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França permite visita a usinas nucleares em fase de desmanche

Por ESTELLE SHIRBON
Atualização:

Enquanto o mundo se aflige com as usinas de enriquecimento de urânio do Irã e da Coreia do Norte, a França está se livrando publicamente das suas centrais nucleares, para servir de exemplo. A França não planeja se desfazer de suas armas nucleares, mas tem plutônio e urânio altamente enriquecido em quantidade suficiente para manter seu arsenal, por isso está desmantelando as fábricas que eram usadas para fabricar esses materiais. Elas estão localizadas em Marcoule e Pierrelatte, duas grandes áreas industriais construídas em meio a vinhedos e campos de produção de lavanda em um canto da Provença, perto do Rio Rhône. Quando forem fechadas, elas terão operado por 40 anos e deixado um custo de mais de 6 bilhões de euros (8,4 bilhões de dólares) para a remoção dos materiais radioativos e desmantelamento de todo o complexo maquinário. Por muitas décadas, enquanto ainda estavam em operação, as duas usinas foram classificadas como altamente secretas. Recentemente, num dia ensolarado do verão, Marcoule e Pierrelatte foram mostradas para um pequeno grupo de jornalistas, em uma visita cuidadosamente planejada e que, segundo a França, era a primeira deste tipo ao local. "Esta não é uma decisão anódina, quero insistir nisso. É a primeira vez que um Estado armado nuclearmente faz isso", disse aos repórteres Antoine Beaussant, um assessor militar chegado ao presidente francês, Nicolas Sarkozy, enquanto colocavam capacetes especiais e punham pequenos contadores Geiger nas roupas brancas que teriam de usar durante o tour. A visita dos jornalistas cumpria uma promessa feita por Sarkozy em 2008 de abrir as duas centrais para mostrar ao público que não estão mais sendo utilizadas. DESARMAMENTO A França possui armas nucleares desde 1960, mas vem reduzindo seu arsenal desde o fim da Guerra Fria. O país tem menos de 300 ogivas nucleares, metade do que já possuiu. Isso é suficiente como força dissuasiva para proteger os interesses nacionais vitais, diz Sarkozy. A produção de materiais físseis para bombas foi encerrada em 1996 e a destruição das usinas está em fase avançada. A decisão de Sarkozy de permitir que pessoas de fora vejam o que restou das centrais tem por objetivo estimular outras potências nucleares oficiais -- Estados Unidos, Grã-Bretanha, Rússia e China -- a desmantelarem suas instalações similares e mostrar que estão fazendo isso. A atitude transparente da França, bem como iniciativas recentes dos EUA e Rússia de reduzir seus arsenais nucleares, é também um sinalizador para o Irã e a Coreia do Norte. A mensagem tática para aqueles países é que potências nucleares maduras estão fazendo esforços para reduzir seu poder de fogo, por isso eles também poderiam privar-se de construir arsenais nucleares. A França também quer mostrar apoio a negociações para um tratado mundial para suspender a produção de material de fabricação de bombas nucleares, que obteve avanços recentemente, depois de um longo período de impasse. Sarkozy, que nunca foi de ficar calmamente à margem dos acontecimentos, quer apresentar a França como líder no processo de desarmamento mundial. Autoridades disseram que as operações de desmanche de Pierrelatte e Marcoule foram extremamente seguras, com 30 pequenos incidentes registrados na década, desde o início dos trabalhos, em comparação com 900 por ano em instalações nucleares civis na França. No entanto, a segurança continua sendo uma preocupação em usinas como essas. Em uma mensagem colocada em um espelho, no caminho para as instalações, os trabalhadores e visitantes são lembrados: "ESTA é a pessoa mais responsável por sua segurança".

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