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‘Síndrome de Havana’ em agentes do governo dos EUA pode ter sido causada pela Rússia, acusam jornais

The Insider, a emissora CBS e a revista Der Spiegel realizaram uma investigação de um ano sobre conjunto de sintomas inexplicáveis relatados por agentes do governo dos EUA desde 2016; governo americano diz não acreditar em ação de adversário estrangeiro

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Por Redação

A Rússia poderia estar por trás dos casos de “síndrome de Havana”, um conjunto de sintomas inexplicáveis que agentes do governo dos Estados Unidos sofreram nos últimos anos, afirma uma investigação feita pela televisão CBS, pelo veículo russo The Insider e pela revista alemã Der Spiegel. Os relatórios sugerem, mas não provam, que um grupo da Inteligência Militar Russa é responsável pelos ataques.

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A síndrome remonta a 2016, quando funcionários dos Estados Unidos em Cuba começaram a relatar sintomas que incluíam dores de cabeça, tontura, visão turva e perda de memória após ouvirem estranhos barulhos e sentirem sensações estranhas. Desde então, mais de 200 diplomatas americanos, funcionários da Inteligência e seus familiares, em diferentes países, relataram o conjunto de sintomas.

Há pouco mais de um ano, a inteligência dos EUA concluiu que era “altamente improvável” que um adversário estrangeiro causasse a chamada “síndrome de Havana”. Da mesma forma, a mais recente Avaliação Anual de Ameaças do Gabinete do Diretor de Inteligência Nacional dos EUA, publicada em 5 de fevereiro deste ano, concluiu que os sintomas “provavelmente foram o resultado de fatores que não envolveram um adversário estrangeiro”.

Mas a investigação de um ano feita pelos jornalistas, lançada no domingo, 30, sugere que os incidentes de saúde podem ter a sua origem no uso de armas de energia dirigida empunhadas por membros da Unidade 29155, um esquadrão do Serviço de Inteligência Militar de Moscou notório por assassinatos estrangeiros e outras atividades destinadas a desestabilizar países europeus.

Em 2020, a Academia Nacional de Ciências dos EUA já havia identificado o uso de energia de “radiofrequência pulsada e direcionada” como possível causa dos incidentes, mas havia poucas evidências até agora sobre um perpetrador.

Segundo o Insider, membros deste unidade receberam prêmios e promoções políticas por trabalhos relacionados ao desenvolvimento de “armas acústicas não letais”, um termo usado na literatura científico-militar russa para descrever dispositivos de energia dirigida baseados em radiofrequência e som.

“The Insider, 60 Minutes e Der Spiegel descobriram evidências documentais de que a Unidade 29155 tem feito experiências exatamente com o tipo de tecnologia armada que os especialistas sugerem ser uma causa plausível para a misteriosa condição médica”, diz o Insider.

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Além disso, informou o Insider, os dados de geolocalização mostram que operadores ligados à Unidade 29155, viajando disfarçados, estavam presentes em locais onde a síndrome de Havana ocorreu, pouco antes dos incidentes ocorrerem.

'Síndrome de Havana' remonta à 2016, quando funcionários americanos em Cuba deram os primeiros relatos do conjunto de sintomas. Na foto, Embaixada dos EUA em Cuba. Foto: AP Photo/Desmond Boylan, Arquivo

A investigação também afirma que os funcionários americanos que relataram os sintomas têm algo em comum: envolveram-se em questões relacionadas com a Rússia durante o seu trabalho.

“De todos os casos examinados pelo The Insider, 60 Minutes e Der Spiegel, os mais bem documentados envolvem pessoal diplomático e de inteligência dos EUA com experiência no assunto na Rússia ou experiência operacional em países como a Geórgia e a Ucrânia, dois estados pós-soviéticos que passaram por ‘revoluções coloridas’ pró-Ocidente nas últimas duas décadas”, diz a investigação.

‘Não fornece elementos sérios’

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O relatório de investigação divulgou o depoimento de Mar Polymeropoulos, identificado como ex-oficial de operações da Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA, com atribuições em lugares como Bagdá e Cabul, que sofreu sintomas relacionados à “síndrome de Havana” após uma viagem a Moscou em 2017.

Os sintomas, de acordo com esse relatório, correspondiam à “síndrome de Havana” e, durante anos, Polymeropoulos teve que lutar para ter acesso aos cuidados médicos que sua condição exigia. O 60 Minutes observou que, de acordo com várias de suas fontes no ano passado, quando o presidente Joe Biden participou de uma cúpula da Otan na Lituânia, um funcionário de alto cargo do Pentágono ficou doente.

O 60 Minutes observou que quando Biden participou de uma cúpula da Otan na Lituânia no ano passado, um funcionário de alto cargo do Pentágono ficou doente. Foto: AP Photo/Pavel Golovkin, arquivo

Na segunda-feira, 1º, o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, disse que o departamento ainda confia na avaliação feita pelo governo dos Estados Unidos, de que a síndrome não está relacionada a uma sabotagem de inimigos.

“A conclusão geral da comunidade de inteligência desde março de 2023 é que é improvável que um adversário estrangeiro seja responsável por estes incidentes de saúde anómalos”, disse Miller. “É algo que a comunidade de inteligência investigou extensivamente e continua analisando. Analisaremos novas informações à medida que elas chegarem e faremos avaliações dentro do Departamento de Estado e com nossa comunidade de inteligência.”

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Da mesma forma, o principal investigador dos incidentes em Cuba, Mitchell Valdés-Sosa, disse à Associated Press que o novo relatório não conseguiu fornecer qualquer base científica para substanciar a existência da síndrome de Havana.

“Acho que esta investigação jornalística não fornece elementos sérios, especialmente que existe uma nova doença causada por uma energia misteriosa”, disse. “Os sintomas são muito variados: problemas de equilíbrio, problemas de sono, tonturas, dificuldades de concentração e muitas doenças podem causá-los.”/EFE, Associated Press e Washington Post.

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