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Governo Trump isenta de acusação federal policial que matou negro em Nova York

Eric Garner foi morto após receber uma 'gravata' de policial e gritar que 'não podia respirar'; caso desencadeou protestos nos EUA contra violência policial contra negros desarmados

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Por Redação
Atualização:

NOVA YORK - O governo Trump anunciou nesta terça-feira, 16, que não apresentará acusações contra o policial  acusado de asfixiar o cidadão negro Eric Garner durante uma abordagem em Nova York há cinco anos, um caso que  desencadeou uma onda de protestos em todo o país contra a violência policial.

Em foto de arquivo pessoal, Garner com alguns de seus filhos Foto: Family photo via National Action Network/AP

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Em dezembro de 2014, um grande júri decidiu não indiciar o policial branco Daniel Pantaleo pela morte de Garner seis meses antes. Durante a abordagem, motivada pela venda de cigarros que Garner fazia sem pagar impostos, a vítima foi imobilizada por cinco policiais. Depois de repetir por 11 vezes a frase "não consigo respirar", ele ficou inconsciente e morreu. 

O procurador federal do Brooklyn, Richard Donoghue, disse que a morte de Garner foi uma "tragédia terrível", mas, segundo ele, não havia provas suficientes para apresentar acusações federais de crime contra os direitos humanos contra os oficiais. 

"Sabemos e compreendemos que alguns estarão muito decepcionados por essa decisão, mas é a conclusão derivada das provas e a lei", afirmou Donoghue, em uma entrevista coletiva, a poucas horas de se prescrever os crimes dos quais os policiais poderiam ter sido acusados. 

Donoghue explicou que para acusar o policial Pantaleo, a Procuradoria deveria provar que ele utilizou a força excessivamente e tinha a intenção de atentar contra a integridade física de Garner, algo que segundo ele não foi possível provar. 

A decisão de não apresentar acusação federal contra o policial foi do secretário de Justiça dos EUA, William Barr. Segundo jornais americanos, ele decidiu ignorar o conselho de serviço competente que estimou que havia elementos suficientes para culpar o policia. 

A filha Emerald Snipes (E) e a mãe, Gwen Carr, de Eric Garner falam à imprensa após decisão Foto: TIMOTHY A. CLARY / AFP

A mãe de Garner, Gwen Carr, e o reverendo Al Sharpton, militante dos direitos civis, disseram a jornalistas que estavam indignados. "Estamos aqui com uma grande tristeza porque o Departamento de Justiça falhou com a gente", disse Carr. "Há cinco anos, meu filho disse 'não posso respirar' por 11 vezes. Hoje, somos nós que não podemos respirar, porque fomos fraudados." 

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"Pantaleo deve ser despedido", disse Sharpton. "Devem atuar imediatamente." 

Registro

"Não posso respirar! Não posso respirar!" foram as últimas palavras de Garner após a abordagem policial na Rua Staten Island. Toda a ação foi filmada por um amigo de Garner e as imagens ganharam a internet. 

Garner, acusado de vender cigarro picado ilegalmente, tinha 43 anos e era pai de seis filhos. Ele não estava armado. Se resistiu a ser preso, morreu minutos depois após a abordagem. No vídeo, é possível ver Pantaleo, de 34 anos, apertando o pescoço de Garner com o antebraço, uma manobra conhecida como 'gravata' e proibida na força policial. 

Sua morte, qualificada por homicídio por médicos forenses, deu força ao movimento "Black Lives Matter" (Vidas negras importam), que denuncia a violência policial contra negros desarmados, e levou a manifestações a todo o país. 

Segundo os exames forenses, a manobra do policial contribuiu para a morte de Garner por asfixia, mas sua obesidade, alta pressão sanguínea e asma também contribuíram. 

"Nossos olhos não mentiram" 

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"O mundo inteiro assistiu ao vídeo devastador há cinco anos e nossos olhos não mentiram", disse a procuradora-geral do Estado de Nova York, Letitia James, eleita ao cargo e não vinculada diretamente ao governo federal. 

"A falta de ação hoje reflete um Departamento de Justiça que deu as costas para sua missão fundamental que é a de buscar e fazer justiça", assegurou James. 

O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, também demonstrou descontentamento e anunciou que o organismo independente que recebe as reclamações contra a Polícia e os investiga jão não espera uma decisão do governo federal para iniciar procedimentos disciplinares. 

"Há alguns anos, confiamos que o governo federal atuaria. Não cometeremos esse erro novamente", disse De Blasio. 

Em última análise, quem decide se o policial - transferido para trabalhos administrativos - pode continuar atuando é o chefe da polícia de Nova York, James O'Neill. Mas primeiro aguarda o veredicto de um juiz administrativo da polícia sobre o caso. / AFP 

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