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Com previsão de 700 mil mortes adicionais, Europa pode chegar a 2,2 milhões de óbitos por covid

Continente enfrenta variante Delta, estagnação de campanhas de vacinação e protestos contra medidas restritivas

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Por Redação
Atualização:

BRUXELAS - A Europa pode registrar 700 mil mortes adicionais por coronavírus nos próximos meses, chegando à marca de 2,2 milhões de vidas perdidas para a doença em março do próximo ano, informou nesta terça-feira, 23, a Organização Mundial da Saúde. De acordo com a previsão, os leitos hospitalares de 25 países deverão estar sob alta ou extrema pressão no dia 1º de março de 2022. O mesmo deve acontecer com as unidades de terapia intensiva em 49 dos 53 países que fazem parte da zona europeia da OMS (que inclui Rússia e outras ex-repúblicas soviéticas, além da Turquia).

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“A região europeia ainda está sob os efeitos da covid-19. Na última semana, as mortes registradas aumentaram para quase 4.200 por dia, o que é o dobro das 2.100 mortes diárias registradas no final de setembro”, destacou a OMS em comunicado. “A situação é muito grave”, afirmou o diretor regional da agência na Europa, Hans Kluge, apelando à reintrodução de medidas de distanciamento, higiene e uso de máscaras.

A Europa enfrenta a variante Delta, prevalente em seu território e altamente contagiosa. Apesar disso, há um afrouxamento de restrições sanitárias em diversos países.

A vacinação também vem sendo um problema. Na União Europeia, 67,7% da população está totalmente imunizada, embora os países do continente tenham há muito tempo doses suficientes para imunizar toda a sua população. 

Há uma verdadeira divisão leste-oeste, segundo dados do Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças (ECDC). Na Europa Oriental, as taxas de imunização são extremamente baixas: 53% na Polônia, 45% na Eslováquia, 35% na Romênia e 24% na Bulgária. A Europa Ocidental tem melhores taxas de vacinação, embora os dados dentro dela não sejam homogêneos. Irlanda, Portugal, Dinamarca e Espanha, por exemplo, vacinaram cerca de ¾ de suas populações; Holanda, 68%; Alemanha, 67%; Grécia, 61% e Áustria, 58%.

Enquanto isso, a incidência cumulativa está avançando rapidamente e ultrapassa mil casos em países como Bélgica, Holanda, Irlanda, Áustria, República Tcheca, República Tcheca, Eslovênia e Croácia, de acordo com dados de segunda-feira do observatório britânico Our World in Data. As infecções avançam rapidamente e alguns hospitais estão começando a ficar sob pressão. “Um inverno difícil nos espera”, disse Kluge.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também fez um apelo ao bloco. "Não devemos esquecer que na União Europeia 1.600 pessoas morrem todos os dias. As vacinas e as medidas de higiene são um ato de solidariedade e salvam vidas", declarou ao Parlamento Europeu nesta terça-feira. 

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Pessoas usando máscaras se acotovelam à espera de trem em Dusseldorf, Alemanha; Europa enfrenta aumento no número de casos de covid-19 Foto: Sascha Steinbach/EFE/EPA

Protestos

Vários países da UE já começaram a aumentar as restrições para tentar conter as infecções. A Áustria impôs um novo lockdown, a Bélgica tornou o teletrabalho obrigatório novamente e a Grécia passou a impedir o acesso de não vacinados a espaços de lazer e entretenimento. 

As restrições na Bélgica e na Holanda geraram manifestações violentas. No último domingo, cerca de 35 mil pessoas tomaram as ruas de Bruxelas, informou a polícia local. Elas protestavam principalmente contra a exigência do certificado de vacina para acesso a locais públicos, como restaurantes. A Holanda registrou protestos em várias cidades. Em Rotterdam, segunda maior cidade do país, manifestantes entraram em confronto com a polícia e atearam fogo em carros. No domingo, 26 pessoas foram presas.

Protestos violentos também foram registrados do outro lado do Atlântico, nas Índias Ocidentais francesas. Tanto os profissionais de saúde quanto os bombeiros se opõem ao passe sanitário e à vacinação obrigatória de trabalhadores da saúde.

O protesto se transformou em uma verdadeira crise social no departamento do Caribe francês, onde um terço da população vive abaixo da linha da pobreza. A vizinha ilha da Martinica passa por uma mobilização semelhante.

Novas restrições

O Conselho da União Europeia abriu hoje o caminho para que os países, que são os únicos com competências na área da saúde na UE, apliquem novas restrições para travar o avanço das infecções e generalizar a administração de doses de reforço da vacina.

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"Estamos perante uma situação epidemiológica cada vez pior. Todos concordamos que são necessárias medidas adicionais para restringir a sua propagação", afirmou o chefe esloveno e presidente rotativo da reunião, Gasper, no final do Conselho de Assuntos Gerais de ministros europeus, Dovzan. 

Os 27 ministros, acrescentou o esloveno, concordaram em sublinhar “a importância das doses de reforço” porque “a experiência em alguns países mostra que são extremamente importantes”.

"Tem sido uma discussão geral, não discutimos em detalhes sobre uma terceira dose obrigatória, mas há um amplo reconhecimento de que o reforço é necessário", acrescentou Dozvan.

O Comissário Europeu para a Justiça e Assuntos Internos, Didier Reynders, disse que a Comissão Europeia irá "em breve" propor aos Estados-Membros medidas relativas à mobilidade interna e externa na União Europeia.

As novas restrições podem minar a frágil recuperação econômica da Europa, que viu seu desempenho econômico ser reduzido em 15% nos primeiros meses do ano passado, quando governos aplicaram lockdowns rígidos para tentar conter a pandemia.

Sustentada por uma série de ajudas do governo para empresas e cidadãos desempregados, a maioria dos países do bloco conseguiu se levantar novamente e recuperar suas perdas, principalmente após a introdução das vacinas. 

Agora, no entanto, a quarta onda da pandemia ameaça diminuir a circulação das pessoas em centros comerciais, desencorajar viagens e reduzir a frequência em restaurantes, bares e resorts de esqui.

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Ainda assim, o panorama geral não é nem de perto tão nefasto quanto o do ano passado. Apesar de vários analistas terem diminuído suas expectativas para outubro, novembro e dezembro, a previsão ainda é positiva, com um crescimento anual em torno de 5%. Os índices de desemprego caíram e, em alguns setores, empresas reclamam de escassez de oferta de trabalho. /AP, AFP, REUTERS, EFE E NYT