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Crise na Ucrânia: entenda a posição de cada país na crise entre Rússia e Otan no Leste europeu

Diplomatas e líderes mundiais fazem maratonas de negociação para evitar guerra na Europa

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Por Claire Parker
Atualização:

KIEV - Enquanto a Rússia posiciona 100 mil soldados em sua fronteira com a Ucrânia e os Estados Unidos e o Reino Unido enviam tropas para a região, diplomatas e líderes mundiais se reúnem em uma maratona de negociações para evitar que o conflito se torne uma grande guerra terrestre na Europa.

Aqui está um guia para as posições dos principais atores internacionais na crise:

Militares russos participam de exercícios militares na região de Krasnodar. Foto: EFE/EPA/RUSSIAN DEFENCE MINISTRY PRESS SERVICE

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Estados Unidos

A crise pode ser entre a Rússia e a Ucrânia – e englobar a Europa por extensão – mas os Estados Unidos continuam sendo um ator central.

Washington manteve seu apoio à “soberania e integridade territorial” da Ucrânia, como disse o secretário de Estado, Antony Blinken, ao ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, por telefone na última terça-feira, 1. Os Estados Unidos enfatizaram repetidamente seu compromisso com a política de portas abertas da Otan, que permite que os países busquem entrar no bloco.

O presidente russo, Vladimir Putin, acusou os Estados Unidos e a Otan de usarem a Ucrânia como peão em um esforço maior para restringir a Rússia, e a guerra de palavras entre Moscou e Washington se acirrou nesta semana.

O Kremlin está estudando as respostas dos EUA e da Otan às recentes propostas do Kremlin, disse o líder russo em uma entrevista coletiva em Moscou na terça-feira, “mas já está claro que as preocupações fundamentais da Rússia foram ignoradas”.

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Preocupados com a possibilidade de uma ofensiva russa como aquela que resultou na anexação da Crimeia pela Rússia em 2014, as autoridades dos EUA enfatizaram aos colegas russos que um ataque teria “consequências rápidas e severas”, incluindo sanções abrangentes.

Os Estados Unidos – que deram à Ucrânia mais de US$ 2,7 bilhões em assistência militar desde 2014 – aumentaram os envios de armas e equipamentos nas últimas semanas. O governo Biden está enviando 3 mil soldados para a Europa Oriental, enquanto tropas adicionais permanecem de prontidão, informou o Washington Post na quarta-feira.

Ainda assim, não está claro até onde os Estados Unidos irão no caso de uma nova invasão russa. O público americano está cansado da guerra, e as autoridades dos EUA deixaram claro que nenhuma tropa dos EUA será enviada para a própria Ucrânia.

Reino Unido

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O Reino Unido é um firme defensor da Ucrânia e acusou a Rússia de conspirar para derrubar o governo ucraniano.

Em uma visita a Kiev para se encontrar com Zelenski na terça-feira, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, alertou os cidadãos russos sobre o potencial custo humano da guerra e instou a Rússia a buscar uma solução diplomática para a crise.

O Reino Unido enviou armas antitanque para a Ucrânia e está se preparando para fornecer tropas adicionais à Otan. A secretária de Relações Exteriores, Liz Truss, disse à Sky News no domingo que o governo estava preparando sanções mais duras contra a Rússia. Mas o status de Londres como paraíso para oligarcas russos pode minar a posição dura do governo britânico com a Rússia.

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Enquanto isso, Johnson, que tentou conquistar um novo papel internacional para o Reino Unido após o Brexit, está lutando por sua vida política em casa. Ele precisou adiar uma ligação com Putin na segunda-feira, enquanto lidava com as consequências de uma investigação sobre festas em Downing Street durante a pandemia de coronavírus.

Os dois líderes falaram por telefone na quarta-feira. Putin criticou a relutância da Otan em aceitar as exigências da Rússia, de acordo com um comunicado do Kremlin sober a ligação.

Alemanha

Países europeus como Holanda e Dinamarca reforçaram o apoio à Ucrânia com promessas de segurança cibernética ou assistência militar.

A Alemanha adotou uma abordagem mais cautelosa. Até agora, Berlim descartou fornecer armas defensivas à Ucrânia, oferecendo na semana passada o envio de um carregamento de 5 mil capacetes. A proposta inspirou memes nas redes sociais, e o prefeito de Kiev a considerou “uma piada absoluta”. O embaixador da Ucrânia na Alemanha repreendeu Berlim por lançar “pura política de apaziguamento”.

