Irã diz que pode enriquecer urânio em ´escala industrial´

Embora presidente não tenha especificado o número de centrífugas em operação, negociador nuclear confirmou a injeção de gás de urânio em um conjunto de 3 mil

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Por Agencia Estado
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O Irã anunciou na segunda-feira, 9, ter iniciado a "fase industrial" de sua produção de combustível nuclear, com a ativação de uma série de centrífugas para o enriquecimento de urânio. Com a expansão, o governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad volta a desafiar o Conselho de Segurança da ONU, que exige dos iranianos a suspensão de tais atividades. "Com grande honra, eu declaro que hoje (segunda-feira) nosso país entrou para o clube das nações que podem produzir combustível nuclear em escala industrial", disse Ahmadinejad durante uma cerimônia na usina nuclear de Natanz. Embora o presidente não tenha especificado o número de centrífugas em operação, o principal negociador nuclear iraniano, Ali Larijani, confirmou a injeção de gás de urânio em um conjunto de centrífugas de enriquecimento que contaria com 3 mil unidades - sem especificar, entretanto, quantas efetivamente já estão em operação. Esta é primeira vez que o país confirma ter instalado um grande conjunto de equipamentos utilizados para a produção de combustível nuclear. Até então, o Irã só havia admitido a existência de 328 centrífugas em operação. Potências ocidentais lideradas pelos EUA suspeitam que o programa nuclear iraniano tenha por finalidade desenvolver armas atômicas. O Irã diz que usará essa tecnologia com o fim exclusivo de gerar eletricidade. Segundo especialistas ocidentais, com as 3 mil centrífugas, o país conseguirá dentro de um ano fabricar material suficiente para montar uma bomba. Ainda assim, analistas americanos disseram-se céticos em relação ao anúncio iraniano, argumentando ser improvável que o Irã realmente já tenha a capacidade de operar tantos equipamentos, pois trata-se de um processo altamente complexo. Reações As reações ao anúncio foram imediatas, com os Estados Unidos e a União Européia condenando a ousadia do governo iraniano, alvo recente de uma série de sanções impostas pela ONU. Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado disse que as ações do Irã são as razões para que o Conselho de Segurança da ONU e Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) "não acreditem nas afirmações iranianas de que seu programa nuclear tem natureza pacífica". Já para o ministro das Relações Exteriores da Alemanha - país que preside a União Européia nesse semestre -, a atitude do Irã mostra que o país está "definitivamente no caminho errado". A insistência em manter seu programa de enriquecimento de urânio fez com que o Irã se torna-se alvo de recentes sanções impostas pela ONU. Em dezembro, o Conselho de Segurança do organismo multilateral impôs restrições limitadas à República Islâmica. As medidas foram ampliadas no mês passado, e um novo prazo foi estabelecido para a um possível recrudescimento no final de maio. Abertura Apesar da postura desafiadora, Larijani disse que o governo iraniano está aberto a retomar as negociações, mas rejeita suspender previamente o programa de enriquecimento de urânio, como exigem as potências ocidentais. Ele afirmou que o país quer dar garantias de que seu programa nuclear é pacífico, mas ressaltou que o Ocidente deve aceitá-lo como um "fato". "Estamos prontos para negociar e chegar a um acordo com os países ocidentais a fim de acabar com a preocupação deles a respeito do Irã, mas isso sem colocar fim a nosso desenvolvimento científico", disse Larijani. Dia nacional No dia 9 de abril de 2006 o Irã anunciou ter enriquecido urânio pela primeira vez, utilizando um conjunto de 164 centrífugas. Um ano depois, nesta segunda-feira, iranianos em todo o país comemoraram o "dia nacional da energia nuclear". Entre as comemorações, o governo chegou a enviar mensagens de texto de congratulação para milhões de usuários de telefone celular. Em Teerã, cerca de 200 estudantes formaram uma corrente humana ao redor da Organização de Energia Atômica. Os manifestantes cantavam "morte à América" e "morte à Grã-Bretanha". Bandeiras dos EUA e do Reino Unido foram queimadas. Texto ampliado às 14h11, para acréscimo de informações

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