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Assessora de Assad esteve secretamente no Brasil

Ela não teve agenda oficial e só conversou com grandes empresários sírios no País

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Por Lourival Sant'Anna
Atualização:

Bussaina Shaaban, principal assessora pessoal do presidente sírio, Bashar Assad, esteve secretamente em São Paulo, no Rio e em Buenos Aires, no fim de novembro. Não cumpriu nenhuma agenda oficial, nem com o governo brasileiro nem com os diplomatas sírios nem com as entidades que representam a comunidade síria no Brasil.

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Bussaina conversou com grandes empresários sírios no Brasil - alguns com atividades legais, outros, mais obscuras - sobre a possibilidade de transferir pessoas e grandes quantidades de dinheiro da Síria para cá. A missão secreta de Bussaina coincide com a notícia, publicada pelo jornal israelense Haaretz, de que o vice-chanceler sírio, Faiçal Mekdad, esteve na semana retrasada em Cuba, Venezuela e Equador, averiguando a possibilidade de Assad exilar-se em um desses países.

Em comum com o Brasil e a Argentina, os governos das três nações ostentam simpatia pelo regime de Assad, embora o Itamaraty tenha nos últimos meses mantido uma posição mais reservada sobre o tema. A própria Rússia, parceira do Brasil nos Brics (junto com Índia, China e África do Sul), e aliada da Síria, onde mantém sua última base naval no Oriente Médio, está distanciando-se de Assad, diante das evidências de que seus dias estão contados.

Duas fontes, uma de oposição e outra favorável ao regime, confirmaram ao Estado a vinda secreta de Bussaina. De acordo com a fonte que apoia Assad, a assessora do presidente veio fazer tratamento médico em São Paulo. O que não explicaria por que ela esteve também no Rio e em Buenos Aires. Atualmente assessora de comunicação de Assad, Bussaina começou a carreira como intérprete do pai dele, Hafez, que governou de 1970 até a morte, em 2000. Foi ministra de Emigração da Síria, cargo no qual visitou o Brasil pela primeira vez, e voltou ao País em 2010, com Assad, já como braço direito do presidente. Sua intimidade com Assad e com sua mulher, Asma, fica clara em e-mails interceptados pela oposição, nos quais ela se mostra envolvida em compras de objetos pessoais e viagens, e consulta um adido político da embaixada do Irã em Damasco sobre questões de imagem do governo sírio.

Os movimentos de Assad e de seu círculo íntimo na direção de uma fuga da Síria coincidem com avanços do Exército Sírio Livre (ESL) sem precedentes em 21 meses de rebelião na Síria, que resultam numa asfixia econômica do governo e num cerco militar das forças leais.

De acordo com fontes sírias ouvidas pelo Estado, o ESL tomou entre 30 e 35 bases do Exército perto de Damasco, num raio de 30 a 5 km do centro da capital, 3 bases aéreas e 12 instalações antiaéreas. Na avaliação dessas fontes, as forças terrestres leais ao regime estão muito reduzidas, a ponto de "200 combatentes" serem capazes de ocupar, pelo menos por um tempo, uma instalação estratégica. Os insurgentes já chegaram a até 500 metros da pista do Aeroporto de Damasco, que está fechado, e forma forçados a recuar, mas mantêm um cerco a seu redor. Com o uso de granadas e foguetes portáteis, neutralizaram 37 aviões no solo.

Além de derrotas nos combates de guerrilha e de maciças deserções, o contingente do Exército leal a Assad tem sido reduzido pela dificuldade de recrutar jovens dispostos a massacrar a própria população. Diante disso, Maher Assad, o irmão do presidente, que comanda as Forças Armadas, concentrou a elite do Exército, a Guarda Republicana, na capital, para o que está sendo chamado de "a batalha de Damasco", que se avizinha.

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Mediante a tomada das instalações antiaéreas, o ESL capturou mísseis Sam 7, com os quais derrubaram 70 aviões, segundo as contas dos oposicionistas. Há informações não confirmadas de que o ESL teria acabado de receber cerca de 40 Stings - mísseis terra-ar fáceis de transportar e de disparar - do Catar. Tanto Damasco quanto Alepo - principal centro econômico do país - estão cercadas.

O cerco militar vem acompanhado da asfixia econômica. Os insurgentes controlam dois campos de petróleo e um de gás na província de Deir el-Zour, no nordeste, e estão trocando petróleo por armas e mantimentos na Turquia e no Iraque, com os quais a província faz fronteira. Eles controlam a M-5, estrada que liga Alepo a Damasco, e os 900 km da fronteira da Síria com a Turquia.

Segundo um economista sírio, resta a Assad apenas US$ 1 bilhão em reservas em moeda forte - comparados a US$ 22 bilhões, no início do conflito. Esse último bilhão poderia ser dispendido nas suas tentativas de fuga.

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