Denúncias de Ortega contra cúpula chavista têm efeito jurídico limitado

Especialista diz que Maduro detém imunidade em tribunais de outros países para crimes de corrupção; para Cabello ser preso, teria de haver mandado de prisão internacional e ele precisaria estar fora da Venezuela

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Por Luiz Raatz
Atualização:

As denúncias apresentadas ontem pela ex-procuradora-geral da Venezuela Luisa Ortega Díaz contra a cúpula chavista têm um efeito prático limitado em termos jurídicos. Do ponto de vista do direito internacional, Maduro possui imunidade por ser chefe de Estado e está livre de responder por crimes até que deixe o cargo. Esse princípio não se aplica, no entanto, ao número dois do chavismo, Diosdado Cabello, deputado da Assembleia Constituinte. 

Segundo o professor de direito internacional da Universidade de Chicago Tom Ginsburg, durante a construção dos principais órgãos dedicados ao Direito Internacional vinculados às Nações Unidas, como o Tribunal Penal Internacional (TPI), houve um consenso de que sua jurisdição não abarcaria delitos de corrupção, mas apenas crimes de guerra e contra a humanidade. 

Aloysio Nunes disse ter ficado impressionado com o relato feito por Luisa Ortega Díaz sobre situação na Venezuela Foto: EFE/Joédson Alves.

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“O único remédio para crimes dessa natureza seriam tribunais nacionais”, explicou Ginsburg em entrevista ao Estado.“Mas Maduro não pode ser processado enquanto for chefe de Estado. O mesmo, no entanto, não se aplica a um membro do Congresso.”

Em 1998, o ex-ditador chileno Augusto Pinochet foi preso em Londres enquanto era senador a pedido da Justiça da Espanha, sob alegação de crimes cometidos contra cidadãos espanhóis. Uma vez fora da Venezuela e com um mandado de prisão contra si, Cabello poderia, em tese, ter o mesmo destino. 

Ortega prometeu ontem entregar provas à Justiça do Brasil, Colômbia, Estados Unidos e Espanha de que Maduro seria o dono de uma empresa com sede no México responsável por vender ao Estado venezuelano cestas básicas distribuídas à população de baixa renda. 

A chavista dissidente disse também ter documentos que ligam Cabello a uma propina de US$ 100 milhões depositada pela Odebrecht na conta da empresa espanhola TSE Arietis, cujos proprietários seriam dois primos de Cabello. 

Com o chavismo no controle de quase a totalidade das instituições do Estado venezuelano, com exceção do Parlamento, que teve suas funções tomadas pela Constituinte, dificilmente as denúncias serão julgadas na Venezuela. 

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Ainda de acordo com Ortega, ela tem provas de corrupção contra outras autoridades chavistas, como o prefeito do distrito caraquenho de Libertador, Jorge Rodríguez. 

Para Ginsburg, a solução mais eficaz para os indícios apresentados por Ortega é o congelamento de bens dos envolvidos. Os Estados Unidos já adotaram a medida contra Maduro, seu vice Tareck El Aissami e outras autoridades.