Coreia do Norte pressiona Sul barrando acesso a polo industrial

Decisão marca uma escalada no impasse dos últimos meses; Coreia do Sul exigiu acesso

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PAJU, COREIA DO SUL - A Coreia do Norte interditou nesta quarta-feira, 3, o acesso a um polo industrial mantido conjuntamente com a Coreia do Sul, disseram autoridades, o que coloca em risco um comércio de US$ 2 bilhões por ano, vital para o país comunista. A decisão marca uma escalada no impasse dos últimos meses. Na terça-feira, Pyongyang havia anunciado a reativação de um reator nuclear, atraindo críticas da comunidade internacional, inclusive da aliada China. Em Pequim, o vice-chanceler chinês Zhang Yesui se reuniu na terça-feira com os embaixadores dos Estados Unidos e das duas Coreias para manifestar "séria preocupação" a respeito da península coreana, disse a chancelaria. A Coreia do Sul exigiu que Pyongyang libere o acesso ao Parque Industrial de Kaesong, que fica no território norte-coreano, próximo da fronteira. Seul disse que a Coreia do Norte permitirá que cerca de 800 gerentes e operários de fábricas sul-coreanos que estão na zona voltem para suas casas, mas acrescentou que apenas 36 aceitaram fazer isso na quarta-feira, indicando que as fábricas continuam operando. Quem ficou o fez por opção própria, mas pode ficar sem comida, porque todos os mantimentos precisam ser levados de caminhão da Coreia do Sul, segundo o Ministério da Unificação, que trata de todos os assuntos de Seul com a Coreia do Norte. "Se a questão for prolongada, o governo está ciente de tal situação se materializando", disse um porta-voz do ministério quando questionado sobre o risco de escassez de alimentos. Desde sua inauguração, em 2000, como parte dos esforços para melhorar as relações bilaterais, o polo industrial nunca interrompeu formalmente suas operações. Ele abriga 123 empresas e emprega 50 mil norte-coreanos, produzindo bens baratos, como roupas. Alguns especialistas sul-coreanos disseram que as restrições norte-coreanas podem ser temporárias, já que o polo industrial é uma importante fonte de renda para Pyongyang. Mas, em Paju, cidade sul-coreana junto à fronteira, há o temor de que o fechamento seja definitivo, acabando com um dos poucos exemplos de cooperação entre as duas Coreias. "A confiança entre o Norte e o Sul irá desmoronar, assim como a confiança que temos com nossos compradores. Vamos acabar sofrendo os danos disso", afirmou Lee Eun-haeng, que dirige uma fábrica de roupas em Kaesong, falando à Reuters no lado sul da fronteira. A empresa de Lee emprega 600 norte-coreanos, que ganham em média US$ 130 por mês. O polo industrial tem grande valor simbólico para os dois países. Ele gera dinheiro para o Norte, e funciona como um farol da prosperidade econômica do Sul dentro do país vizinho. GUERRA RETÓRICA A atual guerra retórica da Coreia do Norte contra a Coreia do Sul e os Estados Unidos se intensificou depois de a ONU impor novas sanções ao país por causa do seu teste nuclear de 12 de fevereiro. Ao mesmo tempo, Washington e Seul iniciaram exercícios militares conjuntos anuais, que incluíram o uso de aviões norte-americanos invisíveis a radares - algo visto por Pyongyang como prenúncio de uma invasão. O líder norte-coreano, Kim Jong-un, ameaçou ações militares contra a Coreia do Sul e os EUA, mas analistas dizem que não há movimentação que indique um ataque iminente. A notícia da interdição de Kaesong inicialmente afetou os mercados financeiros sul-coreanos. O won, moeda local, chegou a ser negociado na sua menor cotação em seis meses e meio, mas depois se recuperou.

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