‘Divisão do chavismo pode debilitar Nicolás Maduro’, diz militar venezuelano

Segundo o tenente Jose Antonio Colina, há uma tensão entre os civis, representados por Delcy e Jorge Rodríguez e dentro das Forças Armadas

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Por Fernanda Simas
Foto: Arquivo Pessoal
Entrevista comJose Antonio ColinaEx-militar venezuelano

A atual divisão dentro do chavismo pode debilitar a posição do presidente Nicolás Maduro, que não é um chavista originário, na opinião do tenente aposentado José Antonio Colina. Há uma tensão entre os civis, representados por Delcy e Jorge Rodríguez e dentro das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB).

Qual é o impacto da saída do ministro Aissami?

Enorme, pois ele é um dos quatro herdeiros do chavismo mais importantes. Ele acumulava um poder não apenas no setor de petróleo, mas na relação com os iranianos e em uma ala militar, sobretudo na Guarda Nacional. Sua saída tira uma das peças importantes do chavismo de cima da mesa, debilitando o regime de Maduro.

Qual é a importância da PDVSA hoje para o governo?

Muita. É o caixa de onde sai todo o dinheiro para financiar a revolução, fazer os negócios, sob os quais muitos enriquecem, e bancar a classe política que criaram, a boliburguesia.

Há divisão no chavismo?

Sim, o chavismo vive uma grande divisão. No passado, já ocorreu uma divisão entre o setor conhecido como ‘civis do chavismo’, a Frente Francisco de Miranda, da qual fazem parte Nicolás Maduro, Jorge Rodríguez e Delcy Rodríguez, e a ala militar, representada por sua máxima autoridade, Diosdado Cabello. Quando Maduro chegou ao poder, deu muita força à frente Francisco de Miranda e debilitou a frente dos chavistas originários. Dessa ala, muitos estão sem cargo, no exílio ou presos. Diosdado hoje não tem nenhum poder forte dentro da Venezuela. Essa divisão vai além e chegou à própria frente Francisco de Miranda, o que ficou evidente com a queda de Aissami. Agora, na atual disputa, estão quatro pessoas: Delcy Rodríguez, Jorge Rodríguez, o ministro da Defesa Padrino López e Diosdado.

Qual é o impacto dessa divisão para Maduro?

Muito grande. É preciso lembrar que Maduro não é um chavista originário, ele chegou até a revolução por meio da mulher, Cilia Flores, que foi advogada de Hugo Chávez quando ele estava preso. Maduro não faz parte da revolução desde suas raízes, é um civil dentro do chavismo. Chegou por condições da vida. Se existe uma divisão no chavismo, isso o afeta porque seu forte era manter a frente Francisco de Miranda unida. Quando sua frente se divide, como agora, isso pode levar a uma erosão que vai debilitá-lo diante da própria ala militar do chavismo.

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