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Macron atribui protestos na França a redes sociais e pressiona plataformas a banir conteúdos

França vive onda de protestos após jovem de 17 anos ser morto por policial durante uma blitz de trânsito

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Por Redação
Atualização:

PARIS - O presidente francês, Emmanuel Macron, pediu nesta sexta-feira, 30, aos pais que mantenham os adolescentes em casa e culpou as redes sociais e videogames por alimentar os tumultos que se espalharam pela França após a morte de um jovem de 17 anos pela polícia. Em uma reunião de emergência na França, o presidente anunciou o envio de mais policiais para conter os protestos após mais uma noite de confrontos e incêndios contra edifícios e automóveis.

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Após o levante da noite anterior terminar com 875 detidos e 492 edifícios depredados, Macron se voltou contra as plataformas de mídia social que transmitiram imagens dos protestos, destacando Snapchat e TikTok pelo nome. Segundo ele, seu governo vai trabalhar com empresas de tecnologia para estabelecer procedimentos para “a remoção do conteúdo mais sensível”. Ele não especificou que tipo de conteúdo, mas disse: “Espero um espírito de responsabilidade dessas plataformas”.

As autoridades francesas também planejam solicitar, quando “útil”, as identidades “daqueles que usam essas redes sociais para pedir desordem ou agravar a violência”, disse o presidente. Macron participava de uma reunião de chefes de Estado da União Europeia em Bruxelas quando anunciou o retorno urgente à Paris, cancelando uma entrevista coletiva.

Presidente francês Emmanuel Macron chega para participar de uma reunião de emergência do governo em Paris após manifestações, em imagem desta sexta-feira, 30. Protestos violentos chegam ao terceiro dia consecutiva Foto: Yves Herman/Associated Press

Macron disse que um terço dos indivíduos presos na noite de quinta-feira eram “jovens, às vezes muito jovens” e que “é responsabilidade dos pais” manter os filhos em casa. “Às vezes temos a sensação de que alguns deles estão vivendo nas ruas os videogames que os embriagaram”, disse ele sobre os manifestantes.

“Faço um apelo ao sentido de responsabilidade das mães e dos pais. O papel da República não é tomar o seu lugar”, acrescentou o presidente francês.

O Snapchat permite que os usuários enviem mensagens, fotos, vídeos ou outras mensagens que normalmente desaparecem depois de serem visualizadas pelo destinatário. Os usuários também podem compartilhar conteúdo em seus “stories” que são excluídos automaticamente após 24 horas.

A porta-voz do Snapchat, Rachel Racusen, disse que a empresa aumentou sua moderação desde terça-feira para detectar e agir sobre o conteúdo relacionado aos tumultos na França. “A violência tem consequências devastadoras e temos tolerância zero para conteúdo que promova ou incite ódio ou comportamento violento em qualquer parte do Snapchat”, disse Racusen.

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“Moderamos proativamente esse tipo de conteúdo e, quando o encontramos, o removemos e tomamos as medidas cabíveis. No entanto, nós permitimos conteúdo que esteja relatando a situação real.”

Manifestações

As manifestações na França começaram na terça-feira, após o adolescente Nahel M., de 17 anos, ser morto pela polícia durante uma blitz de trânsito em Nanterre, região metropolitana de Paris. O vídeo do momento em que ele recebe um tiro à queima-roupa se espalhou nas redes sociais e contrariou a versão policial, que alegou que Nahel foi morto após tentar atropelar dois agentes. O policial que atirou contra o adolescente está em prisão preventiva por homicídio doloso.

Os protestos começaram na cidade, mas se espalharam por todo o país e provocaram confrontos com a polícia e incêndio contra automóveis e prédios. Nesta quinta-feira, manifestantes ergueram barricadas em Nanterre, acenderam fogueiras e dispararam fogos de artifício contra a polícia, que respondeu com gás lacrimogêneo e canhões de água.

Em vários bairros de Paris, grupos de pessoas lançaram rojões contra as forças de segurança. A delegacia do 12º distrito da cidade foi atacada, enquanto algumas lojas foram saqueadas ao longo da rua Rivoli, perto do museu do Louvre, e no Forum des Halles, o maior shopping do centro de Paris.

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Após a morte de Nahel, o prefeito da cidade, Patrick Jerry, disse que o país precisa “pressionar por mudanças” em bairros desfavorecidos. “Há um sentimento de injustiça na cabeça de muitos moradores, seja sobre o desempenho escolar, conseguir um emprego, acesso à cultura, moradia e outras questões da vida”, declarou. “Acredito que estamos nesse momento em que precisamos enfrentar a urgência (da situação)”.

O governo de Macron destacou 40.000 oficiais para restaurar a ordem e fazer prisões por comportamento que ele descreveu como “inaceitável e injustificável”. Ele recuou antes de anunciar o estado de emergência, uma tática usada em 2005 para reprimir tumultos após a morte acidental de dois meninos enquanto fugiam da polícia.

O ministro do Interior, Gerald Darmanin, ordenou o fim do serviço noturno de todos os ônibus e bondes públicos, que estavam entre os alvos de três noites consecutivas de agitação urbana. Além de ordenar que ônibus e bondes parem às 21h, o ministro também proibiu a venda e o porte de fogos de artifício e proibiu a venda de frascos de gasolina, ácidos e outros produtos químicos e líquidos inflamáveis.

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Teste para Macron

A escalada da crise é um teste para Macron, um líder cuja ambição no cenário mundial foi desafiada nos últimos meses por crises domésticas. E é um momento doloroso de acerto de contas para a França, já que a morte de um adolescente reacende um debate sobre raça, identidade e policiamento.

Na França, alguns viram paralelos entre a morte do jovem e a violência policial nos Estados Unidos. “Deixando de lado o contexto racial americano completamente específico, os eventos lembram o assassinato de George Floyd, um homem negro sufocado por um policial branco de Minneapolis em maio de 2020″, dizia um editorial do Le Monde publicado na quinta-feira.

O jornal pedia que a França revisasse sua Lei de Segurança Pública de 2017, particularmente as regras sobre o uso de armas de fogo. “Na França, nenhum cidadão comum, nem mesmo qualquer policial, deveria morrer durante uma parada de trânsito”, dizia.

A mãe de Nahel, Mounia, vestindo uma camiseta branca que dizia “Justiça para Nahel”, liderou um protesto em sua memória na quinta-feira, com a presença de milhares. Acredita-se que Nahel seja descendente de argelinos e marroquinos.

Celebridades francesas, incluindo o astro do futebol Kylian Mbappé e o ator Omar Sy, expressaram sua solidariedade e indignação. Assa Traoré, cujo meio-irmão Adama Traoré , um negro de 24 anos que morreu sob custódia policial em 2016, também divulgou um vídeo de apoio, traçando paralelos entre os casos e condenando a brutalidade policial e o racismo.

“Esta manhã, ele me deu um grande beijo. Ele disse: ‘Mãe, eu te amo’”, disse a mãe de Nahel, lembrando a última vez que viu o filho com vida na terça-feira. “Saímos ao mesmo tempo - ele foi comprar um McDonald’s. Fui trabalhar como todo mundo. Uma hora depois, eles me disseram que meu filho havia levado um tiro./AFP, AP e W.POST

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