Aliados de Trump vencem primárias estaduais republicanas com discurso de fraude eleitoral

As primárias entram na reta final com mais seis semanas de disputas internas nos partidos antes das eleições de meio de mandato que determinarão o controle do Congresso dos EUA

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Por Redação

WASHINGTON - As vitórias de aliados do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nas eleições primárias reafirmam a sua influência sobre o Partido Republicano, onde busca eliminar críticos, instalar partidários em cargos estaduais importantes e espantar potenciais rivais em 2024. Enquanto isso, a derrota de não aliados expõe o quanto o núcleo conservador do partido está empenhado em expulsar aqueles que ousaram ir contra Trump.

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As primárias da última terça-feira, 2, em cinco estados – Arizona, Michigan, Missouri, Kansas e Washington – deram início a uma sequência final de seis semanas de disputas intrapartidárias antes das eleições de meio de mandato que determinarão o controle do Congresso americano.

As eleições também ajudarão a fornecer uma imagem mais completa das prioridades do Partido Republicano em 2022, quão apertado o controle de Trump permanece na base e até que ponto suas acusações falses sobre uma eleição roubada em 2020 infectaram o eleitorado.

O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump Foto: MANDEL NGAN / AFP

Muitos estrategistas republicanos, no entanto, estão ansiosos para ir além das primárias e deste período de lutas internas para se concentrar totalmente em derrotar os democratas em novembro e aproveitar a popularidade cada vez menor do presidente Joe Biden e as crescentes frustrações dos eleitores sobre a inflação e o estado da economia americana.

Arizona

Várias das principais disputas republicanas foram no Arizona, um importante campo de batalha presidencial com uma disputa aberta para governador, uma vaga no Senado com resultado contestado por uma das candidatas e várias disputas acirradas na Câmara.

O legislador estadual Mark Finchem – parte de uma coalizão nacional de candidatos de extrema-direita que rejeitam sem provas os resultados das eleições de 2020 e querem supervisionar a votação em 2024 – foi projetado para ganhar a indicação republicana para secretário de Estado do partido. Blake Masters, candidato pela primeira vez que passou a maior parte de sua carreira no Vale do Silício e disse acreditar que Trump venceu em 2020, foi projetado para ganhar a indicação republicana para o Senado no estado. Ambos foram apoiados por Trump.

Uma terceira candidata do Arizona apoiado por Trump, a ex-âncora de TV Kari Lake, estava em uma corrida acirrada para a indicação para governadora do Partido Republicano. Na competição estava Karrin Taylor Robson, que tem o apoio de republicanos que rejeitam a pressão de Trump para interferir nas eleições de 2020 – incluindo o ex-vice-presidente Mike Pence.

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Mark Finchem, o candidato da Partido Republicano para secretário de Estado do Arizona Foto: Ross D. Franklin/AP

Lake, que fez da fraude eleitoral uma peça central de sua candidatura, declarou vitória em um momento em que estava muito atrás na contagem de votos. “Ganhamos esta corrida”, disse Lake em sua festa na noite da eleição. “Ponto.” Mais tarde, ela assumiu a liderança pela primeira vez.

E em uma vitória particularmente simbólica para Trump, Rusty Bowers, o presidente republicano da Câmara do Arizona que ganhou atenção nacional depois de testemunhar contra Trump nas audiências do Congresso em 6 de janeiro, perdeu sua candidatura ao Senado Estadual para o ex-senador estadual David Farnsworth.

Michigan

Em Michigan, um republicano da Câmara que votou pelo impeachment de Trump, o deputado Peter Meijer, foi derrotado por um ex-funcionário do governo Trump, John Gibbs, e a escolha de última hora de Trump para governador, o comentarista conservador Tudor Dixon, que ecoou suas falsas alegações de fraude eleitoral, ganhou facilmente.

Trump ligou pessoalmente para Gibbs para parabenizá-lo. “Sim, senhor, seus endossos têm um histórico muito, muito bom”, disse Gibbs a ele. O que Trump respondeu: “Estou muito orgulhoso de você. Fez um ótimo trabalho”.

Trump e seus aliados têm se concentrado particularmente no processo de contagem e certificação de votos no Arizona e em Michigan, buscando expulsar aqueles que estavam no caminho de suas tentativas de derrubar a eleição de 2020.

O republicano Peter Meijer enquanto espera os resultados eleitorais das primárias do partido para o Michigan Foto: Brittany Greeson/The New York Times

A vitória de Finchem para secretário de Estado no Arizona, que reconheceu publicamente sua afiliação ao grupo de milícia Oath Keepers e marchou ao Capitólio em 6 de janeiro, foi um sinal chave de como o movimento “Pare o Roubo” (Stop the Steal, em inglês), que se formou com base em uma falsidade sobre 2020, se transformou em uma campanha generalizada para tentar assumir o controle das regras democráticas antes das próximas eleições.

Washington

No estado de Washington, Trump apoiou adversários de dois membros republicanos da Câmara que votaram a favor de seu impeachment. Mas ambos os titulares pareciam estar em posições fortes para avançar sobre os candidatos preferidos de Trump.

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Jaime Herrera Beutler e Dan Newhouse começaram o dia com chances potencialmente melhores de derrotar os candidatos endossados por Trump por causa do sistema primário de Washington, no qual os dois candidatos mais votados avançam para as eleições gerais, independentemente do partido. O ex-oficial do Exército Joe Kent estava desafiando Herrera Beutler, enquanto o ex-chefe de polícia Loren Culp esperava derrubar Newhouse.

Culp concorreu a governador em 2020 e se recusou a ceder a disputa, apesar de perder por uma ampla margem. Já Kent, cuja esposa foi morta por um homem-bomba em 2019 na Síria, conheceu Trump na Base Aérea de Dover quando ele foi ver os restos mortais de sua falecida esposa.

Missouri

Em um alívio para os estrategistas do partido, os republicanos do Missouri rejeitaram a tentativa de retorno político de Eric Greitens, o ex-governador alvo de escândalos que concorreu ao Senado. Os líderes do partido temiam que Greitens pudesse colocar em risco uma cadeira no Senado que, de certa forma, estaria garantida para os republicanos.

Trump ficou de fora dessa corrida até um endosso duplo de última hora na segunda-feira a “Eric” – sem sobrenome – uma bênção que abrangeu tanto Greitens, que terminou em um distante terceiro lugar, quanto Eric Schmitt, o procurador-geral do estado, que ganhou a indicação ao Senado.

O procurador-geral Eric Schimitt e membros da sua família durante as primárias eleitorais do Partido Republicano no Missouri Foto: Kyle Rivas/AFP

Kansas

No Kansas, os eleitores deram um sinal de alerta para os republicanos otimistas, já que uma votação sobre o aborto mostrou a potência eleitoral e a mudança de política da questão após a decisão da Suprema Corte anular Roe versus Wade e rever a jurisprudência da permissão ao aborto a nível nacional. Os eleitores de lá rejeitaram veementemente o esforço de emendar a Constituição do Estado para remover o direito protegido ao aborto.

Derek Schmidt, o procurador-geral do Kansas, venceu as primárias republicanas para governador e vai desafiar a governadora democrata Laura Kelly. O secretário de Estado Scott Schwab, um republicano que rejeitou as falsas alegações de Trump de fraude eleitoral, venceu Mike Brown, um ex-comissário do condado nos subúrbios de Kansas City que promoveu essas alegações.

Kris Kobach, o ex-secretário de Estado do Kansas de extrema-direita, ganhou a indicação republicana para procurador-geral, um retorno político depois de candidaturas malsucedidas ao Senado e ao governador./NYT e W.POST

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