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Decisão de esvaziar Legislativo causa revolta em Táchira

Manobra do governo venezuelano evita que proposta de orçamento passe por Assembleia, de maioria opositora

Foto do author Luiz Raatz
Por Luiz Raatz , San Cristóbal e Venezuela
Atualização:

A decisão do chavismo de ignorar a Assembleia Nacional, de maioria opositora, e apresentar o orçamento para o governo em 2017 ao Tribunal Superior de Justiça, diferentemente do que manda a Constituição, irritou a coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD). Em San Cristóbal, reduto opositor no oeste do país, estudantes da Universidad Católica de Táchira, protestaram contra o governo em uma tensa marcha com dezenas de alunos e observada pela polícia local.

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A oposição venezuelana reagiu com a promessa de levar à Organização dos Estados Americanos (OEA), um pedido para que a entidade ative a sua Carta Democrática. O presidente da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup, acusou o presidente Nicolás Maduro, de usar o Tribunal Superior de Justiça e o Conselho Nacional Eleitoral para se sobrepor à vontade popular.

Uma comissão de deputados da AN, chefiada pelo presidente do Comitê de Relações Exteriores, Luís Florido, irá à sede da OEA, em Washington, para apresentar o pedido de ativação da Carta Democrática Interamericana. Na prática, o dispositivo implicaria na suspensão da Venezuela da entidade, caso ele seja colocado em votação e aprovado por dois terços dos países membros. 

Em Táchira, pichação contra governo de Maduro Foto: Luiz Raatz / Estadão

A Constituição venezuelana determina que o Orçamento federal seja submetido pelo Executivo ao Parlamento. Mas com a perda do controle do Legislativo por parte do chavismo, o governo de Maduro passou a esvaziar seus poderes. Uma decisão do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), publicada na quarta-feira, estabeleceu que “o orçamento nacional deverá ser apresentado pelo presidente ante a Sala Constitucional (do TSJ)”. 

Insatisfação. Nas ruas de San Cristóbal, um tradicional reduto de oposição ao chavismo, o clima é de revolta contra Maduro. Próxima à fronteira com a Colômbia, a cidade convive com a escassez de alimentos e um duro controle da Guarda Nacional Bolivariana e da polícia para evitar contrabando. Nas ruas, pichações contra o chavismo são comuns e a aguerrida comunidade universitária da cidade frequentemente sai às ruas contra o governo. Além do protesto dos estudantes pela manhã, nesta quinta-feira houve saques e marchas com palavras de ordem contra a crise econômica também nas cidades de Valencia e Caracas.

“Eles estão desesperados e cada vez mais pisoteiam a Constituição que eles mesmos criaram. Esse país é uma piada de mau gosto, ele (Maduro) tem de ir embora já”, queixou-se ao Estado a estudante de direito Rosmary Zambrano, de 20 anos.

Para outro estudante, Frank Castellanos, de 21 anos, impedir o orçamento de passar pela AN é uma tentativa desesperada de Maduro de ampliar o pouco que resta no caixa do governo para agradar à população e evitar a derrota no referendo revogatório, mesmo que ele aconteça em 2017. “É um incompetente e está desesperado.”

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