Argentino seria para escapar da conversibilidade

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Por Agencia Estado
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O governo do novo presidente argentino Adolfo Rodríguez Saá, está preparando o anúncio da criação de uma terceira moeda, que seria chamado de "argentino", e que conviveria com o dólar e o peso. Esta moeda, emitida pelo Tesouro, teria circulação obrigatória e pleno poder de pagamento podendo assim ser usada para o pagamento de todo tipo de dívidas, como as bancárias e as de serviços públicos. O projeto para a implementação dos "argentinos" seria enviada ainda esta semana ao Congresso Nacional. A idéia do novo governo é que esta terceira moeda seria uma "intrusa" útil para mudar o sistema de conversibilidade, que desde 1991 estabelece a paridade um a um entre o peso e o dólar. O problema deste rígido sistema - que salvou o país do caos da hiper-inflação - é que o governo argentino somente pode emitir pesos na quantidade que esteja respaldada por dólares. A idéia desta terceira moeda baseou-se nos diversos bônus provinciais que circulam principalmente no interior do país. Estes bônus, como os patacones (da província de Buenos Aires) ou os lecor (da província de Córdoba) são utilizados pelos falidos governos provinciais para o pagamento dos salários dos funcionários públicos e aposentadorias, além de fornecedores do Estado. No total, estes bônus, incluindo os lecops - bônus criados pelo governo federal para pagar suas dívidas com as províncias - constituem 20% do circulante monetário argentino, ou, US$ 2,48 bilhões. Confiança - Mas, ao contrário destes bônus provinciais, que são respaldados geralmente pela arrecadação tributária - o "argentino" teria somente o respaldo da confiança dos argentinos. Desta forma, o "argentino" começaria a flutuar em relação ao dólar e assim, proporcionar uma saída gradual da conversibilidade, com a futura eliminação do peso. Uma das especulações que circulavam na véspera de natal era que os donos de depósitos bancários semi-congelados desde o dia 3 de dezembro por ordem do ex-ministro Domingo Cavallo poderiam receber do governo uma proposta de descongelamento total de seus depósitos, mas somente receberiam "argentinos", e não pesos ou dólares. Por este motivo, a nova moeda - se tiver sucesso - pretenderia servir para criar maior liquidez e proporcionar maior consumo. Extra-oficialmente, fontes do governo sustentam que a emissão dos "argentinos" poderia oscilar entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões. "É uma tentativa de manter a paridade um a um entre o peso e o dólar, mas fugindo um pouco da conversibilidade", declarou o secretário da Fazenda e Finanças, Rodolfo Frigeri. Segundo ele, o "argentino" não seria uma terceira moeda ou um novo bônus: "é uma nova moeda". Corte nos salários - Os "argentinos" participariam de uma das medidas que o governo Rodríguez Saá pensa implementar em breve, a da eliminação do corte de 13% nos salários dos funcionários públicos e aposentadorias. Este corte, que causou centenas de protestos de funcionários, seria coberto com "argentinos". O governo não dispõe de pesos ou dólares para cobrir a redução de 13%. O senador Oscar Lamberto, designado por Rodríguez Saá para ser negociador da dívida, fez uma ilustrativa comparação entre o estado das contas do governo federal e o reto intestinal. A Fundação Capital, que é uma das fontes de idéias para Rodríguez Saá, recomendou a criação dos "argentinos", mas considera que deve ser um instrumento para "complementar as metas de déficit fiscal 0%". Segundo Carlos Pérez, economista da Fundação, "é um paliativo temporal". Para ele, não deveriam ser emitidos mais de US$ 3 bilhões ou US$ 4 bilhões de "argentinos": "sua emissão tem que ser feita com muita responsabilidade, por parte dos políticos". O economista sustenta que sua aplicação deveria ser instrumentada por um banco federal independente do Banco Central. O ministro do Trabalho, Oraldo Britos, anunciou hoje que o governo tem a intenção de acabar com as "aposentadorias de privilégio", que consistem nas aposentadorias de mais de US$ 3 mil concedidas a ex-ministros, ex-secretários e até para esposas e parentes de políticos. Leia o especial

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