BRUXELAS - Os embaixadores dos 27 países da União Europeia (UE) autorizaram nesta segunda-feira, 28, a aplicação provisória do acordo comercial pós-Brexit com o Reino Unido a partir de 1º de janeiro, à espera da ratificação parlamentar formal em Londres e Bruxelas.
"Luz verde ao acordo Brexit: os embaixadores aprovaram unanimemente a aplicação provisória do Acordo Comercial e de Cooperação UE-Reino Unido", escreveu no Twitter o porta-voz da Presidência Alemã do Conselho da União Europeia, Sebastian Fischer. A aprovação por escrito da autorização provisória acontecerá na terça-feira, às 11h (de Brasília).
A intenção dos representantes permanentes é permitir que o texto (de mais de 1.200 páginas) seja publicado no Diário Oficial da UE o mais rápido possível, provavelmente na quinta-feira.
No Twitter, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou que teve uma conversa com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e ambos destacaram que o acordo é "um novo ponto de partida" para a relação bilateral. "Esperamos a ratificação formal do acordo e poder trabalhar em prioridades compartilhadas", destacou o chefe de governo britânico.
Em tom mais cauteloso, Michel afirmou no Twitter, momentos depois, que o acordo ainda estava "sob escrutínio". Ele classificou o texto aprovado como "justo" e "equilibrado" e que "espera ansiosamente" por cooperar com o Reino Unido no combate às mudanças climáticas e à covid-19, e em questões diplomáticas como "aliados que partilham interesses comuns".
Ratificação parlamentar
No dia 1º de janeiro, o Reino Unido sairá definitivamente do mercado comum e da união alfandegária da UE. O acordo estabelece as normas que administrarão a partir desta data as relações comerciais entre as partes.
No Parlamento britânico, a aprovação do acordo não deve, a princípio, apresentar dificuldades, graças à maioria conservadora de Johnson e ao apoio anunciado ao texto por parte da oposição trabalhista. O Parlamento poderia ratificar o acordo ainda esta semana, provavelmente na quarta-feira.
O Parlamento Europeu, no entanto, já havia advertido que só teria condições de ratificar formalmente qualquer acordo antes de 1º de janeiro se recebesse o texto até 20 de dezembro.
Como o prazo não foi cumprido, o Parlamento se propõe a submeter o acordo à votação de ratificação em fevereiro de 2021, provavelmente no dia 23, e por isso era urgente aprovar a aplicação provisória do tratado.
Em um comunicado divulgado nesta segunda-feira, o Parlamento Europeu destaca que o caráter provisório da aplicação do acordo "não constitui um precedente nem reabre acordos assumidos entre as partes"
Análise de 1.200 páginas
A autorização da aplicação provisória, no entanto, é válida apenas até 28 de fevereiro, a menos que as partes estabeleçam outro prazo. Em sua nota, no entanto, o Parlamento afirma que decidiu "examinar" a possibilidade de estender a aplicação provisória para além de 28 de março, para permitir a ratificação durante uma "sessão plenária em março".
A partir de agora, explica o comunicado, as comissões do Comércio e das Relações Exteriores "examinarão cuidadosamente" o texto do acordo para preparar uma moção antes de submetê-lo à votação. Além disso, o Parlamento pretende "monitorar de perto" a aplicação do acordo em "todos os detalhes".
O Reino Unido abandonou a UE em 31 de janeiro, mas as partes concordaram com um período de transição até 31 de dezembro para negociar a relação comercial a partir de 2021.
A negociação avançou relativamente bem, mas na reta final ficou travada por divergências aparentemente intransponíveis sobre os direitos de pesca, normas de concorrência e a gestão jurídica do eventual acordo.
Em dezembro, as negociações entraram em um momento crítico e diversas vezes se aproximaram do colapso, mas finalmente em 24 de dezembro as partes anunciaram um acordo.
Durante todo o fim de semana, os representantes dos governos nacionais e especialistas da União Europeia analisaram as 1.246 páginas no acordo firmado entre UE e Reino Unido.
Com a associação econômica e comercial, a UE oferece ao Reino Unido acesso sem tarifas ou cotas a seu mercado de 450 milhões de consumidores, mas prevê sanções e medidas compensatórias em caso de descumprimento das normas./AFP, AP e EFE