Mas, naquela noite, uma outra milícia cristã, conhecida como Falange, invadiu sua gigantesca propriedade e matou quase todos os seguranças. Em seguida, assassinou o cachorro. Depois, a filha, seguida pela mulher. O último a ser executado pela facção cristã rival foi o próprio Tony. O episódio ficou conhecido como Massacre de Ehden.
Suleiman, correndo risco de vida e agora órfão, foi levado para Damasco, onde viveu por anos protegido pela família Assad, de quem é ainda muito próximo. Voltou ao Líbano e, depois da Guerra Civil, foi deputado e ministro uma série de vezes. Nas últimas semanas, despontou como favorito para ser presidente do Líbano.
O cargo de presidente libanês está vago há mais de um ano e meio. O Parlamento, responsável pela escolha, precisa chegar a um consenso sobre quem pode ser o presidente que, por convenção, precisa ser cristão maronita.
Ao longo deste período, houve uma polarização. De um lado, Michel Aoun, um carismático ex-general e mais popular líder cristão do Líbano. Aliado do Hezbollah e de outros grupos xiitas e cristãos na coalizão 8 de Março, como a AMAL, passou anos no exílio na França por ser contra a ocupação síria do Líbano, mas voltou ao país em 2005, se aliando justamente aos seus algozes do regime de Assad. Também tem o apoio do Irã e da Rússia.
Do outro lado, está Samir Geagea, líder miliciano cristão da Guerra Civil, responsável por liderar o massacre contra a família Frangieh (ele diz que se feriu antes das mortes). Passou 11 anos em um calabouço por outros crimes na Guerra Civil. Embora seja extremista cristão, é aliado de facções sunitas e algumas cristãs da coalizão 14 de Março. Tem apoio da Arábia Saudita.
Nenhum dos dois consegue maioria parlamentar porque drusos seguidores de Walid Jumblat, o fiel da balança, não aceitam nenhum dos dois nomes, pois avaliamque eles polarizariam muito a sociedade libanesa. EUA e França defendem apenas um nome de consenso para manter a estabilidade.
Neste contexto, surgiu o nome de Frangieh. Sunitas e xiitas não teriam muitos problemas com ele. A Síria e o Irã o vêem como um aliado. Falta o aval da Arábia Saudita e, claro, dos rivais cristãos Aoun e Geagea. Não será uma tarefa fácil.
Apenas como curiosidade, assim como o presidente e o chefe das Forças Armadas precisam ser cristãos maronitas, o premiê precisa ser muçulmano sunita; o presidente do Parlamento, muçulmano xiita. Metade do Parlamento tem de ser cristão (maronita, grego-ortodoxo, Melquita, assírio, Siríaco, armênio-orodoxo, armênio-católico, católico-romano e protestante ) e metade precisa ser muçulmano (sunita, xiita, alauíta e druso). O mesmo vale para os cargos no Ministério.
Calcula-se que entre 35% e 40% dos libaneses sejam cristãos. Este número subiria para mais de 60% se levarmos em conta a Diáspora libanesa. Não há censo oficial.