CIA contratou mercenários contra Al-Qaeda

Blackwater trabalhou em programa para matar jihadistas, sem sucesso

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Por Mark Mazzetti e WASHINGTON
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Em 2004, a CIA contratou pessoas treinadas pela empresa de segurança privada Blackwater, no âmbito de um programa secreto para localizar e assassinar líderes da Al-Qaeda, informaram funcionários do atual governo e do anterior. Os executivos da Blackwater, companhia que causou sérias controvérsias por empregar táticas agressivas no Iraque, colaboraram com a agência de espionagem nas operações de planejamento, treinamento e vigilância. A CIA gastou muitos milhões de dólares com este programa que não chegou a capturar nem matar nenhum terrorista suspeito. O fato de a CIA ter usado uma empresa de segurança terceirizada neste programa foi uma das principais razões pelas quais o diretor da agência, Leon Panetta, alarmado, convocou em junho uma reunião de emergência para expor ao Congresso que, durante sete anos, a agência deixou de informar detalhes do programa, afirmaram os funcionários. Não se sabe ao certo se a CIA planejava usar essa e outras empresas privadas para capturar ou matar membros da Al-Qaeda, ou apenas ajudar no treinamento e vigilância. Nos últimos anos, agências de espionagem americanas terceirizaram determinadas tarefas extremamente polêmicas, como os interrogatórios de prisioneiros. Mas funcionários do governo disseram que a ideia de chamar pessoas de fora para trabalhar num programa no qual acabavam investidas de uma autoridade potencialmente letal, suscitou preocupações quanto a quem caberia a responsabilidade das operações secretas. CONTRATOS INDIVIDUAIS Os funcionários disseram que a CIA não tinha um contrato formal com a Blackwater para esse programa, apenas acordos individuais com altos executivos da empresa, entre eles o próprio fundador, Erik Prince, ex-integrante da organização dos Seals da Marinha americana, com importantes relacionamentos na área política. Na realidade, o trabalho da Blackwater nesse programa, acabou anos antes de Panetta assumir a direção da agência, após os próprios altos dirigentes da CIA questionarem a decisão pouco prudente de usar empresas de fora num programa de assassinatos. A Blackwater, que mudou de nome e passou a se chamar Xe Services, nos últimos anos recebeu milhões de dólares em contratos do governo, e se expandiu de tal forma que o governo George W. Bush afirmou que já constituía parte imprescindível de suas operações de guerra no Iraque. Lá, ela foi acusada de usar força excessiva e até mesmo de disparar no centro de Bagdá em 2007, matando 17 civis. Desde então, as autoridades iraquianas rejeitaram dar à companhia licença para operar no país.

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