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Governo da Etiópia diz controlar região rebelde no norte do país; líder opositor nega cerco em Tigré

Com linhas de telefone e de internet cortadas, não é possível ter uma verificação independente dos desdobramentos do conflito; no domingo, premiê deu um ultimato de 72 horas para as tropas rivais

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Por Redação

ADIS ABEBA — O governo da Etiópia disse que suas forças controlaram a maior parte da região de Tigré, no norte do país,e que agora estão posicionadas de 50 a 60 quilômetros de distância da capital regional,Mek'ele. O líder de Tigré nega o cerco das tropas federais.

O ministro das Relações Exteriores da Etiópia e porta-voz da Força Tarefa de Emergência do governo, Redwan Hussein, afirmou que a maioria das grandes cidades de Tigré, como Axum, Adwa e Adigrat, foram capturadas da Frente de Libertação do Povo Tigré (FLPT), que governa a região, pelas forças federais.

Tanque danificado é abandonado em estrada perto da cidade deHumera, na Etiópia. Foto: Eduardo Soteras/ AFP

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"Em geral, a região de Tigré está sob o controle de nossas forças de defesa", disse ele a repórteres na capital, Adis Abeba, nesta segunda-feira, 23. "[A FLPT] está limitada a Mek'ele."

Desde o início do conflito, em 4 de novembro, a região foi isolada e as linhas de telefone e de internet foram cortadas, impedindo uma verificação independente dos desdobramentos do confronto.

A incursão do Exército em Tigré foi iniciada após meses de tensão entre o governo deferal e a FLPT, que governara por décadas o país, mas que acusa o primeiro-ministro, Abiy Ahmed, de perseguição desde que ele assumiu o cargo em 2018. 

Segundo autoridades da região, 100 mil pessoas já tiveram que deixar suas casas por causa dos confrontos. De acordo com a Reuters, cerca de 40 mil etíopes fugiram para o vizinho Sudão.

Etíopes da região de Tigré buscam abrigo em campo de refugiados no Sudão. Foto: AP Photo/Nariman El-Mofty

No domingo, Abiy deu um ultimato de 72 horas para que as forças de segurança de Tigré se rendessem, avisando que suas tropas iniciarão uma ofensiva contra Mek'ele se a demanda não for atendida.

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Um porta-voz militar, o coronel Dejene Tsegaye, afirmou também no domingo que "as próximas fases são uma decisiva parte da operação, que é cercar Mek'ele com tanques".

"Nós queremos enviar uma mensagem à população de Mek'ele para que se proteja de qualquer ataque de artilharia e se liberte da junta... depois disso, não haverá misericórdia", disse.

No Twitter, a diretora da Human Rights Watch para o Chifre da África, Laetitia Bader, afirmou que o porta-voz estava ameaçando os moradores da capital de Tigré. "Tratar uma cidade inteira como um alvo militar não seria apenas ilegal, como também pode ser considerado uma forma de punição coletiva", escreveu Bader.

O procurador-geral da Etiópia, Gedion Timothewos, afirmou que os comentários e as ações da FLPT, incluindo uma rebelião armada e o disparo de foguetes contra a região de Amhara — que apoia o governo federal e tem milícias lutando ao lado de Abiy —, são crimes graves e que as autoridades regionais podem ser acusadas de traição e terrorismo.

As afirmações sobre os desdobramentos do conflito feitas pelo governo federal são diferentes das fornecidas pelas autoridades de Tigré.

Debretsion Gebremichael, o governante da região, disse que suas forças sofreram um mínimo de baixas enquanto um grande número de soldados federais foi morto. “Até o momento, não existe esse cerco [de Mek'ele]”, disse ele em uma mensagem de texto nesta segunda-feira.

À agência de notícias AFP, Debretsion afirmou que o governo federal estava tentando encobrir as derrotas que ele teve contra a FLPT, em uma tentativa de ganhar tempo.

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"Ele [Abiy] não entende quem nós somos. Somos um povo de princípios e estamos prontos para morrer em defesa do nosso direito de administrar a região", escreveu em uma mensagem de texto.

Não há dados oficiais sobre o número de vítimas. Mas já houve relatos dos governos de que centenas de soldados dos dois lados morreram.

A Organização das Nações Unidas (ONU) e outros grupos humanitários dizem estar "extremamente preocupados" com a segurança dos mais de 500 mil moradores de Mek'ele, incluindo cerca de 200 trabalhadores humanitários, que podem ser afetados pelo conflito, disse Saviano Abreu, porta-voz do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários.

"Pedimos a todas as partes do conflito que cumpram suas obrigações de acordo com o Direito Internacional Humanitário e protejam os civis e a infraestrutura civil", disse ele em um comunicado./ AFP, REUTERS e AP

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