Depoimentos contraditórios ampliam suspeitas sobre morte de promotor argentino

Responsáveis por segurança de Alberto Nisman foram indiciados por ordem da presidente Cristina Kirchner

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Depoimentos contraditórios dos encarregados da segurança do promotor argentino Alberto Nisman aumentam o mistério em torno de sua morte, na semana passada. A divergência é alvo da investigação da promotora Viviana Fein, segundo o jornal argentino Clarín, especialmente sobre por que demoraram 11 horas para comunicar a seus superiores o que havia ocorrido com Nisman, um dia antes de apresentar ao Congresso provas contra a presidente Cristina Kirchner e o chanceler Alberto Timerman, por conta de um suposto acordo informal com autoridades iranianas para a investigação do caso AMIA.

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A principal diferença entre os depoimentos diz respeito à hora em que os homens da Polícia Federal subiram ao 13º andar da torre Le Parc, onde vivia Nisman. Por um lado, o suboficial superior Amando Niz declarou que subiram ao local às 14h30, enquanto o sargento Luis Miño falou em 17h. Além disso, enquanto um afirmou que seu carro estava estacionado no subsolo por causa da chuva, de onde não era possível fazer chamadas telefônicas, o outro disse que eles estavam em um estacionamento para visitas de onde, sim, era possível fazer chamadas telefônicas. Ambos os encarregados pela segurança de Nisman já prestaram depoimento e foram indiciados por ordem da presidente Cristina Kirchner. Niz e Miño eram a dupla encarregada de fazer a segurança do promotor no domingo, 18, quando foi encontrado morto. As informações sobre o conteúdo dos depoimentos foram divulgadas pelo blog Relaciones Internacionales, da jornalista independente Teresita Dussart, também correspondente de La Libre Belgique na Argentina.

O segurança Rubén Benítez, que conhecia Nisman havia 15 anos e também trabalhava como seu chofer, disse que no sábado por volta de meio-dia Nisman o chamou em seu apartamento e pediu que na segunda-feira comprasse uma pistola calibre 22 porque estava preocupado por sua segurança e temia pela vida de suas filhas. Às 19h30 do mesmo dia, o técnico de informática Sergio Lagomarsino entrou em seu apartamento e lhe emprestou a sua calibre 22, responsável por sua morte em circunstâncias misteriosas.

Cartaz 'Eu sou Nisman' é visto em praça na frente da Casa Rosada Foto: Marcos Brindicci / Reuters

Segurança. As informações reforçam a ideia de que Nisman andava extremamente preocupado com sua segurança. Segundo Lagomarsino, em entrevista ao jornal Página 12, o ex-diretor de contrainteligência Secretaria de Inteligência de Estado (Side) Antonio Stiuso havia chamado-o para conversar e o advertiu que se cuidasse. 

A morte de Nisman está envolta em polêmicas, que respingam no próprio governo de Cristina Kirchner. Em um primeiro momento, a presidente insistiu na tese de suicídio, mas depois de alguns dias se disse convencida de que o promotor não havia se matado. 

Na sexta-feira, 23, grampos divulgados mostravam a participação de líder piqueteiro kirchnerista Luis D’Elía na operação clandestina para fechar um pacto com o Irã para a impunidade dos envolvidos no atentado contra a AMIA em 1994. Responsável por investigar o atentado de 1994, Nisman fez uma denúncia na semana retrasada contra Cristina Kircher e o chanceler Timerman, devido ao acordo informal que minaria as investigações sobre o caso. 

O jornalista argentino Damián Pachter, primeiro a noticiar a morte do procurador Alberto Nisman, deixou a Argentina nesse sábado, 24, após afirmar que sua vida corria perigo. De acordo com o jornal La Nación, a Casa Rosada informou que Pachter está refugiado em Israel, depois de ter passado pelo Uruguai. O jornalista do Buenos Aires Herald teria decidido sair da Argentina depois de descobrir que seus telefones estavam grampeados e que estava sendo seguido por desconhecidos. 

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