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Bush é mais 'catastrófico' do que Nixon, diz Carl Bernstein

Em São Paulo, jornalista do caso Watergate afirma que sistema político americano 'falha' na era Bush

Por Daniela Milanese e Agência Estado
Atualização:

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, é mais "catastrófico" para o país e para o mundo hoje do que foi Richard Nixon, o ex-presidente republicano que renunciou ao cargo em 1974 em decorrência do escândalo Watergate.   A avaliação é do jornalista americano Carl Bernstein, que acompanhou de perto a queda de Nixon. Ele e o colega Robert Woodward, ambos do jornal The Washington Post na época, trouxeram à tona o envolvimento do ex-presidente no esquema de espionagem montado contra o Partido Democrata meses antes das eleições presidenciais. "O sistema respondeu e funcionou na época do Watergate", disse Bernstein durante palestra nesta quarta-feira, 26, na Câmara Americana de Comércio (Amcham), em São Paulo. "Na era Bush, vimos que o sistema falhou."   Ele se refere à atuação da imprensa, da Justiça e do Congresso nesses dois momentos da política americana. A partir das denúncias apuradas pelo Washington Post, outras esferas da sociedade passaram a se envolver no assunto e tomar posições. O Senado abriu uma investigação para levantar o envolvimento de Nixon e a Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu que o então presidente tinha de se submeter às leis americanas - até que os próprios republicanos deixaram de dar suporte ao político. "Não que o país estivesse pronto desde o início, mas cada um fez a sua parte."   Para o jornalista, isso não está acontecendo atualmente nos EUA. "Nosso Congresso é um desastre, os políticos passam muito tempo brigando entre eles", afirmou. "E os democratas, que possuem maioria no Congresso, não têm coragem de pedir o impeachment do presidente, que continua com a guerra contra o Iraque."   Bernstein avalia que essa postura dos políticos se deve à armadilha criada pelo atual sistema de financiamento das campanhas eleitorais. Segundo ele, uma campanha para senador custa hoje US$ 100 milhões. Os políticos fazem grande esforço para levantar essa quantia de dinheiro e depois ficam amarrados aos doadores - com muita dificuldade para resistir às causas e preocupações daqueles que deram os recursos. "O dinheiro virou a força dominante do sistema. Não dá para representar o povo dessa forma."   Política brasileira   O jornalista defende o financiamento público das campanhas, não só para os Estados Unidos, mas para "todos os países". Com essa frase, foi o mais perto que chegou de uma sugestão para os atuais problemas da política brasileira. Apesar de bastante estimulado pela platéia que ouviu sua palestra na Amcham, Bernstein se recusou a fazer qualquer comentário sobre as denúncias ligadas ao esquema do Mensalão ou aos problemas de financiamento de campanhas também existentes no Brasil. "Não sei o suficiente sobre o assunto", repetiu aos ouvintes.   Em sua quarta visita ao Brasil, aos 63 anos, o que prevaleceu foram às críticas ao governo Bush. Na avaliação dele, em nome da luta contra o terrorismo, o presidente americano adotou políticas inconstitucionais. E, como jornalista, sai em defesa da imprensa, ao defini-la como "a instituição que hoje está fazendo a sua parte nos Estados Unidos".   Conforme Bernstein, é pela imprensa que a população americana fica sabendo das razões ideológicas de Bush na guerra contra o Iraque, da inexistência das armas de destruição em massa que no início justificaram a invasão ao país e dos abusos cometidos. Apesar disso, reconhece que a mídia americana falhou em não detectar logo de início as intenções do presidente ao começar o conflito. "A imprensa precisa dar a melhor versão da verdade."

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