Cristina Kirchner debutou em programa na qual será a única entrevistada, o "Desde outro lugar", transmitido pelo estatal canal TV Pública.
Os entrevistadores serão rotativos. Mas a entrevistada será sempre a mesma. Esse é o formato de um novo programa de TV - o "Desde outro lugar" - emitido pelo estatal canal TV Pública da Argentina, no qual a presidente Cristina Kirchner será entrevistada semanalmente por um jornalista diferente em cada ocasião. O programa, emitido nos sábados na hora do almoço - que também será transmitido de forma simultânea pela também estatal Rádio Nacional - debutou neste fim de semana.
A estréia do programa de Cristina teve como entrevistador o jornalista Hernán Brienza, que não fez perguntas sobre os problemas econômicos ou os escândalos de corrupção envolvendo os ministros do gabinete e o vice-presidente Amado Boudou, sequer sobre as denúncias de enriquecimento ilícito da própria presidente. Brienza começou a entrevista elogiando o sorriso da presidente Cristina.
Com poucas perguntas por parte do entrevistador e sem interrupções em sua fala, Cristina dissertou longa e tranquilamente sobre sua gestão administrativa, com autoelogios sobre a política econômica kirchnerista, defendeu a modalidade aplicada pelo governo para o pagamento da dívida pública com os credores privados.
Durante o diálogo a presidente Cristina falou sobre a História do peronismo e relembrou que em 1973 foi assistir o retorno definitivo de Juan Domingo Perón na Argentina, após anos de exílio. Um milhão de pessoas foram até Ezeiza, onde está o aeroporto internacional, ver a chegada do avião. No entanto, a multidão deteve sua marcha quando um tiroteio entre as facções da direita e da esquerda peronista provocou centenas de mortos. Cristina contou que esteve presente nessa marcha e que teve que buscar refúgio quando os tiros iniciaram. "Foi uma experiência muito heavy", explicou a presidente, recorrendo às suas tradicionais expressões em inglês.
Cristina também falou sobre o ex-presidente Néstor Kirchner, seu marido morto em 2010. Ao concluir o programa, o entrevistador afirmou: "se tivéssemos mais meia hora (de conversa) seriamos como dois velhos amigos que há tempos não se viam!". O jornal portenho "La Nación" ironizou sobre o formato do programa: "foi um monólogo de Cristina Kirchner com um convidado".
O encerramento de "Desde outro lugar" não implicou em uma mudança de assunto na programação do canal estatal, já que na sequência continuou com Cristina, ao transmitir ao vivo um comício no qual a presidente inaugurou obras em Rio Gallegos, capital da província de Santa Cruz, feudo político do casal Kirchner. Após o discurso o canal transmitiu um jogo de futebol, cujas publicidades foram exclusivamente sobre as obras da gestão Kirchner.
Desde 2009 as transmissões dos jogos são estatizadas e apenas contam com publicidade do governo Kirchner e dos aliados.
O governo Kirchner também conta, há alguns anos, com o respaldo da maioria dos canais de TV privados do país (além dos estatais). Dos dez principais canais, oito apóiam a presidente Cristina de forma explícita (um deles, o Telefé, da espanhola Telefônica, é líder de audiência). Outros dois - o TN e o Trece, do Grupo Clarín - são críticos do governo.
IMPRENSA - Cristina Kirchner somente deu uma coletiva de imprensa desde que foi eleita presidente em 2007. Ela tampouco foi pródiga em entrevistas exclusivas desde que sucedeu seu marido na Casa Rosada, o palácio presidencial. Do punhado de entrevistas concedidas, uma foi para a CNN em espanhol, enquanto que outra foi para a top model Naomi Campbell na edição britânica da revista de modas "Vogue".
Os assessores de imprensa da Casa Rosada costumam dizer que a presidente Cristina "não precisa de intermediários (os jornalistas) para falar com o povo".
Em 2009 "Os Hermanos" recebeu o prêmio de melhor blog do Estadão (prêmio compartilhado com o blogueiro Gustavo Chacra).