Diretores do New York Times discutem sua cobertura internacional

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Por Agencia Estado
Atualização:

Em uma discussão pública sobre o processo editorial do jornal, os principais diretores do New York Times responderam críticas sobre a cobertura do Oriente Médio e uma possível guerra contra o Iraque. Na segunda-feira, em um fórum na Universidade da Califórnia, o publisher do jornal, Arthur Sulzberger Jr., disse que o NYT procura assegurar que haja um debate político aberto e honesto em torno da guerra antes de a nação decidir se vai para o conflito. "Este é o nosso trabalho", disse Sulzberger, que estava acompanhado de Howell Raines, editor-executivo do Times, em um debate moderado por Orville Schell, reitor da faculdade de jornalismo de Berkeley, e Mark Danner, professor da escola que também escreve para a revista New Yorker. Reines disse que o NYT vai se esforçar para colocar repórteres e fotógrafos diretamente na zona de guerra, a exemplo do que fez no Afeganistão, apesar de toda a pressão da administração Bush para tentar controlar a imprensa por meio de um pool. Danner notou que os conservadores acusaram o jornal de fazer campanha contra o uso de ação militar para derrubar presidente iraquiano Saddam Hussein. Raines disse que o jornal está apenas reportando o processo político. "Se há ausência de debate no país, se o Congresso não está questionando o governo, então temos aqui uma notícia", disse Raines. Danner afirmou que, por outro lado, os liberais reclamaram de o jornal freqüentemente imitar a linha de conduta do governo Bush. Raines classificou a afirmação de ingênua. Ele explicou que, se o governo Bush divulga informações falsas, o NYT vai registrar o fato, mas o jornal tem obrigação de acompanhar o assunto e angariar mais elementos para analisar a informação. Sobre o conflito no Oriente Médio, uma pergunta do público sobre por que o NYT não tem escritório na Cisjordânia ou Gaza e prefere cobrir a região de Jerusalém deixou Raines incomodado. A pergunta "pressupõe que onde você está influencia o que você pensa", disse ele. "O endereço não determina a conduta de nossos repórteres ou como eles pensam." Algumas pessoas se mexeram em suas cadeiras na platéia quando Raines disse que o NYT não estava errado quando reportou, no dia 27 de outubro, que milhares de manifestantes participaram de uma passeata pela paz em Washington, muito menos do que os organizadore esperavam. Outra reportagem na mesma semana incluiu a estimativa da polícia, de 100 mil pessoas, e a dos organizadores, de 200 mil participantes, acrescentando que os números "assustaram até os organizadores". "A primeira reportagem estava incompleta", disse ele. "O número era uma questão de julgamento, uma questão a ser apurada." Mas, acrescentou ele, "nesse negócio só há uma coisa a fazer quando se está errado e é ´colocar ascoisas em pratos limpos´ o mais rápido possível". Os executivos do NYT também falaram sobre as novas iniciativas do jornal para expandir a cobertura internacional e intensificar a publicação de reportagens sobre cultura popular. Sulzberger disse que o jornal aumentou o número de sucursais estrangeiras de 26, há alguns anos, para 29, e planeja expandir a cobertura de assuntos internacionais ainda mais para atrair mais assinantes. Ao contrário do que se pensa em algumas empresas, Raines disse acreditar que há público cada vez maior para noticiário internacional. Cultura popular é "a pulsação do país" e influencia tudo, desde o mundo dos negócios até governos estrangeiros, exemplificando com uma recente reportagem de primeira página sobre a cantora pop Britney Spears. "Falava sobre a máquina da fama, a engrenagem econômica que está por trás dela", disse Raines. "Nosso público está interessado em ler uma exegese sofisticada de um fenômeno sociológico como esse." Ele assegurou que essas mudanças virão "somar" e não vão afetar a cobertura de outros assuntos. "Se pararmos de mudar, vamos estagnar e não nos aperfeiçoar", disse Sulzberger. "Vamos mudar para as novas gerações."

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