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‘Debate afasta de Le Pen os indecisos’

Para especialista, últimos acontecimentos têm sido contraproducentes para a candidata da Frente Nacional

Por Andrei Netto , Correspondente e Paris
Atualização:

Marcado pela violência dos ataques de Marine Le Pen contra Emmanuel Macron, o debate de quarta-feira pode ter sido contraproducente para a candidata do partido de extrema direita Frente Nacional (FN). A análise é do cientista político Gaspard Estrada, do Instituto de Estudos Políticos (SciencesPo), de Paris.

Marine Le Pen fala com simpatizantes em Ennemain, norte da França Foto: AP/Michel Spingler

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Qual é sua análise sobre o debate e os últimos acontecimentos da campanha? O debate vai permitir que Macron saia reforçado, com um pouco mais de votos. Não que ele tenha sido espetacular. Ele teve um bom desempenho, foi calmo e apresentou propostas. Mas foi sobretudo o contraste de posições que chamou atenção. O desempenho de Marine Le Pen vai afastar algumas pessoas que estavam em dúvida, porque haviam votado no primeiro turno em Jean-Luc Mélenchon (esquerda radical), por exemplo. Com a falta de propostas e tudo o que Marine Le Pen disse, o efeito vai ser contrário para ela.

Em 2002, Jacques Chirac se recusou a debater com Jean-Marie Le Pen. Era necessário para Macron debater com Marine Le Pen? Na primeira semana de campanha do segundo turno, Macron cometeu um erro. No domingo em que ele venceu o primeiro turno, apresentou a disputa futura como se fosse entre progressistas e conservadores. Isso foi benéfico para Marine Le Pen, que pôde apresentar sua campanha como uma luta entre “globalistas” e patriotas. Macron vem obtendo uma pequena recuperação nas pesquisas desde que passou a falar em “República versus extremistas”. Como já havia aceitado participar do debate, antes de alterar o discurso, não pôde mudar de ideia. Seu novo discurso dá mais segurança de que ele será eleito.

Nos últimos anos, a FN tentou construir uma nova imagem, afirmando não ser um partido de extrema direita ou radical. Essa imagem desmoronou? Sim, foi um equívoco de sua parte. No final do primeiro turno, quando não fez uma boa campanha, Marine Le Pen deu sinais de que estava perdendo pontos. Sua grande esperança, acabar o primeiro turno em primeiro lugar, com cerca de 30% dos votos, não ocorreu. Depois, houve alguns equívocos maiores: sua declaração sobre o Vel D’Hiv, a deportação de judeus na França durante a ocupação nazista, é um exemplo (ela negou a responsabilidade do país no caso). Foram claros sinais de que a Frente Nacional continua a ser um partido de extrema direita.

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