LISBOA - O crescimento da bancada do Chega, partido de extrema direita que conquistou seu primeiro assento no Parlamento português em 2019, com a eleição de André Ventura, está sendo acompanhado com preocupação pelas organizações civis, algumas formadas por brasileiros que lutam pelos direitos dos imigrantes e contra a xenofobia em Portugal.
“Esse direcionamento da direita radical de construir inimigos, como fizeram com a comunidade cigana e islâmica em Portugal, pode conseguir mais aderência social a partir do resultado dessas eleições e isso é preocupante”, disse a pesquisadora brasileira Ana Paula Costa, membro da direção da Casa do Brasil em Lisboa.
“Se os políticos podem dar voz a um discurso discriminatório e preconceituoso, o cidadão comum também se sente autorizado e isso pode ter impacto no dia a dia dos estrangeiros, em seus direitos à saúde, ao trabalho, à educação e à assistência social”, afirmou Ana Paula.
Para Ana Paula, em Portugal, é muito comum ouvir o mito de que o imigrante usufrui de serviços e apoios sociais, como se ele não pagasse impostos e não contribuísse para a previdência social.
No entanto, de acordo com o relatório estatístico do Observatório das Migrações, as contribuições de estrangeiros em Portugal somaram € 1 bilhão (cerca de R$ 6,2 bilhões), em 2020, sendo que os brasileiros responderam por € 350 milhões (aproximadamente R$ 2,2 bilhões).
O superávit da previdência social portuguesa foi de € 802 milhões, em 2020. De acordo com o relatório do Observatório das Migrações, no mesmo período, foram pagos € 273 milhões em benefícios a imigrantes, como auxílio-desemprego.
Em seu programa partidário, o Chega concebe uma política de imigração que vai na direção contrária às “nefastas ambições multiculturais e globalistas”.
O partido, chefiado por André Ventura, defende que “a solução legítima” para suprir a mão de obra em Portugal passa por políticas que impeçam a migração de portugueses para outros países da Europa, atraídos por melhores salários.
Para a extrema direta portuguesa, a imigração deve ser regulada e criteriosa, levando em conta, entre outros fatores, “a mais-valia que os imigrantes possam trazer ao país”, onde faltam trabalhadores para os setores de construção civil, turismo, serviços, computação, além de médicos e professores.