BRASÍLIA - Aliado do presidente Jair Bolsonaro, o senador Nelsinho Trad (PSD-MS), que comanda a Comissão de Relações Exteriores do Senado, avalia que o governo brasileiro será forçado a mudar sua narrativa na área ambiental e inaugurar uma "nova era" na relação com o país americano. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, Trad defendeu uma posição pragmática do mandatário brasileiro.
"O peso da responsabilidade administrativa recai sobre as costas de quem senta na cadeira. Você pode torcer o nariz e franzir a testa, mas vai fazer o quê?", disse Trad, que na semana passada fez parte de uma comitiva organizada pelo vice-presidente Hamilton Mourão com embaixadores em viagem pela Amazônia.
O que o resultado da eleição nos EUA significa para o Brasil?
A preferência por um candidato é natural no ambiente político, como é o caso do governo do presidente Bolsonaro. Mais importante do que isso, é o relacionamento comercial entre os dois países. O peso da responsabilidade administrativa recai sobre as costas de quem senta na cadeira. Você pode torcer o nariz e franzir a testa, mas vai fazer o quê? Espero que os Estados Unidos possam manter e até melhorar a relação comercial conosco. Apesar de deslizes aqui ou acolá, o Brasil respeita as questões democráticas.
O presidente Bolsonaro ainda não cumprimentou Biden pela eleição. Isso prejudica?
O presidente Bolsonaro é uma pessoa que não esconde sua autenticidade. Ele é verdadeiro e, como diz aqui no meu Estado (Mato Grosso do Sul), não rodeia toco. Ele está aguardando uma manifestação mais oficial para depois se manifestar. Acho que após a devida confirmação a qual o processo eleitoral se submete, como estadista, ele vai se pronunciar cumprimentando quem ganhou.
A eleição de Biden vai aumentar a pressão sobre o Brasil na questão ambiental?
Essa ida que fizemos na Amazônia (levando embaixadores) deve ser cada vez mais frequente e rotineira. Ali observamos que o trabalho de fiscalização é árduo e que há resultado. É preciso reavaliar esse assunto. Nós não damos nenhum desprezo para essa questão. Não está abandonado, como se passa a imagem. Pelo contrário, os caras trabalham demais. Deu para ver isso.
O governo Bolsonaro precisa dar uma resposta diferente?
A eleição do Biden vai forçar uma nova narrativa nessa questão. Isso é inegável. Com os embaixadores, tivemos uma excelente impressão. O governo vai ter de fazer mais isto, formar comitivas para vivenciar de perto os problemas da Amazônia. O caminho é esse, não tem outro.
A pressão chega ao ponto de impor a troca dos ministros do Itamaraty e do Meio Ambiente?
Não. São pessoas comprometidas com o governo e estão devidamente instaladas nas suas atividades. Apesar de deslizes e senões, isso acontece e é mais do que natural e tolerável essas situações.
O que o presidente Bolsonaro precisa fazer na prática a partir de agora?
Primeiro, como bom e civilizado democrata que é, apesar das opiniões, esperar a confirmação do resultado e cumprimentar aquele que ganhou. Depois, estabelecer um novo caminho, uma nova era, uma nova fase de negociação bilateral. A vida impõe certas curvas para tomar decisões no dia a dia. O que se faz é seguir em frente. Não pode ficar: 'ah, porque ganhou o democrata nós não vamos nos relacionar'. Preferência todo mundo tem, agora a preferência maior tem que ser o bem do Brasil. Eu tenho certeza que Bolsonaro tem esse pensamento.