Corrupção política se infiltra no último grande símbolo do orgulho nacional
Por Redação
Atualização:
Há alguns anos, poucos eventos esvaziavam as ruas de Caracas como o concurso Miss Venezuela. Ele era transmitido ao vivo de hotéis de luxo que a maioria nem sonhava entrar. As mulheres se enfileiravam e desfilavam em vestidos de gala, fantasias e roupa de banho. Eram apresentadas por seus nomes, idades, medidas e cor dos olhos. A missão era torcer para que a vencedora fosse coroada Miss Universo. Desde o início da disputa, em 1952, a Venezuela venceu sete vezes.
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Era uma questão de tempo até que o Miss Venezuela também sucumbisse à corrupção do Estado chavista. Recentemente, a organização do concurso suspendeu suas atividades após acusações de que seus diretores negociavam garotas para servir de acompanhantes de patrocinadores, incluindo funcionários do governo de Nicolás Maduro.
Nos anos 70, quando a fortuna do petróleo jorrava, o Miss Venezuela era o orgulho nacional e todos acreditavam que ele estava livre da corrupção. Seu colapso é o mais novo capítulo da derrocada do chavismo.
Em novembro, o site Efecto Cocuyo publicou uma série de reportagens sobre casos de abuso no concurso. Em seguida, o jornal espanhol El País noticiou um esquema de lavagem de dinheiro envolvendo membros do governo e pessoas ligadas ao Miss Venezuela. Em um dos casos, um dos homens estaria ligado a uma ex-participante que teria feito um depósito de US$ 1 milhão em um banco de Andorra.
A notícia caiu nas redes sociais e várias ex-participantes começaram a acusar umas às outras de corrupção em troca de dinheiro, apartamentos e outros presentes de homens ligados ao regime de Maduro. Outras concederam entrevistas para falar sobre experiências de assédio ou coisas piores.
A jornalista Ibéyise Pacheco, autora de um livro sobre o envolvimento das participantes com prostituição e corrupção, disse ter conversado com várias jovens que quase se tornaram escravas. Segundo ela, uma das garotas teve de fugir do país depois que um patrocinador rejeitado ameaçou matá-la.
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No centro do escândalo está Osmel Sousa, diretor da Organização Miss Venezuela por 40 anos, que renunciou em fevereiro. Uma ex-miss afirmou que ele e seus assistentes pressionavam as moças a aceitarem programas com políticos e empresários em troca de dinheiro para financiar a disputa.
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Algumas mulheres resistiram, outras consentiram. Debora Menicucci, de 26 anos, conheceu Sousa quando ela tinha 13. Ela representou a Venezuela no Miss Universo de 2014. Nesse intervalo, Sousa a apresentou ao seu futuro marido, Maikel Moreno, 25 anos mais velho.
Advogado, Moreno cumpriu pena por assassinato nos anos 80. Hoje, presidente da Suprema Corte, ele é conhecido por impor duras sentenças a membros da oposição. Sousa, que se orgulha de ser amigo do presidente americano, Donald Trump, que era dono da franquia do Miss Universo, nega todas as acusações. / NYT