetivo final e se espatifou contra o solo. A prisão de Zacarias Moussaoui é fruto da cooperação policial e judiciária exemplar entre a França e os EUA, apesar do mal-estar causado pelas dificuldades de integração dos militares franceses à operação norte-americana no Afeganistão. O juiz antiterrorista da França, Jean Louis Bruguière, foi o primeiro a sugerir às autoridades norte-americanas uma investigação mais profunda sobre as atividades de Zacarias nos EUA, pois havia suspeita do envolvimento dele com redes terroristas e informações sobre suas viagens ao Paquistão e Afeganistão. Depois de estada de cinco anos em Londres, para estudar inglês, já se sentia o fanatismo religioso do acusado, segundo depoimentos. Na sua volta da Inglaterra, ele ofereceu à irmã, Jamila, dois livros editados em francês - "O Islã pelo Martírio" e "Caminhemos na Rota do Islã". O FBI , inicialmente, não pareceu dar muita importância à informação francesa, apesar de Zacarias ter sido detido no dia 16 de agosto, um mês antes dos atentados do World Trade Center, detenção justificada por infração às leis de imigração norte-americanas. Só depois do 11 de setembro, as autoridades se interessaram mais de perto por suas atividades, estabelecendo uma relação entre ele e o grupo Al-Qaida, responsabilizado pelos atentados. Recentemente, em carta dirigida à sua mãe, publicada no mês passado pelo jornal Le Monde, Zacarias procurava acalmá-la: "Eles vão procurar fabricar provas e testemunhas, mas eu tenho provas, testemunhas e Alá para ridicularizar esse complô". Dias depois, a ministra da Justiça da França confirmava à mãe do indiciado: "Seu filho, como todos os franceses que se encontram em outro território, são beneficiários da proteção consular, isto é, do direito de defesa, assistência jurídica, visitas da família, e isto é importante que você saiba, pois ele deverá ser seguido passo a passo pelo consulado francês". Leia o especial

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