A Suíça é um país pequeno, rico, até mesmo luxuoso, culto, de uma beleza absoluta. Cheio de montanhas, vacas, lagos, joalheiros, além disso, não se encontram muitos árabes ou congoleses nas sublimes torrentes da Engadina ou nos opulentos pastos do Valais. No entanto, quando os suíços votam, como acabaram de fazer, a quem dão sua preferência? Ao partido xenófobo da UDC (União Democrática do Centro), isto é, ao populista de direita, Toni Brunner, que construiu sua fortuna política sobre a desconfiança, para não dizer o ódio, pelos estrangeiros. A UDC, que já estava bem representada no Conselho Nacional (Câmara baixa), ampliou ainda mais sua posição. Antes, tinha 54 cadeiras; agora, tem 65 para 200 membros do total. E como não é a única formação populista, se somarmos à UDC o Movimento dos Cidadãos Genebrinos e as Ligas dos Ticineses, chegaremos ao seguinte resultado: os populistas ocupam 101 cadeiras das 200 do Conselho Nacional, ou seja, têm a maioria absoluta. Esta votação merece uma análise. Em geral, o repúdio em relação aos estrangeiros se explica por razões econômicas. A França, como toda a Europa, atravessa momentos delicados. O desemprego é muito elevado. E magrebinos, kosovares ou somalis roubam os empregos que os bons franceses evitam. Além disso, estes africanos têm um número incrível de filhos, recebem enormes ajudas do Estado francês, benefícios sociais e médicos, e depois vocês se surpreendem pelo fato de os hospitais de Paris estarem superlotados. Todos estes argumentos podem parecer sérios num país como a França, ou a Itália, ou a Grã-Bretanha, que abrigam de fato números enormes dos integrantes das minorias africanas ou asiáticas. Mas, a Suíça? A Suíça, "branca até a ponta das unhas", opulenta, onde o desemprego é escasso, como explicar esta virulenta xenofobia? Evidentemente, a desconfiança em relação aos estrangeiros é uma velha mania da Suíça. Ela está inscrita nos seus genes. Bem protegidos por suas montanhas, firmemente instalados numa economia brilhante, extremamente distintos, os suíços sempre detestaram que "sangue impuro" se misturasse ao seu sangue de luxo. Entretanto, há cerca de dez anos, e sobretudo depois do aparecimento de Toni Brunner, o tribuno da União Democrática do Centro, a Suíça passou a intensificar suas criticas aos estrangeiros. A nova façanha eleitoral da UDC explica-se: as centenas de milhares de migrantes que chegam desde janeiro às costas da Europa e da Grécia, para em seguida se dispersarem nos outros países europeus, provocam pesadelos nos burgueses pacíficos de Lausanne e de Zurique. O líder da UDC declarou: "A população apoia nossas posições a respeito da imigração". Esta frase faz meditar, e é preciso aplicá-la também aos outros países europeus. O que acontece na Suíça deve ser entendido como um prenúncio do que é provável que venha a suceder em todos os países europeus. O aumento repentino dos fluxos de imigrantes provoca a secreção um "antídoto": um ódio cada vez mais virulento pelos estrangeiros. Um olhar ao que acontece na Alemanha, país rico e pacífico, reforça estas apreensões:. Sua chanceler, Angela Merkel, é "a mulher mais poderosa do mundo". Ela reina em seu país. É admirada e coleciona cifras incríveis em matéria de popularidade. Entretanto, há algumas semanas, esta mulher tão prudente, repentinamente abandonou a prudência e, num estranho estremecimento do coração, afirmou que a Alemanha deveria ser compassiva com os migrantes e absorver até 800 mil deles ao ano. Os alemães ficaram totalmente estupefatos: eis que de repente mostravam que tinham um coração, eles, que sempre foram descritos como corações áridos. No início, sentiram até certo orgulho. Mas, quando viram chegar às portas de suas cidades milhares e milhares de estrangeiros, reencontraram um pouco de bom senso. E a popularidade de Merkel despencou como uma pedra. E Marine Le Pen, na França? Provavelmente sente um profundo amor por todos estes migrantes./ TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA GILLES LAPOUGE É CORRESPONDENTE EM PARIS
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