PUBLICIDADE

Assembleia venezuelana aprova 'julgamento político' de Maduro

Medida deve ser vetada pelo Judiciário do país, cujos juízes nomeados pelo chavismo decretaram que decisões do Parlamento, controlado pela oposição, são inválidas

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

CARACAS - Às vésperas do protesto marcado para amanhã contra o governo e em meio a desacordos internos sobre participar ou não do processo de diálogo mediado pelo Vaticano com os chavistas, a coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD) aprovou nesta terça-feira, 25,na Assembleia Nacional venezuelana o “julgamento político” do presidente Nicolás Maduro. Ele é acusado de ruptura da ordem constitucional do país, após a Justiça eleitoral ter suspendido o processo de referendo revogatório de seu mandato. 

“Acorda-se votar a abertura do procedimento contra Nicolás Maduro (...) e que a comissão prepare o início ao estudo de responsabilidade penal, responsabilidade política e abandono do cargo”, diz a resolução aprovada após um debate sobre a situação constitucional da Presidência.

Sessão na Assembleia Nacional da Venezuela foi brevemente interrompida no domingo 23 após invasão por manifestantes chavistas Foto: AP Photo/Ariana Cubillos

PUBLICIDADE

A Assembleia Nacional convocou Maduro na próxima terça-feira para que ele “se submeta ao escrutínio do povo”.

O Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) considera que as decisões do Parlamento carecem de validade legal. O órgão supremo do Judiciário venezuelano, cujos juízes foram nomeados pelo chavismo, anulou as decisões da Assembleia, a quem considera em situação de "desacato", após a posse três deputados com a eleição contestada pelos bolivarianos. 

Dissidências. Apesar da aprovação do “julgamento político”, a MUD dá sinais de desacordo interno. Após convocar o protesto de hoje contra a decisão do governo de suspender o referendo e impulsionar medidas contra Maduro na AN, a coalizão, por meio de seu secretário-executivo Jesús Chuo Torrealba, aceitou participar de uma negociação intermediada pelo Vaticano com o chavismo. 

Líderes importantes da oposição, como o ex-candidato presidencial venezuelano Henrique Capriles, a ex-deputada Maria Corina Machado, e Lilian Tintori, mulher de Leopoldo López, atualmente na cadeia, descartaram dialogar com o governo. 

“Qual diálogo?! Na Venezuela não iniciamos qualquer diálogo (...) Eles pretendem usar a boa-fé do Papa Francisco, a boa-fé do núncio argentino, para dizer: aqui não está acontecendo nada”, denunciou Capriles em transmissão ao vivo na Periscope.

Publicidade

Simultaneamente, o deputado Luis Florido, do partido Vontade Popular - fundado por López, também negou o diálogo. “Não iniciamos qualquer diálogo, é incerto que haja as condições para tal”, declarou Florido, presidente da comissão de política externa do Parlamento, controlado pelo opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD). Maria Corina e o presidente da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup disseram ter descoberto o anúncio da MUD pela TV. “ Se todos os partidos fossem convidados, também iríamos, mas soubemos disto pela televisão, e também não vamos”, disse Allup. 

“Não podemos ir para um processo de diálogo que permita ao governo dizer que aqui não está acontecendo nada. Tenham a absoluta segurança de que a oposição não vai se prestar a isto”, declarou Capriles, governador do estado de Miranda. “O povo é que tem que decidir. Não se resolve a crise sentando com o governo para tirar uma foto. O governo está jogando com esta situação, quer destruir a unidade da oposição.” 

Ainda ontem, foram registrados protestos contra o governo e a suspensão do revogatório na cidade de Mérida, nos Andes venezuelanos. Estudantes da Universidade de Los Andes enfrentaram a polícia. / AFP e EFE

Não há, no entanto, como no Brasil, o afastamento do cargo durante o processo no Legislativo. Além disso, a decisão de remover o presidente não cabe aos deputados e sim ao Judiciário. 

Se o Tribunal Superior de Justiça (TSJ), controlado pelo chavismo, condenar Maduro, aí sim ele será afastado. Essa probabilidade, no entanto, é praticamente nula. Há algumas semanas, o TSJ declarou a Assembleia Nacional ilegítima. "Legalmente esse Parlamento não existe", disse o vice-presidente Aristóbulo Istúriz. /EFE e REUTERS

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.