Mesmo exilado na Índia desde 1959, o dalai lama continua a ser o principal líder espiritual dos tibetanos e só perderá essa posição quando morrer e for substituído por outro dalai lama. Pequim acusa o líder religioso de separatismo e proíbe qualquer manifestação pública de simpatia a ele dentro de seu território. A suspeição das autoridades chinesas em relação budismo tibetano se manifestou nesta semana com a ordem para que monges que socorreram as vítimas do terremoto deixassem a área atingida e voltassem para seus monastérios.
Os religiosos chegaram ao local antes dos soldados do Exército de Libertação Popular e foram fundamentais na ajuda aos feridos e desabrigados.
Depois, quando as famílias contavam seus mortos, os monges realizaram os funerais, que são uma das mais importantes cerimônias para os budistas tibetanos _a crença é de que eles ajudam a alma a se libertar do corpo e seguir para sua próxima reencarnação. O Partido Comunista exerce controle estrito sobre as atividades dos monges, que são vistos como leais ao dalai lama. Há representantes da organização dentro dos monastérios e os religiosos são periodicamente submetidos a campanhas de "reeducação", nas quais são obrigados a renegar o dalai lama.
Mas os monges desempenham um papel extremamente relevante como guias e mentores espirituais dos tibetanos. Só na cidade onde está a vila atingida pelo terremoto existem quase 200 templos, nos quais vivem milhares de monges.
Outro abismo é linguístico. A maior parte dos integrantes das equipes médicas e de resgate enviadas ao local é formada por chineses han, que não falam tibetano, enquanto quase todas as vítimas são tibetanos que não falam mandarim. Os han representam 92% da população chinesa e estão concentrados principalmente no centro-leste do país. Os 5,4 milhões de tibetanos que vivem na China estão na região oeste _metade no Tibete e metade em vilas e cidades tibetanas espalhadas nas províncias de Qinghai, Sichuan, Gansu, Yunnan e Xinjiang.
Historicamente, os han se desenvolveram ao redor da agricultura e do cultivo da terra, enquanto os tibetanos tiveram _e têm_ uma vida nômade, na busca de pastagens para seus rebanhos de ovelhas e yaks. Na política de desenvolvimento do oeste adotada nos últimos anos, o governo chinês busca que os tibetanos se fixem em comunidades e deixem a vida nômade. Mas para muitos deles, isso é abandonar sua própria identidade cultural.