EUA vetam resolução do Brasil sobre guerra entre Israel e Hamas no Conselho de Segurança da ONU

Motivo foi ausência de menção no texto ao direito de autodefesa de Israel; proposta, que pedia cessar-fogo e corredor humanitário, dizia que houve ‘ataque terrorista do Hamas’

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Por Felipe Frazão
Atualização:

BRASÍLIA - Os Estados Unidos vetaram, de forma isolada, nesta quarta-feira dia 18 uma proposta de resolução patrocinada pelo Brasil sobre a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, no Conselho de Segurança das Nações Unidas. O projeto previa pausas humanitárias no confronto e condenação dos ataques terroristas. Segundo a diplomacia dos EUA, o veto se deve à ausência de menção ao direito de autodefesa de Israel, apoiado por Washington.

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Os Estados Unidos têm poder de veto por serem um dos membros permanentes do Conselho, ao lado de Rússia, China, Reino Unido e França.

“Os EUA estão desapontados por a resolução não citar o direito de autodefesa de Israel. Não podemos apoiar o avanço dessa resolução, mas continuaremos a trabalhar com os membros do conselho”, disse a embaixadora Linda Thomas-Greenfield. “Estamos no terreno fazendo o trabalho duro da diplomacia.”

A embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield, votou contra a resolução do Brasil para o conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas em uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, em Nova York  Foto: Mike Segar/Reuters

“Ao passo que reconhecemos o desejo do Brasil de aprovar esse texto, acreditamos que precisamos deixar essa diplomacia acontecer, especialmente quando o secretário-geral António Guterres, o presidente Joe Biden e o secretário de Estado Antony Blinken e atores regionais estão envolvidos em intenso diálogo sobre várias questões que estamos deliberando hoje. Sim, resoluções são importantes e este Conselho deve se pronunciar, mas ações que tomamos devem ser baseadas nos fatos do terreno e apoiar esforços diplomáticos diretos que salvam vidas”, completou a embaixadora americana na ONU.

Greenfield indicou que o veto se deve também à aposta dos EUA na diplomacia presidencial de Biden, durante sua visita ao Oriente Médio. Diplomatas brasileiros avaliam, reservadamente, que Washington quer dar mais protagonismo a Biden, de olho em repercussões internas nas futuras eleições para a Casa Branca, além de demonstrar apoio incondicional à Israel.

O Conselho, disse a embaixadora, deveria também ter citado o direito de autodefesa como fez em outras ocasiões, como após ataques terroristas anteriores da Al-Qaeda e do Estado Islâmico.

Resolução

A resolução teve 12 votos a favor, 1 veto e 2 abstenções – de Rússia e Reino Unido. Dos membros permanentes, China e França votaram a favor do projeto brasileiro, como haviam indicado na véspera.

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A resolução obteve o mínimo de 9 votos para aprovação, mas acabou barrada pelo veto dos EUA, um membro permanente do Conselho de Segurança. Para ser aprovada, uma resolução exige a aprovação de 9 dos 15 membros do órgão, e nenhum veto dos cinco com assento permanente – EUA, China, Rússia, França e Reino Unido.

Desde 2016 o conselho não emite uma resolução sobre o Oriente Médio, situação que coloca mais pressão sobre o órgão, criticado pela ineficiência em relação à Guerra da Ucrânia.

O embaixador do Brasil na ONU, Sergio Franca Danese, discursa na reunião do Conselho de Segurança da ONU, em Nova York, Estados Unidos  Foto: Mike Segar/Reuters

A Rússia criticou a proposta brasileira, e propôs duas emendas. Uma para incluir uma condenação a ataques a civis na Faixa de Gaza, citando o ataque ao hospital, e a segunda, para falar em cessar-fogo humanitário, em vez de uma pausa humanitária. A primeira parte teve 6 votos a favor, 1 contra e 8 abstenções, sendo derrotada. A segunda parte também fracassou, após novo veto dos EUA – o placar total foi de 7 a favor, 1 contra e 7 abstenções.

A escalada de violência, que chegou ao 12º dia, já soma mais de 4.000 mortos, sendo 3.000 palestinos e 1.400 israelenses. A maioria é civil.

Reação

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Minutos após a proposta redigida e articulada pelo Brasil ter sido barrada pelos EUA, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, argumentou que o conteúdo não era uma proposta puramente do governo Lula. Segundo ele, a proposta havia sido apresentada por solicitação de 13 dos 15 membros ao País, pelo fato de o Brasil exercer a presidência durante outubro.

O ministro disse ter participado pessoalmente das primeiras articulações, na semana passada, quando esteve em NovaYork, e que a diplomacia trabalhou para acomodar o texto ao que fosse mais “palatável” a todos os membros do Conselho de Segurança.

O ministro rebateu ainda o argumento dos UEA. Segundo ele, ao citar as resoluções anteriores do Conselho, implicitamente estaria reconhecido o direito de autodefesa do Estado de Israel.

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“Esse texto focava na cessação de hostilidades, no aspecto humanitário, criando passagem humanitária para que se pudesse sair de Gaza e estabelecia a possibilidade do envio de ajuda humanitária. Infelizmente não foi possível aprovar essa resolução, ficou clara a divisão de opiniões”, afirmou o ministro, em entrevista no Itamaraty.

“Fizemos todo o esforço possível para que cessassem as hostilidades e parassem com sacrifícios humanos e pudesse dar algum tipo de assistência a populações locais e aos brasileiros que estão ainda na Faiza de Gaza e expressaram desejo de sair e outros que não manifestaram porque não podem sair, não têm para onde ir. Nossa preocupação foi sempre humanitária, cada país terá tido sua inspiração própria”, afirmou o chanceler.

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