A maior economia da Europa expandiu seus laços comerciais e energéticos com Moscou nos últimos anos e enfrenta dúvidas sobre o gasoduto Nord Stream 2, de US$ 11 bilhões, construído para transportar gás natural da Rússia para a Alemanha. O gasoduto ainda não está operacional, mas a Alemanha e a Europa em geral já dependem fortemente do gás da Rússia.

A questão apresenta um teste inicial para o chanceler de centro-esquerda da Alemanha, Olaf Scholz, cujos social-democratas tradicionalmente promovem a reaproximação com a Rússia. O novo governo também adotou uma política de exportação de armas mais restritiva. A ministra das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, no entanto, alertou Moscou contra a agressão à Ucrânia.

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Autoridades dos EUA pressionaram Berlim a adotar uma postura mais forte. Scholz disse no mês passado que a Alemanha consideraria interromper o Nord Stream 2 se a Rússia invadir a Ucrânia.

A Alemanha e a França também retomaram na semana passada as conversas pessoais com a Rússia e a Ucrânia sobre a implementação dos acordos de Minsk, que visavam – até agora, sem sucesso – interromper os combates em andamento no leste da Ucrânia.

O presidente francês Emmanuel Macron conversou com Putin por telefone duas vezes nos últimos dias, buscando se posicionar como líder da Europa em assuntos internacionais após a aposentadoria da líder alemã Angela Merkel.

Hungria

A decisão do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, de se reunir com Putin em Moscou na terça-feira causou desconforto em casa e no exterior. Os líderes da oposição descreveram a viagem como “traiçoeira”.

Orbán tem uma famosa propensão a criticar a União Europeia, embora a Hungria faça parte do bloco. Ele também pretende importar mais gás da Rússia. A Hungria, que tem visto tensões com a Ucrânia nos últimos anos, adotou uma postura mais branda na crise do que outros países da Otan.

“A Hungria é interessante porque Viktor Orbán realmente construiu um relacionamento muito bom com Moscou, comparativamente, e tende a ser um pouco atípico”, disse Olga Oliker, diretora de programas para Europa e Ásia Central do International Crisis Group. “Vale a pena acompanhar para ver onde a Hungria vai nisso.”

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Orbán, que enfrenta uma eleição difícil em abril, classificou sua visita à Rússia como “missão de paz”. Após sua reunião de quase cinco horas com Putin na terça-feira, ele enfatizou a importância do “respeito mútuo” e pediu a continuação do diálogo entre a Rússia e o Ocidente.

Putin, enquanto isso, chamou a Hungria de “um dos parceiros mais importantes da Rússia na Europa”, citando uma importante colaboração em energia nuclear.

Polônia

A Polônia compartilha uma fronteira com a Ucrânia e um histórico de agressão russa. O país viu o acúmulo de forças russas fora da Ucrânia como um sinal ameaçador de que, se ocorrer um ataque à Ucrânia, a Polônia pode ser a próxima.

O primeiro-ministro polonês Mateusz Morawiecki visitou a capital ucraniana na terça-feira para prometer o apoio de seu governo contra o “neoimperialismo russo”, prometendo ajudar a Ucrânia com combustível, armas e ajuda humanitária e econômica. Ele disse que Polônia, Reino Unido e Ucrânia estão trabalhando para fortalecer a cooperação de três vias, informou a agência Reuters.

Países do Mar Báltico, como a Polônia -- um membro da Otan que abriga cerca de 4.500 soldados dos EUA -- temem que os países ocidentais concordem em restringir sua presença militar em áreas próximas às fronteiras russas, disse Oliker.

China

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Putin deve viajar a Pequim para as cerimônias de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno nesta sexta-feira. Lá, ele se encontrará pessoalmente com o presidente chinês Xi Jinping pela primeira vez em quase dois anos – e a Ucrânia estará na agenda.

Na semana passada, o Departamento de Estado pediu a Pequim que pressionasse por uma solução diplomática para a Ucrânia. Mas a China deve se beneficiar da crise na Ucrânia, informou o Washington Post. A situação desviou a atenção das violações de direitos humanos no país, e as sanções ocidentais à Rússia podem criar oportunidades de negócios. A cooperação comercial e de defesa entre os dois países cresceu nos últimos anos.

Xi e Putin têm uma ambição comum: expandir sua influência internacional e combater os Estados Unidos. E sobre o acúmulo militar russo perto da Ucrânia, a China até agora mostrou-se disposta a defender Moscou. O ministro das Relações Exteriores da China disse a Blinken em um telefonema em 30 de janeiro que as preocupações da Rússia deveriam ser levadas a sério.

Ainda assim, a China provavelmente não está interessada em ver uma erupção de conflito armado, dizem os especialistas – em parte porque compra uma grande quantidade de equipamentos militares da Ucrânia.