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Eleição na Nigéria: candidato da terceira via tenta quebrar hegemonia de partidos tradicionais

País mais populoso da África elege sucessor de Muhammadu Buhari, em pleito marcado por desejos de mudança

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Por Redação

Os nigerianos foram às urnas neste sábado, 25, para eleger um sucessor para o presidente Muhammadu Buhari, em uma disputa com três favoritos para liderar o país mais populoso da África e o maior produtor de petróleo do continente pelos próximos quatro anos.

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O cenário político, dominado por dois partidos hegemônicos, é ameaçado por Peter Obi, de 61 anos, do Partido Trabalhista (PL), candidato da terceira via, que cresceu nas pesquisas na reta final da campanha.

Depois de oito anos sob o governo de Buhari, muitos nigerianos clamam por mudanças para enfrentar desafios, incluindo ataques de grupos jihadistas e separatistas, uma economia fraca e o aumento da pobreza.

Inspetores de partidos políticos observam a contagem das cédulas em uma zona eleitoral em Yola, na Nigéria Foto: Esa Alexander/Reuters

Desde a restauração do governo civil, em 1999, dois partidos se alternam no poder: o Congresso de Todos os Progressistas (APC), partido de Buhari, e o Partido Democrático Popular (PDP).

O APC, partido de Buhari — que não está na disputa porque atingiu o limite determinado pela Constituição de dois mandatos — tem como candidato à sucessão Bola Tinubu, de 70 anos, apelidado de “o padrinho” por sua enorme influência política. Durante a campanha, Tinubu destacou seu mandato como governador de Lagos e diz que chegou a sua vez.

Já o PDP apresentou a candidatura do ex-vice-presidente Atiku Abubakar, de 76 anos, que tentará pela sexta vez chegar ao posto de chefe de Estado. Ele afirma que sua sagacidade no mundo empresarial lhe permitirá “salvar” a Nigéria.

O tradicional domínio dos dois partidos na política nigeriana, no entanto, está ameaçado por Obi, ex-governador de Anambra (Sudeste) que, com suas promessas de mudança, conquistou grande popularidade entre os jovens urbanos. Sua entrada no pleito pode levar a um segundo turno, pela primeira vez desde o fim do regime militar em 1999.

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O líder do Partido Trabalhista da Nigéria, Peter Obi, que corre por fora na tentativa de superar os dois partidos hegemônicos no país  Foto: Mosa'ab Elshamy/AP Photo

Outro fator com consequências políticas imprevisíveis vem da falta de liquidez bancária, devido à decisão do Banco Central de substituir a moeda nigeriana, o naira, por uma nova, para tentar conter a corrupção e a inflação. A medida, a poucos dias do pleito, deixou muitos nigerianos sem meios para fazer compras ou usar o transporte público e alimentou o descontentamento com o governo de Buhari. O bloqueio do dinheiro provocou longas filas em frente a bancos e tumultos em várias cidades e dividiu o APC.

Passado de violência

Alguns dirigentes do partido no poder chegaram a ver a mudança da moeda como uma manobra para enfraquecer seu candidato.

“Não sei o que está acontecendo neste país”, disse à AFP Mohammed Badawa, um empresário que tentava sacar dinheiro na cidade de Kano, no Norte. “Agora é só aturar isso e votar em um novo governo.”

As eleições na Nigéria são frequentemente abaladas por episódios de violência, tensões políticas e étnicas e problemas logísticos. Em 2019, a Comissão Nacional Eleitoral Independente (INEC) adiou as eleições por uma semana, poucas horas antes da abertura dos postos de votação. A direção do INEC, no entanto, garantiu que as eleições serão realizadas na data prevista.

Mulher nigeriana coloca cédula em um dos pontos de votação na capital da Nigéria, Abuja  Foto: Michele Spatari / AFP

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A campanha deste ano também foi marcada por ataques contra candidatos, ativistas, delegacias de polícia e locais de votação. A violência generalizada no país, que já registrou taxas de abstenção superiores a 60% em outras eleições, “pode afetar a votação”, alertou o International Crisis Group. O governo mobilizou 400 mil membros das forças de segurança em todo o país.

A eleição também é influenciada por fatores étnicos e religiosos, em um país com 250 grupos étnicos, divididos entre o Norte, de maioria muçulmana, e o Sul, majoritariamente cristão.

Um total de 93,5 milhões de pessoas estão registradas para votar nestas eleições, nas quais também serão eleitos deputados e senadores. Os resultados serão anunciados nos 14 dias posteriores à votação. Em caso de segundo turno, a votação deve acontecer em um período de 21 dias.

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As eleições serão acompanhadas com atenção fora do país, depois dos golpes de Estado no Mali e em Burkina Faso, que colocaram em xeque a democracia na África Ocidental e da expansão de grupos armados islâmicos no Golfo da Guiné.

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