Considerados sagrados por nativos americanos, condores estão de volta ao céu da Califórnia

Trabalho de biólogos e da tribo Yurok devolve as aves ao seu hábitat natural

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Por Redação
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LOS ANGELES - Para a tribo Yurok, que antes da conquista do Oeste dos EUA ocupava uma faixa de terra que ia da nascente do Rio Klamath, no Oregon, até a costa noroeste da Califórnia, no Pacífico, os condores são sagrados. Para eles, no início dos tempos, os espíritos criadores determinaram que o canto do condor seria um “poderoso agente de cura para o mundo”, e seu canto foi usado por séculos como oração.

Por isso, quando o primo do urubu sumiu dos céus do norte da Califórnia e de quase toda a faixa costeira do Pacífico, no início da década de 80, os Yuroks se desesperaram. “Tínhamos a obrigação espiritual de fazê-los voar de novo”, disse Tiana Williams-Claussen, diretora do Departamento de Vida Selvagem da tribo, que nos últimos 40 anos alimentou, cuidou e lutou para reintroduzir os condores no céu da Califórnia.

Na semana passada, pela primeira vez em décadas, dois pássaros adultos machos, criados em cativeiro, foram libertados de um cercado no Redwood National Park, a cerca de uma hora de carro ao sul da fronteira do Oregon, parte do projeto que visa restaurar os condores ao seu hábitat histórico.

Condores criados em cativeiro pela tribo Yurok, no norte da Califórnia, esperam para ser soltos em seu verdadeiro hábitat natural. Foto: Yurok Tribal Government Foto: Yurok Tribal Government

Os condores criados em cativeiro, uma fêmea e três machos, têm entre 2 e 4 anos. Dois foram incubados no Zoológico de Oregon e dois no Centro Mundial de Aves de Rapina do Peregrine Fund, em Idaho. Mais duas aves devem ser soltas durante a primavera no Hemisfério Norte. Elas podem viver por 60 anos e voar grandes distâncias em busca de carniça, de modo que seu alcance pode se estender por vários Estados.

A quase extinção do condor na região começou na virada do século 19 para 20, por causa da perda de hábitat provocado pela corrida do ouro e da contaminação por chumbo usado nas munições de caça nos restos dos animais de que o condores se alimentavam. A última vez que um condor foi visto na terra dos Yuroks foi em 1892.

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No início da década de 80, havia apenas 22 condores da Califórnia em estado selvagem. Desesperados para salvar os pássaros da extinção, os biólogos capturaram o último deles em 1987. Em um esforço para aumentar seus números, os biólogos iniciaram um programa de reprodução em cativeiro juntamente com a tribo Yurok.

Os condores só puderam retornar ao seu hábitat natural no norte do Estado graças ao trabalho dos Yuroks com a ajuda de incentivos fiscais dos governos estadual e federal. Agências federais e locais de preservação de peixes e de vida selvagem se envolveram no projeto de restauração liderado pela tribo Yurok, que durou mais 40 anos.

Comida e humanos

Durante todo o tempo em que foram criados em cativeiro, e mesmo depois de soltos, eles precisam ser monitorados, capturados periodicamente e alimentados regularmente por humanos. Somente biólogos treinados devem abordar os pássaros ou seus ninhos.

Condores criados em cativeiro pela tribo Yurok, no norte da Califórnia, esperam para ser soltos em seu verdadeiro hábitat natural. Foto: Yurok Tribal Government Foto: Yurok Tribal Government

Mesmo os especialistas devem proceder com cautela. “Mantenha-se fora de vista o máximo possível”, disse Tiana Williams-Claussen, especialmente ao colocar comida – um condor que associa comida a humanos pode começar a seguir as pessoas.

No período de criação de condores e reintrodução na natureza, os pássaros se habituaram aos humanos de maneiras estranhas, incluindo espreitar em acampamentos e atacar caminhantes para roubar seus cadarços.

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O programa de reprodução em cativeiro liberou alguns dos condores na Floresta Nacional de Los Padres, no sul da Califórnia, em 1992. Outros agora ocupam partes da costa central da Califórnia, Arizona, Utah e Baja California, no México. / AP, NYT e REUTERS