Os prováveis cinco mil ‘operadores’, das Farc, a tropa guerrilheira ainda mantida em campo na Colômbia pelo comando supremo dos insurgentes, podem ter em mãos até 7 mil fuzis e pistolas, milhares de granadas de mão, mais uma grande quantidade de munições. Tudo isso em bom estado, pronto para uso. Durante os 52 anos da guerra civil, o movimento rebelde desenvolveu técnicas e protocolos de procedimento para evitar a deterioração do equipamento de combate e preservar o poder de fogo.
Não é só. O estoque contabiliza um número desconhecido de foguetes propelidos do tipo RPG, fornecidos pela China, e LAW, ingleses, comprados no mercado paralelo, com ogiva antiblindagem. O inventário inclui explosivos diversos, entre os quais o poderoso C-4H, uma versão de alta concentração e alta velocidade - 1,5 mais potente que o TNT, gerando uma onda de choque que se desloca a pouco menos de 30 mil km/hora. O destino desse arsenal preocupa o governo do presidente Juan Manuel Santos e de países vizinhos, o Brasil principalmente.
Pela regra do acordo de paz, as armas devem ser depostas pelos combatentes em locais específicos, sob supervisão externa, ainda não definida. O risco implícito é o de que haja um grande desvio do equipamento, ou a retenção pelas facções que não aprovam o cessar fogo e consideram a possibilidade de manter a luta. As Farc são, a rigor, uma espécie de federação de movimentos reunidos a partir de 1964 pelo fundador das Forças, Manuel Marulanda, o Tirofijo. Um modelo engenhoso e bem sucedido, formado por frentes alinhadas de acordo com cada uma das doutrinas da esquerda - dos moderados comunistas ortodoxos aos violentos maoístas radicais.
Em poucas semanas, haverá oferta de mão de obra combatente jovem, bem treinada, disciplinada e é bem possível, bem armada. Cartéis de drogas e facções do crime organizado das grandes cidades, além das gangues de contrabandistas das fronteiras do Brasil, Colômbia, Bolívia e Venezuela, farão gosto em recrutar os ‘soldados’ dispensados, pagando bem pelo conjunto de competências da mão de obra paramilitar.
Entre os ‘oficiais’ do contingente, há interesse particular pelos ‘professores’. Trata-se de um time de elite, quase todos oriundos da classe média burguesa, voluntários, com boa formação acadêmica e rara participação nas ações de enfrentamento. Sua missão era a de organizar a aplicação do dinheiro das Farc no mercado financeiro internacional e a de planejar as operações de expropriação - o nome político do assalto a banco e ao saque de empresas de transporte de valores.