Após cinco anos de mandato, presidente deixará saudades

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Por É CORRESPONDENTE EM PARIS
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Análise: Gilles LapougeVamos sentir a falta dele. Já estávamos acostumados com seus tiques, suas piadas baratas, seu modo intempestivo de falar, seu atrevimento. Com ele, cada dia era um novo dia. A cada quatro horas ele lançava uma nova ideia, bizarra, que esquecia à noite. Sarkozy conseguia irritar, exasperar, mas jamais nos entediava. Não era um camarada. Parecia mais um membro da família, um tio ou primo engraçado, com suas cóleras, caprichos, injúrias, mas no fundo não era má pessoa. Uma criança difícil, mas dotada, apaixonante e de bom coração. E agora, como os franceses não o reelegeram, ele nos abandona. Encerra sua vida política. Na noite de domingo, depois de ser derrotado por François Hollande, ele foi perfeito. Seu adeus aos partidários foi um modelo de elegância, de retidão. Muito calmo, sem amargura, tomado pela emoção, soube encontrar as palavras para agradecer a seus eleitores. Conseguiu mesmo, a justo título, arrancar lágrimas da multidão. Estranho percurso. Há cinco anos, Sarkozy iniciou seu mandato com um festival de arrogância e vaidades. Hoje, no momento em que se afasta, é perfeito. Se tivesse mantido esse mesmo tom durante seu mandato, provavelmente teria sido reeleito. E tem mais: Sarkozy, que durante cinco anos foi tão narcisista, tão cheio de rancores, tão feroz, no momento em que um socialista ocupa seu lugar no Palácio do Eliseu, ele é só compaixão, tolerância, amizade. Um estranho contraste. Há 15 dias, às vésperas de um debate pela TV, referiu-se a seu adversário como os boxeadores falam do seu rival antes de uma luta decisiva: "Pobre Hollande. Vou explodi-lo. Ele não tem chance. É uma nulidade". Decididamente, no momento em que encerra este mandato estrondoso, caótico e violento, de cinco anos, ele encontra enfim o tom justo. Sim. Nós sentiremos sua falta. Mas alguma coisa me diz que nós o veremos ressurgir qualquer dia. Em que trajes? Mistério. Suspense. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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